26 dezembro 2007

Em Canto de Ontem

Relembra e se esquece.
Revive e apenas padece.
Cantou ontem,
Hoje não recorda a letra.

Escreveu no papel de pão.
Passou a limpo na folha de caderno.
Sujou os dedos com a tinta da caneta.
Mas, mesmo assim, ainda digitou.

Os olhos na tela.
As mãos no teclado.
O sorriso calado.
E a certeza que se renovou.

Não importa o que passa.
Não importa o que faça.
Se canta, se encanta ou se esquece.
Se finge, se faz, ou se cresce.

Não recorda.
Acorda.
Muda o olhar.

Não busca.
Assusta.
Aprende a sonhar.

24 dezembro 2007

A Civilização Sem Serventia

Imagine uma civilização sem porteiros, garçons, taxistas, pedreiros, serventes, babás, cozinheiras, domésticas...
Imagine que todas essas pessoas deixaram seus respectivos empregos e ingressaram em faculdades, pois ávidas por leitura e conhecimento, passaram em testes cada vez mais concorridos nos vestibulares das universidades públicas mais conceituadas do país.
A Fuvest nunca teve um número tão grande de aprovados com a mesma origem: Favelados.
Sim, a maior parte destes alunos que foram habilitados vem das extremidades da cidade de São Paulo, mais especificamente do bairro do Capão Redondo.
Tudo começou com algumas movimentações de alguns moradores, que, indignados, começaram a botar a cara à tapa (mais do que já apanhavam no dia-a-dia) e mostraram que naquele bairro existe força, existe subversão.
Desculpe, me enganei.
Não é naquele bairro... É neste bairro, o meu bairro.
Que porra é essa de Vida Loka?
Que facção é essa?
E esse lance de 1daSul?
Pobre agora pode ter sua marca e sentir orgulho da quebrada que mora?
Quem é esse maldito Ferréz?
Será que o cara ficou louco e quer juntar um exército contra a elite branca?
Se pá ele quer, hein!?
Esses dias, ao voltar da loja mais freqüentada do bairro, a 1daSul, tive uma visão meio que fantasiosa.
Fiquei a imaginar o potencial de todos aqueles que já usam algum tipo de modelo da grife, que compartilham as idéias e ideais do mano Ferréz e dos outros vários manos do Hip-Hop.
Imagine se todos esses caras começarem a participar dos saraus de “Literatura Marginal” organizados pelo escritor, que já tiveram participações de pessoas consagradas “da ponte pra lá”, como o músico e poeta Arnaldo Antunes, e a apresentadora, jornalista e vereadora Soninha Francine, que no ano de 2008 se candidatará a prefeita da maior cidade da América do Sul.
Agora pense na maior periferia desta cidade agindo como aqueles que estão do outro lado da cidade. Usando as bases legais, o conhecimento, a união de seus moradores para pressionar e questionar as forças do Estado. Deixando atordoado todo e qualquer ser que tentar manipular ou burlar os interesses e direitos deste povo.
Após o boom de discernimento, o porteiro virou síndico; O garçom agora é o chefe de cozinha; O taxista se tornou o dono da linha de uma frota que atende exclusivamente na periferia, facilitando o acesso das pessoas e barateando o serviço na quebrada; O pedreiro hoje estuda para a prova de engenharia civil do segundo semestre da faculdade; As serventes e as babás se uniram e hoje são Administradoras das creches do bairro, ganhando uma grana e ajudando cada vez mais as mães que não tem onde deixar seus filhos, mostrando que agora as creches tem mais recursos para auxiliarem as mulheres a se tornarem a passos largos independentes, e em muitos casos, extremamente mais eficazes que o serviço prestado por seus maridos; As cozinheiras pressionaram o Estado e triplicaram o número de restaurantes populares, no qual começaram a chefiar. Os restaurantes da região a princípio chiaram devido à concorrência subsidiada, mas depois entenderam a causa, e com a ajuda da associação comercial do bairro, que enfim se mostrou forte,começaram a vender suprimentos para esses restaurantes do governo. O que aumentou em 200% suas receitas, e fez com que o número de empregos concedidos também dobrasse; As domésticas se uniram por meio de seu sindicato, e exigiram um piso salarial 500% mais alto. Resultado: a procura por este serviço diminuiu consideravelmente, mas o desemprego não cresceu. Simples: cerca de 10% das que foram efetivadas firmaram acordo de doar uma parte do salário ao sindicato. Não era uma doação obrigatória. Mas o sindicato fez um trabalho de conscientização, que elas mesmas acharam desnecessário, pois se os representantes do sindicalismo pediam 10%, elas doavam 20%, pois sabiam que este dinheiro era transferido diretamente aos fundos de apoio às domésticas desempregadas.Todas elas ganhavam 50% de desconto de um curso universitário bancado pelo sindicato no primeiro ano, mais a certeza do acordo com a Faculdade da Sul, que subsidiaria o restante do curso.
A mesma faculdade, foi obrigada a se integrar ao serviço de Recursos Humanos do Estado, devido à lei aprovada pelo deputado e Rapper Mano Brown, que “apoiado por mais de 500 mil manos”, conseguiu uma histórica eleição a assembléia legislativa. A lei exige de todas as instituições de ensino superior da cidade de São Paulo, o apoio à inclusão no mercado dos alunos oriundos das bases ainda periféricas da cidade, em troca disso, o Estado barganha um vantajoso desconto, e, em certos casos, a isenção completa do imposto de renda.
Lógico, tudo isso com o apoio da União, que também sofreu com a vingança de quem até então era marginal, preto ou pobre.
Imagine tudo isso!
Aproveite e ouça ao fundo “Vida Loka II” dos Racionais, pare a música bem na parte em que o Brown é interpelado e alguém diz “How...how.. Brown acorda sangue bom, aqui é Capão Redondo, tru, não pokémon. Zona sul é o invés, é stress concentrado, um coração ferido, por metro quadrado”. Neste momento acorde você. Leia o “Capão Pecado”, “Ninguém é Inocente em São Paulo”, “Manual Prático do Ódio”, ou qualquer outro livro que te deixe puto com a submissão que passamos.
Lembre-se que quem mora no Capão já está uma hora atrasado pra chegar a qualquer lugar da cidade. E aí, vai ficar choramingando?
É hora de acordar.
Hora do levante da quebrada se unir, e pôr fim a essa escravatura branca.
Quem sabe o outro lado da ponte torne-se uma civilização sem serventia e dê valor à explosão cultural que acontece do outro lado da cidade?

“A Revolução depende menos da força das armas e mais da ponta do lápis ou do bico da caneta; mais do saber dos livros e menos do fogo dos canhões. A educação e a cultura são estratégicas para as transformações sociais e econômicas no mundo globalizado.”

Fidel Castro

22 dezembro 2007

Criadores

Quando o criador sente que perdeu sua obra para o mundo, tira alguns minutos em seu canto, encosta os dedos sobre as pontas de cada fio de cabelo, e, inquieto, respira e se põe a refletir.
Tranqüiliza sua mente ao ver o sorriso em sua obra.
Não importa se é sincero ou não. Sabe que é um sorriso.
Ele que já viu, por tantas e tantas vezes, a expressão da derrota na face de sua obra-prima, sabes que chegou uma nova etapa.
Mais uma vez não pensa o quão duradoura será esta empreitada, apenas a respeita.
Se a felicidade pede para habitar outro lar, não importa mais nada. Deixa que ela o habite.
Não se trata de derrota. Apenas segue a ordem natural das coisas.
Confessa que quando fica ausente de seus sonhos, se distancia do avesso que um dia foi proposto.Sem prosa, sem poesia, sem linguagem, não passa de espera por uma nova sintonia.
Dá alguns passos.
Pára num bar celestial...
Bebe todas as águas como se fossem cervejas;Grita como se fosse a última vez que sua voz fosse sair;Canta como se fosse um pássaro sabiá... E olha para o rio...Como se ele realmente fosse perfeito...
Quase não enxerga os peixes.
Continua a acreditar que o sorriso é o mérito a voz de sua obra: doce e racional. Ácida e sentimental. Decidida e carente. Virtuosa e Dolorida.Mesmo assim, descobre que o verbo não faz mais parte de sua poesia.Mas não se intimida.
Esquece os erros, saúda a tua conquista e em uma prosa que continua a ser escrita, compartilha em silêncio a tua merecida alegria, afinal, já sabe quem és tu, criatura.

Game Over

Não acredite nas verdades que lhe prometeram, pois elas simplesmente são mentiras repetidas incessantemente, até que a nossa vontade de crer que estamos no caminho certo nos conduza a um abrigo genuíno.
Esse refúgio, muitas vezes conhecido pelo termo utopia, é a expressão mais covarde a qual podemos creditar qualquer tipo de fé.
Baixo, mesquinho, ingênuo, comete sempre os mesmos erros e ainda tem o dom de acalentar o ambiente, com doses de esperança, que concedem à consciência do indivíduo a sensação de que da próxima vez, uma mentira bem contada, bem elaborada em seu cinismo poderá deixar o horizonte um tanto quanto nítido.
Engano.
Entre a nebulosidade e a escuridão, residem as promessas vazias que se contradizem. Tolas, ainda tentam reformular suas palavras falsas, e com artimanhas capciosas ao pé do ouvido, praticam o jogo da mentira.
Peço licença para mentir.
Quero acreditar em mim só mais uma vez.
Chega de depender da boa vontade de quem joga.

06 dezembro 2007

Amanhã

É amanhã.
Deixe a manhã ostentar suas cores, o sol dizer bom dia, a primeira brisa refrescar sua alma, enquanto só pensas nos sonhos que quer viver à noite.
Um abraço.
Conte aos seus anseios em seus braços, que és forte e que assim continuará, até que o último trago de esperança a embebede num porre doce como o sangue daquele salvador que transformou a sua angústia em vinho.
Cante.
Decante o encanto de suas palavras em harmonia com teu espírito indeciso, que a partir da consolação se sentirá mais perto do conflito que tanto a persegues e que hoje tanto desejas.
Fale.
Falhe ao tentar ser mentirosa. Diga somente a verdade, pois foi por meio dela que conquistou a confiança de quem lhe desejou desde o primeiro instante, desde o primeiro e cativante sorriso.
É amanhã.
Me abrace.
Me cante.
Me fale.
Me faça acreditar.

29 novembro 2007

Entre Preâmbulos e Epílogos

Eis o preâmbulo tacanho de uma amável dor.
Corrói o coração em incomensurável lástima;
Refuta a ânsia de ser tenaz e austero. Único,
Deslumbra-se com a visão de um ermo hostil.

Tua bravata, tua fiel e inseparável concubina,
Abandona teu olhar. A luz da noite, converge
À quimera torpe da esperança.Quase fracassa,
Mas, a sua estupidez, se fortalece com tolices.

Acredita em si, mas deverias desistir do mundo.
Renuncia velhos conceitos, e avigora-se, solitário.
Dá seus passos, e, sozinho, enfim se encontra.

Não foi Deus. Tampouco, os seus intercessores.
Talvez a primeira e exclusiva dádiva conquistada.
Paradoxal, talvez o epílogo de uma dor amável.

E o jogo começa ...

Olhos nos olhos... Uma respiração mais pesada... Um toque em conjunto com isso tudo... Um cheiro... Isso é bom... Ah como isso é bom.
Lendo “Cem Anos de Solidão” lembra-se das técnicas de sedução.
Perde-se na leitura, mas retoma, desta vez, um pouco mais concentrada.
Entre uma letra e outra, entre um carro e outro, ela observa os carros desgovernados, que passam rente ao calçadão, assustando sua leitura habitual. Volta às palavras.
É apenas o princípio. Não sabe se terá meio de sair, ou meio de domar, mas procura com afinco, não chegar ao fim. Se Maquiavel estava certo ao dizer que “os fins justificam os meios”, quer se perder no caminho, e usar todas as ferramentas do meio para, enfim, ter seu novo sonho.
Lembra de princesas que adormeceram.
Nem Eros nem Psique podem ajudá-la.
Na cidade dos prédios cinzas, do céu cinza, dos sorrisos acizentados, descobre que as cores de Almodóvar, estão vivas em teu coração. Uma tela um tanto quanto abstrata, mas inegavelmente quente.
Pega as fotos e dá de presente.
Tirou a noite para contemplar e ser dádiva.
Lábios doces e imponentes.
É ela.
Que sai da distância.
Que se move do horizonte.
Se aproxima, e não merece sair.
Olhos nos olhos... Uma respiração mais pesada... Um toque em conjunto com isso tudo... Um cheiro... Isso é bom... Isso é bom... Ah como isso é bom.

27 novembro 2007

Jogadores

O meu canto é pouco
Feito louco, tento me entender.
Na minha loucura,
Não a vejo a cura que vem no amanhecer.

E se noite cai,
Não me leva e não vai me derrubar.
A lua que fique lá,
Se quiser, me ilumine.

O sol está de licença.
Quem canta, nem sempre encanta.
E quem joga,
Nem sempre vence.

Os delírios de quem entra em campo,
Não são as verdades de quem torce.
Às vezes os erros são válidos,
Mas as vitórias são essenciais.

Se é pra observar de longe,
Que tire o melhor.
Que analise todos os pontos fracos do adversário.
E que, após essa análise, tenha foco.


Se o foco se desfocar,
Se o jogador não jogar,
Se o canto não ecoar,
A cura virá no amanhecer.

Apruma-se sem querer
E quando menos se espera.
O jogo começa, e você...

Nem da conta que está em campo.

21 novembro 2007

Rascunhos

Não existem palavras que empulhem o que sinto.Provavelmente, se esconderam ou se acovardaram, graças à preguiça de existir e abraçaram o silêncio.Ao olhar na janela, confronto-me com a noite, que balbucia uma agradável paz.
Era para ser tormento, caos, com pitadas de desilusão, mas o que está na mesa, não lembra os tempos de outrora.Este sabor, que entrou pela janela sem ser convidado, não tem pimenta, não tem fel. É seco.
Pondera, pensa, acalma. Puxa uma cadeira, e coloca no prato a tranqüilidade. Serve-se e lembra que ainda serve para muita coisa.
Toda essa calmaria confunde-se com a nossa racionalidade.Pena que a razão é burra, pois esquece seus princípios dúbios de qualquer simples existência. E não adianta chamá-la de teoria. Não basta comparar ao relativo. Sou mais a emoção que nunca se confunde. Não promete segurança.Foi feita desde os primeiros esboços do tempo, para ser desfeita. Dizem que os artistas são inconstantes e que sempre criam maravilhas.Discordo.
As maravilhas são inconstantes e, sempre destes conflitos, criam-se artistas. Tranqüilos, empulham palavras, e com a alma em silêncio escrevem rascunhos de felicidade.

11 novembro 2007

Notas

A nota que hoje tento tocar, já não tem som. Abafada pelo sopro de esperança, e pelo sol,
perde-se ante a luz, que em ré e na contramão dos sentimentos tolos das melodias de amor
sempre diz as mesmas impugnações sem rumo, os mesmos balbucios e limitações.
Porque o fracasso não é aceito? Será que a sociedade vencedora é a responsável? Vai culpar o capital? A direita conservadora? Por que não admite que foi impotente diante de uma realidade que não era nada sonhadora?
Ser de esquerda, libertário, retrógrado ou apolítico não minimiza a dor de quem ama, ou de quem perdeu um amor em potencial.
A solidão sempre volta e num tem Marx ou Ford que esteja ao lado do travesseiro. A cama continuará vazia. Lágrima ou suor, insônia ou depressão, saudade ou solidão. Não importa: A cama segue em busca de um par.
Ser ímpar o lembra dos tempos de individualidade, da busca incessante pelas coisas que tinha. Era bom aquele tempo em que esquecia dos sonhos e solitariamente pensava nas coisas. O seu materialismo era vital. E esse sentimento pelo ter, que o afastou da besteira que é o fato de acreditar nos relacionamentos humanos.
Hoje não tem nada.
Não tem grana em suas mãos. Não há capital de giro para se reerguer, e muito menos para comprar a sua felicidade.
Sozinho abraça a solidão e reflete.
Sabe que será por uma pequena eternidade, pois nunca deixa que o tempo o espanque e devore a vontade de se reerguer.
E nessa pequena eternidade que minuciosamente recolhe seu orgulho e toca uma canção manjada, que até a noite deixa o sol brilhar sem dó.

02 novembro 2007

Mesmo Proceder

Esse é o caos que um dia tentou não se apresentar. Refugiava-se nos olhos daqueles que seguravam lágrimas torrenciais. Em silêncio, era o reflexo do que estava perdido e do que ainda estava por se perder. Palavras, anseios, devaneios, lembranças. Tudo se completa e se dispersa em um mesmo proceder.
Recorda do tempo em que a esperança era mais forte que a dor.
Sabe que não é apenas o teu olhar que vaga sem rumo... Um pouco de sua vida, também se perdeu. Uma parcela de sua essência se foi. E mesmo que esbanje um sorriso jubilar a partir de amanhã, não terá volta o que se foi, quem se foi.
Mas não é essa constatação que o deixa propenso a acreditar na tristeza.
A aflição que rebateu seu coração deixou o aprendizado, de que não adianta resmungar pela perda. Basta lembrar do que fomos beneficiados, e como o fomos. Não perdemos, conquistamos.
Cada momento vivido ao lado de quem nos deixou, quando lembrado com fé e de forma positiva, passa a ser um momento de luz, uma reminiscência feliz. Um aprendizado constante.
Se em sonhos ainda a sentimos, na realidade somos o legado que ela deixou.
O caos se transforma em paz e isso ninguém mudará. E essa paz, essa certeza, essa felicidade, não há marginal que tire de nós.

30 outubro 2007

Cláusulas Negras

"Maridoooooooo !!!!!
A família bororé foi uma das melhores coisas q me aconteceram... não só pelas causações(q são fortes rsr) mas também por ver em vcs, pessoas maravilhosas e amigas de verdade... Vamos causar sempre e que nossa amizade dure longos anos.. "

Pri em - 16/08/05



- Sobe!

- Cacete! Que merda estou fazendo aqui?

- Falou alguma coisa aí, guria? Retrucou o primeiro fiscal.

- Não. Não senhor.

Olhava incrédula ao horizonte, enquanto via o homem com uma ficha na mão. Uma imensa lista com os nomes da leva do último final de semana. Aos poucos começava a entender o porquê das asas.
Ainda podia ouvir os últimos resmungos e choramingos dos que ficaram, e que tiveram sua primeira noite de sono abalada pela lembrança de uma tarde que irá doer por um bom tempo.
Após a última lágrima se secar, pode enfim entrar na sala reservada para a sua primeira noite no paraíso. Ou melhor: foi mesmo para o paraíso? Com que autoridade?
Felizmente, não entrou no mérito dessas questões, pois quando percebeu que poderia não estar na lista dos que subiriam, simplesmente apontou para as suas obras para um dos fiscais, que prontamente foi advertido pelo supervisor do turno. Este abriu uma extensa ficha das causas e coisas que ela fez. Coisas que ela, até então, achava que não contava ponto.
Um sorriso; um abraço; uma bronca de amigo; um conselho de irmã; um olhar de quem ama; um sorriso de quem protege; uma carona de quem cuida.E foi assim que se despediu de sua breve passagem, dando carona aos que amava.
Partiu no exercício de sua bondade, e mesmo sem saber ao certo se era a tua hora de estar naquela fila, sabia que ao menos não tinha razões para se arrepender de suas escolhas.


- Trás Mais alguém?

- Dá pra dar uma segurada , não?

- Sim, minha filha. Concorda o homem da barba negra.

- Mas o senhor é preto?

- Num era você que sempre reclamava do racismo e agora está piando?

- Não. Longe de mim. É que eu mal acredito nisso. É bom demais.

- Pois bem, lá em baixo vocês fazem uns planos que não condizem com a minha lógica. Ouvi muito que “eu tinha planos diferentes” ou que “tinha que ser com ela”.A verdade é que absolutamente todos os seres que se dispõem a viver estão sujeitos a morrer. Eis uma das cláusulas garrafais do contrato de livre-arbítrio.
Você não leu o teu?

28 outubro 2007

Antídoto

Dedica-se à ser um antídoto meu.
Não espera seguir receitas e conselhos, apenas segue.Espera que deixe em mim o melhor, que possa me deixar mais leve, e que estar ao meu lado me dê a impressão de que tudo é possível, de que pode ir à qualquer lugar, a qualquer hora – sem pretensão; Deixa de ouvir por alguns instantes. Mas o que poderia escutar de tão significativo?De uma forma ou de outra, invadi a tua vida e espero que a impressão da minha presença seja essa, a que temos agora; e se tiver que mudar, que seja para um grau acima.Apesar de ter perguntado se podia te dobrar e guardar em mim, já havia feito e nem percebido [minha leseira habitual].Sim, também já fui contagiado e mesmo com todas as defesas adquiridas ao longo do caminho, sei ver quando me deparo com algo especial, mas não tenho medo.Brinco com as palavras sim, mas faço isso para dizer que as coisas que escrevo não são perfeitas, são apenas um pouco da história que se inicia. Eis a fonte de tanta inspiração, talvez um conjunto dos dois – se venho acertando ou não, parabéns à nossas escolhas.Isso que faz, nada mais é que me permitir ser feliz, e é isso que me vende: a possibilidade de ser feliz e pronto. E ponto.Apesar do teu receio, enxergo a fé.E é esta fé que consegue ludibriar todos os pequenos entraves que se apresentam.
O tempo passa, mas parece que foi ontem. E mesmo com os parênteses que se abrem e que se fecham no meio dessa equação, resolvemos tudo da forma mais racional possível, pois com a experiência, descobrimos que a emoção , por maior que seja, até hoje não aprendeu a solucionar os problemas do coração.
Não existe melhor antídoto que a razão.

16 outubro 2007

Palavras Perdidas

E se ela não existir?
E se for apenas um produto da minha ingênua abstração?
E se não for presságio de calmaria?
E, se tiver o dom de ludibriar o coração de quem leva fé, e vai até a fé?
A ansiedade que bate....
A angústia que espanca...
E a esperança que fortalece.
Será que podem ser conjugadas no mesmo verbo?
Nunca fui refém do medo e tive como oráculo, a liberdade, acima de todas as adversidades. Mas essa liberdade pode ser uma prisão letal.
Sentenças podem ser assinadas, por homens de capa preta. Martelos devem ultimar as penas que serão impostas.Tenho certeza de que elas não serão leves, pois não é do caráter punitivo o dom de abrandar as conseqüências.
Pena sem pena.
Cada um em sua cela fará sua introspecção, a espera do grande dia... Aquele em que seremos – ou não – apontados em praça pública, como os contraventores, os pecadores, os subversivos da ordem emocional.
Quando acredito que a utopia começa a tornar facetas humanas, duvido até o último.
E se ela não existir?
E se for apenas um produto da minha ingênua abstração?
E se não for presságio de calmaria?
Agora já é tarde e pouco me importa se ela existe ou não. Honestamente, quero senti-la e se ela existir de verdade, me tornarei o mais novo meliante, punido pelo crime de amar de forma amena e singela, quem cometeu o crime maior: roubar meu coração e não devolve-lo, sem que sua alma hedonista me tenha em seus braços.


Sim, estavam mesmo perdidas.

25 setembro 2007

Canta o Desafio

O teu olhar
Desfila em cores,
Sem pudores o nosso amor.
Canta o desafio:
Da trova fez-se o samba,
E do samba o trovador.
Deixa o som calado
Esquece o barco,
E esnoba o velho mar.
Corre pela praia,
Sem rumo ou remo
Não fingimos ao luar.

Dura é a sentença,
Que cobre a crença
De um dia ser feliz.
Mais ingênuo é,
A voz que abafa a fé,
Fingindo o que não diz.
Mudo ou difuso,
Derrama o esboço,
Do projeto que eu lhe dei.
Junto aos meus sonhos,
Junto ao meu pranto,
Nessa prole eu sou rei.

Réu do teu sorriso.
Tão impreciso
Quanto o fel dos beijos teus.
Gosto do desgosto.
Bondade sua,
Entregue às mãos de Deus.
Vela pela sorte,
Vaga pela noite
E se rende ao esplendor.
Conta ao teu amigo,
Que és teu abrigo
És seu verdadeiro amor.


O teu olhar
Desfila em cores,
Sem pudores o nosso amor.
Canta o desafio:
Confessa ao acaso,
Os passos da tua dor.
Deixe-me ao teu lado
Que até calado,
Prometo lhe seguir.
Me espere na mesma praia
Que o sol já vem,
Pra nos abraçar.

O sol já vem pra nos abraçar.
O sol já vem pra nos abraçar.
E se não vir ...
Quem virá?

20 setembro 2007

Bomba sem Relógio

Gostaria de ser uma bomba-relógio.
Ter hora exata para explodir, e fazer com que o esquadrão anti-bombas se prepare devidamente para aliviar meu coração.
Mas nem isso eu posso.
Não posso alarmar, ou ao menos deixar aviso de que não estou bem. Tenho que ser forte, pois não haverá quem faça a opção pelo fio vermelho. Vai que era para contar o fio azul?
Tenho que seguir, me levantar, esquecer de que em poucos minutos atrás eu tinha plena consciência.
Vejo o mundo rodar, ouço um forte zunido e apago.
Por poucos segundos ainda reluto, mas em seqüência desvaneço, e acordo com uma dor enorme e um sentimento de que mais uma vez fui vencido por um mal que não tem pressa em se dissipar.
O corpo dói, e após a escuridão tenho que confabular, por mais uma vez, a esperança de que tudo ficará bem. Mas, sinceramente, não estou crédulo disso.
Cansei de ser um campo-minado.
Os passos que dou, já não dependem de mim.
Por mais que eu acredite que está tudo bem, por mais que eu me resolva, por mais que as coisas comecem a progredir e eu não deixe nenhum imbróglio disperso, eis que surge uma bomba. E eu piso, sem saber o porquê.
Explosão certa...
Peço a quem tem fé em Deus, aos céticos, aos que me amam e até aos que me odeiam, que orientem sua crença para que eu não seja obrigado a explodir. Lógico, quem tem raiva talvez queira mais que eu me exploda mesmo, mas se for possível, esperem para que eu me levante, vençam com dignidade, não se favoreçam de quem está no chão, indefeso.
E é com essa sensatez que procuro forças, não sei de onde, para mais uma vez me erguer.Em pé, quero mostrar ao mundo que não mereço essa situação, mas se o mundo quer mesmo que eu mereça, que ao menos instale em mim uma bomba-relógio eficaz.

15 setembro 2007

Olhares

Passa sem pressa, mas passa.
Dói, mas reflete o que constrói,
E o que não existe mais
E existiu mesmo?

Um tiro no escuro é mais certeiro,
Do que os improvisos do amor.
Intempestividade sem precedentes
Que não tem pressa de cessar.

Feliz é a criança que ama sem
Pedir retorno, sem interesse.
Ou otária, porque não sabe o
Quanto é bom o egocentrismo.

Altruísmo é coisa para os fracos.
Bom mesmo é se amar.
Melhor então é a amargura.
Doce sabor de quem não se importa com nada.

Que se foda o mundo.
Que se foda a humanidade.
Melhor mesmo é olhar pro nada.
Melhor mesmo é não ter nada pra olhar.

O sol é para os fracos.
Bom mesmo é cair na noite.
Na escuridão, inflar a mágoa.
Tecer o caminho de quem está perdido.

Que o mundo não me foda.
Que a humanidade me esqueça.
Melhor mesmo é olhar pro nada.
Melhor mesmo é não ter nada pra olhar.

28 agosto 2007

Hoje sou eu quem mando

Não quero mais conflitar com a tua natureza rude, seu imbecíl. Pra mim, você não passa de um tremendo babaca e não vai ser o tempo que vai acalentar meu desprezo. Você merece-o, eis a tua herança por palavras e palavras desprovidas de qualquer senso de moral. Como pude acreditar... Como pude.
No início tão doce e verdadeiro divagou sobre meus sonhos e ganhou credibilidade pra transformar a utopia de vida feliz e hedonista, na solidez de quem realmente sabe consolidar uma história.
Parecia tanto que ele sabia o que estava fazendo...
E eu, idiota e cega fui acreditando, sem ao menos retrucar.
Segui meu coração e fiz dos meus batimentos, os passos da minha vida.
Deixei de lado tudo e todos que me diziam que não daria certo e conformei-me com tua conduta, com tuas pequenas e simples formas de me intrigar, de fazer com que meu olhar deixasse de caminhar sobre o que é físico e alcançasse as nuvens, esquivando apenas das tempestades que, vez ou outra, deixavam nosso céu mais cinza e carregado.
Mas às vezes vinha cada chuva gostosa.
Lavei tanto a alma pensando em ti.
Enquanto as gotas caíam, e o calor da areia me aquecia toda - ao passo que também me refrescava – eu deixava aquela maresia se misturar com o meu perfume. Rodava feito criança em ciranda; como centro educacional em dia de recreação. Tinha você em mim, e enquanto sua presença era sentida em cada gota, eu deixava você se misturar com a minha plenitude. As lágrimas serelepes que escorriam dos meus olhos andavam de mãos dadas com a água que caia dos céus, e meu corpo se tornava um reservatório de esperança.
Eu te sentia, eu juro que te sentia.
Hoje, não posso mais nem lembrar que um dia você existiu.
O pior é que ainda existe e escolheu uma vadia qualquer para exercer o papel principal do teu otário roteiro de vida.
Tu és um mané, mas um mané sem precedentes.
Deixo a ti apenas a certeza de que tu perdeste a chance de estar com a pessoa que iria te amar pela eternidade que nos fosse proposta pelo destino.
Eu vou me levantar e apesar de você e de sua ignorância bruta, vou sobreviver( sem dramas, apenas tenho que me levantar e olhar novamente ao horizonte aquele mesmo, que tantas vezes eu olhava durante o crepúsculo do dia.
Hoje volto a viver a aurora, e fique tranqüilo, não te desejo a escuridão torpe. Desejo apenas meu sincero e fuzilante ódio.
Mas se achar muito bruto, chame-o apenas de indiferença.

19 agosto 2007

Mundo da Lua

Não pretendo mais nada.
Não desejo mais nada.
Não tenho mais nada,
Exceto o que é meu.

Levaram o que é meu.
Levaram minha credibilidade.
Levaram meu nome.
E eu, já não sei para onde devo ser levado.

Nunca devi nada.
Nunca desejei passar pelo nada.
Nunca tive abundância de nada,
Exceto quando não dependo de mim.

Quebraram minha banca,
Quebraram-me no banco,
Quebraram o que era branco
E remendaram num mosaico escuro.

Vivo para sobreviver,
Sobrevivo ao parar de viver.
Sem nome, sem rumo, sem prosa.
Abraço o desespero que me acalenta.

Mas ninguém roubará esse momento.
Mais ninguém me roubará em qualquer momento.
Promessas e bravatas dedicadas à alma.
Sonhos e anseios dedicados ao meu coração.

Aos que me devem,
Que gastem tudo em sua mediocridade.
Hipócrita, falsa e de idealismo fajuto.
O amanhã irá nos cobrar.

E a Lua brilhará apenas para os justos.

04 agosto 2007

Fracionado

Uma parte de mim, não parte sem você.
Um terço da minha solidão é menos que um terço que rezo para te ter ao meu lado.
Um meio de te encontrar, não é nem a metade da chance de encontrar a paz.
A paz reina soberana sem a parcela da culpa; e quando não existe um sentenciado, a serenidade já não é mais utopia: Trata-se de uma presença contundente, que ameniza o sentimento arrebatador de punição que nos acompanha como martírio, conduzindo a nossa alma a um descanso justo e merecido.
Às vezes, em sonhos, esse descanso teima em acontecer. Em outrora, acontece em dias chuvosos, em uma segunda-feira maldita, em um ônibus apertado, em uma fila de supermercado, ou no engarrafamento comum do sentido bairro, ao anoitecer de qualquer megalópole.
Não é necessário viver em um reino, muito menos em um conto.
Uma parte de mim me basta.
Mas a parte que te encontrar, partirá bem mais feliz.
Enquanto isso, conforto-me apenas em me encontrar.

23 julho 2007

Canção de Espinhos

Cante.
Encante o desejo.
Boceje a tristeza, e se for necessário, grite.
Espanque a saudade.
Eis a solidão, que canta e encanta a melodia.
Acordes, sem som.
Acorde e seja o som.
Diga, ao pé do ouvido da alma, que ainda sobrevive.
O coração bate, mas não espanca.
Deveria ser mais sincero a cada batimento.
Deveria ser eterno, mas é quase abatimento.

Canta.
Não se opõe, não levanta.
A boca diz o que encanta.
Os olhos não vão mais mentir.
O véu que cobre a tua honra,
Já se despiu bem sem vergonha,
E agora quer se despedir.
Na hora da partilha o sol se põe,
Finge ser contradição e não brilha ao amanhecer.

Desconhece o sonho.
Desconhece a marra.
Obedece a luta.
E ainda cai na farra.

Canta com carinho.
A canção de espinhos,
Que coroou o amanhã.

Entregou as flores,
Contou seus amores,
E fez da cama o seu divã.

14 julho 2007

Mutação Exata

Durante a queda pediu informações.
Reergueu-se, mas sem explicações,
Cantarolou o grito de quem apenas cai.
Não sofreu, não fingiu, e agora vai.

Sem excitações divaga em delírios.
Poucas doutrinas em seus martírios.
Bocas e ofensas já não lhe bastam.
Facas pretensas já não lhe castram.

Bicho do mato e da Cidade.
Cidade que mata o bicho saudade.
Fera que foge e não se espanta.
Fúria que corre e não mais levanta.

Por vezes quis deitar e assim ficar.
Por vezes quis subir e assim agir.
Por mais que o sonho não o encontrou.
Por mais que o dia não se apresentou.

Por menos jura que não se vende.
Apenas fecha os olhos e se rende.

09 julho 2007

Ademais

Enquanto elas falam,
Ele age.
Enquanto eles brincam,
Ele relembra.
Menino feliz,
Escolha feliz.
Vazio?
Sim. Estava vazio.
Hoje, vazia está a mente de quem não se ocupa.
O coração de quem não se permite.
Ou até de quem se permite demais.
Não interessa.
Vive completamente sem fronteiras,
E isso basta.
O momento é terno.
Momento eterno.
Como um chocolate,
Que desmancha na boca.
E seu sabor alimenta a esperança
Doce como o seu coração.
Mas foi assim que ele escolheu.
Assim que não se arrependeu.
Assim que viveu.
E ademais, apenas agradeceu.

30 junho 2007

Vazio

Tinha que estar assim, vazio.
Seu copo transborda solidão.
Bebe calado em busca do porre,
Mas não é sagaz quando corre.

Vai apenas, não tem pena do espaço,
E retorna sempre ao primeiro passo.
Anda duas casas, mas volta três.
Não é dia primeiro, já é fim do mês.

És feliz em sua indecisão.
Vazio, sem rumo,sem precisão.
Se esconde, se acha, se expõe,
Se diz, não se ouve, não se põe.

Se presta, se posta, não presta.
És luxo, és lixo, és luxúria.
És fama, difama a ternura.
Tinha que estar assim, vazio.

Não sabe o que faz.
Não sabe o que fez.
Não sabe se faz.
Não sabe se fez.

Não sabe... E paga o preço sem saber.
Nem cabe...E não transborda além do ser.
Não vive... Sobrevive à lei tão vil.
Injusto é não ser um ser vazio.

25 junho 2007

Ondas de Esquina

Finge que és nobre e audaz.
Lembra que é pobre e incapaz.
Sonha que é muro e fortaleza.
Cai e se posta sem grandeza.

Menino sem ritmo e sem crença.
Homem sem rito e sem presença.
Ausente do sonho e da ilusão.
Constante e audaz em seu coração.

Finge que não tem pra onde ir.
Vai até a onde conseguir.
Volta e meia trás como consolo
A leveza do olhar, ingênuo e tolo.

Menino sem hora pra crescer.
Ora é a senhora a tecer.
Palavras estranhas e sem razão.
Naufragam no barco da dispersão.

Eis, que distante fez-se o mar.
De esquina pro mundo sem penar.
Em suas águas doces, o sol se põe.

Não importa se corre para o rio.
Não denota o sonho que existiu.
Sem entrevista, se atreve a existir.

Não finge, não lembra,
Não sonha, não cai.
Pequena Esperança,
És sonho ... És mar.

19 junho 2007

Lúcido e Lunático

Lúcido precisa de descanso. Já dissera várias vezes à Lunático, mas ele não o ouviu. É sempre assim, quando pretende algo sério, Lúcido só falta implorar a Lunático para que este lhe dê atenção, mas seu irmão prefere ignora-lo.
Dizem que sempre foi assim. Certa feita estavam estudando a árvore genealógica da família, quando depararam com uma história intrigante na Idade Média. Um Imperador, dissidente de Lunático tinha a autoridade de exterminar seus irmãos. Lúcido ficou embasbacado, e começou a temer por sua vida, pois sempre achou que a indiferença era a maior forma de punição, mas ao perceber que seu irmão gêmeo poderia muito bem aniquilar a sua existência, se fechou em receio.
Lunático, por sua vez era a voz da soberba, e da conquista. Não havia desejo que não retornasse à suas mãos, por meio de realização.
Conquistou tudo que desejou. E não desejou pouco...
Atropelou os princípios de seu irmão, e o viu no chão por muitas vezes, bem como a queda de Constantinopla, o que fez lembrar de seus antecessores.
Lúcido quis tirar satisfações por inúmeras vezes, mas suas bravatas eram dissonantes e nulas, perante o timbre e a força da voz daquele que veio ao mundo apenas poucos segundos após seu nascimento.
Ambos foram concebidos para seguir o mesmo caminho.
Mas um preferiu as trevas enquanto o outro quis encher sua vida de luz.
Resultado: O que tentou encher a vida de luz, foi surpreendido pela escuridão não declarada, que é artifício básico daqueles que vivem para ofuscar a luz. Por outro lado, quem ofuscou a luz, brilhou. Como uma esponja absorveu todos os raios solares que estavam na panela que cozeu o alimento de sua alma amarga. E assim, coseu com pequenos retalhos a destruição de seu lar, a destruição de Lúcido.
E é assim até hoje.
Quando Lúcido tenta ser Lunático, se lembra de sua essência pura e dá dois passos para trás, voltando ao seu refúgio, que o tele-transporta à três passos de seu irmão.Sempre estará na frente, mas ambos precisam caminhar...
Embora, Lúcido precise de descanso.

18 junho 2007

Remédio Simplório

A beleza de uma lágrima que agora teima em cair, não é beleza é sofrimento.
O sofrimento da alma que pensou que tinha chegado aos céus volta à realidade.
A realidade sonhadora que formou um conto de fato se despede com certa indiferença.
A indiferença, que sempre foi meu maior repúdio, hoje se apresenta de forma madura.
Madura como um ser racional, que se desvincula de qualquer ato feito por uma criança.
Criança que até então não tem a imposição do medo em si, que age seguindo seus instintos.
Instintos que aproximaram a alegria de ser linguagem em uma só sintonia.
Sintonia plena que negou a racionalidade mesquinha daqueles que tentaram a desmascarar.
Desmascaram apenas pequenos véus que cobriam seu olhar e suas vergonhas.
Vergonhas que se calaram a espera de um grande momento, no qual estivessem sós.
Sós, e viradas do avesso estão a prosa e a poesia, pois hoje ambas se emudecem.
Emudecem a vontade de ser feliz, e o coração que batia desesperadamente feliz.
Feliz com a ausência do medo, com a letargia do sofrimento, o anunciar de uma nova era.
Era, foi, é. Não se pode afirmar em qual tempo verbal estamos, não se sabe nem se existe verbo.
O verbo não se fez carne. Fez-se pão e foi esfarelado pela ânsia daqueles que se amam.
Amam porque são burros, pois se fossem astuciosos, enganariam seus princípios com canções vazias.
Vazias foram as cestas de mentiras, porque a verdade edificou a sinfonia que se compôs.
Compôs-se e descompôs-se, numa melodia que não se arrepende de ter existido.
Existe.
Não importa mais se surgirão outros compositores. O que tem relevância é a beleza de uma lágrima que não caiu, desviou seu caminho e abriu um sorriso radioso que abraçou o coração em sua dor e curou a tua alma com um remédio simplório, popularmente conhecido como esperança.

15 junho 2007

Ânsia de ser Presente

Não me arrependo do que fiz,
Mas já disseram que não é para fazer de novo.
Não compreendo os porquês...
Talvez porque não haja o porquê.

Me afasto... Apenas me afasto.
Gostaria de ser uma reminiscência.
De ser lembrança de bons dias,
Mas minha ânsia de ser presente custou caro.

Nem dor profunda consigo sentir.
Preciso pôr em direção meu caminho.
Mas ainda sou avesso sem rumo.

A esperança bateu em minha janela,
Enquanto a sensatez a expulsara.
Se fosse orgulho, seria mais fácil.

Só que é distância. Pura distância.
Seria bom se fosse orgulho, ou desconfiança,
Pois se assim fosse, nada como um simples olhar,
Para colocar os sentimentos no lugar.

Mas não podemos nos ver agora.
Existe um véu que cega e que nos perturba.
Chega de turbulência. Esperemos a calmaria.
Aquela, que com ódio lembramos de ontem.

Aquela, que com ódio lembramos do antes de ontem.
A que estaria por vir. E aquela que tem ilusão que é porvir.
Mas somos presentes. Por mais que estejamos ausentes.

Ausentes de nosso sonho. Distantes do avesso.
Sem prosa, sem poesia, sem linguagem.

Somos a espera de uma nova sintonia.

11 junho 2007

A Cidade Horizontal.

Os táxis amarelos tomam a cidade, mas não estamos em Nova York.
Os Arcos do início da Lapa, iluminados por refletores candentes, nos remetem a Champs-Élysées, mas não estamos em Paris.
A cidade, que é conhecida como “Maravilhosa”, e “Coração do Brasil”, faz com que estas denominações não estejam erradas, pois o Rio de Janeiro, é a segunda maior cidade do país e de um dos mais importantes celeiros de personagens históricos de nossa nação.
Enquanto que em São Paulo, a grande concentração habitacional, e o PIB que gira em torno de tal economia faz com que a capital paulistana torne-se o grande centro financeiro – o cérebro – do país, podemos com segurança afirmar, que a beleza natural do Rio, lhe dá o título de coração da Terra de Santa Cruz. Bairrismos à parte, pois sempre haverá um gaúcho, nordestino, ou até mesmo um paulista que conteste que a beleza irrefutável do território carioca o eleve ao posto de patrimônio natural da humanidade.
Fato que pode ser acompanhado com mais lucidez na campanha “Vote Cristo”, que promove uma nova eleição das sete novas maravilhas do mundo moderno. Certamente o Cristo merece um lugar nessa lista, pois além de ser uma grande obra arquitetônica, no alto de seus braços, promove uma das vistas mais exuberantes do mundo. Digo isso sem a propriedade de quem visitou o local e sentiu a emoção de enxergar toda aquela paisagem. Acrescento essas palavras baseadas em relatos de amigos próximos que estiveram por lá, e acima de tudo, de imagens que se proliferam em nossa aldeia global. O Brasil tem overdose de Rio de Janeiro. Seja, por meio de páginas da vida, por paraísos tropicais, por vidas opostas ou pela luz do sol carioca.
Mais ou menos como no caso do cineasta dinamarquês Lars Von Trier, autor dos excelentes “Dogville” e “Dancer in The Dark”, que certa feita foi indagado de forma hostil, por um determinado repórter, que gostaria de saber como ele teve a audácia de fazer filmes tão contundentes e críticos do “american way of life”, que iniciou-se a partir do meio do século XX, logo após o crack da bolsa de 1929. A resposta do diretor foi categórica: “Eu nunca fui aos Estados Unidos, mas todos os dias os E.U.A. vêm até a mim”.
O chiado do “s” com som de “g” na terminação das palavras é o ruído que padroniza as transmissões esportivas, e jornalísticas de grande parte da mídia nacional.
Não se encontram muitos nordestinos na cidade do Rio, ou melhor, muitos realmente moram na cidade, mas tiveram que disfarçar seu “ta, te, ti, to, tu”, para não serem facilmente reconhecidos e tachados de “paraíbas”. Mas esse tipo de descriminação não é um “privilégio” do Rio, em São Paulo, os retirantes são habitualmente chamados de “baianos”. Assim como, nós brasileiros limpamos muito o chão de bares da belíssima Paris e seu Arco do Triunfo; e a cidade coração do mundo, Nova York.
Mas diferente do centro-financeiro mais famoso do mundo, e de São Paulo, o Rio de Janeiro é uma cidade horizontal.
Os prédios bem que tentam fazer presença no centro da cidade, e em regiões de alto poder aquisitivo – leia-se zona sul... (Ah, durante a minha visita de quatro dias na cidade, descobri que quem mora na Tijuca é “cheio de marra”, e apesar de morar num bairro muito bom, não mora na zona sul, portanto, não é elite) – mas são prédios mais preguiçosos, não querem encostar o céu, afinal, pra que ficar tão longe do solo, da areia da praia?
Essa marra carioca, é uma característica muito comum, mas os moradores da cidade teimam em reconhece-la. Na primeira vez que visitei a cidade, em uma passagem muito rápida, durante o show dos “Rolling Stones”, que reuniu um milhão e trezentas mil pessoas, de todos as localidades do mundo, percebi essa capacidade verborrágica muito aguçada. É um tal de toma lá, dá cá. Parece que ninguém quer sair por baixo. Aliás, por falar em vontade de ser superior, grande parte dos cariocas têm orgulho de ser reconhecido no restante do pais, como o povo mais malandro dentre os brasileiros. Existe uma exaltação inconteste do jeitinho brasileiro. Chega a ser patética a forma como alguns vendedores e atendentes e taxistas acham que os turistas são otários. Pode ser que muitos dos turistas – principalmente a “gringaiada” – caia na lábia da malandragem desses cariocas, mas a outra parte da população (certamente em maior número), aquela que está indignada com os anos e anos de descaso do Estado, da submissão ao crime organizado, e mais recentemente as milícias, é a que mais sofre. É esse povo que sofre para pegar uma lotação caindo aos pedaços, ou melhor, uma “van”.Que se confunde com a disparidade das tarifas do transporte público.
Que se indaga onde está a assistência social necessária para que os povos dos morros não tenham que se virar para a criminalidade, fazendo assim das áreas nobres, locais mais tranqüilos pra se viver.
Essa população fica sem norte em uma cidade que não tem zona leste.
Como o sol pode nascer assim?
Fica difícil brilhar.
A saída encontrada pela maioria da população é seguir os passos de Cartola e viver “A sorrir”, levando a vida, pois chorando ou lamentando não dá mais. Esse sorriso se expande a cordialidade, e dessa convergência vem a máxima de que o carioca é um povo feliz, que vive em um cartão postal, que sabe aproveitar a vida.
E foi uma canção de Cartola que coroou a noite no “Democráticos”, a casa de samba mais antiga da cidade.Já ao encontrar os tricolores no Maracanã – esta é a denominação, pois somente é fluminense de verdade, quem nasceu no Estado do Rio – não teve como contestar. O carioca é um povo que pode não ter muitos motivos para dormir feliz, mas assim o faz. Apega-se as coisas simples, ao ambiente magnificente natural deita, esquece dos problemas e dorme. Afinal, na horizontal, tudo é válido.

06 junho 2007

"Vai, vai, vai..."

A Poesia:
-Vai bem...
-Bebe todas as águas como se fossem cervejas...
- Grite como se fosse a última vez q sua voz fosse sair...
- Cante como se fosse um pássaro sabiá... e olhe para o rio..como se ele realmente fosse perfeito..pq pra ti..ele será...
-Boa Viagem.

A Poesia:
- Valeu mesmo.
- Será quase perfeito...
-Metade de mim está com vc...e eu não aceito devolução.
- Ela é sua.

A Poesia:
-Vai...
-Aproveita o teu RIO
-Não..
-Não consigo levantar daqui
-Vai!


A Prosa:
- Eu vou...
Mas "O MEU RIO NÃO É NADA SEM A MINHA POESIA".


O Avesso que se propõs:
- Ele já é poesia!
Não, sem vc , nada é poesia... fato.

"Fato...
Fator...
Esquece de mim lá...
Não sofra meu amor".

-Curta vc...
-Porque a vida é curta.

-A vida é curta pra quem está de passagem, eu estou pra fazer história ao teu lado.
- E não vou te esquecer.

-Se o contexto mundial permitir.. tem história.... senão..a gente vira Tiradentes.. falsos heróis...


A Prosa que também é Poesia:
-Que se foda o contexto mundial, quero ser herói de nós mesmos!

05 junho 2007

100 Limites para a Felicidade.

"O avesso do avesso que se propôs hoje foi desvirado.
Revirou-se até o ponto em que não existiu mais nenhuma característica de obra vazia;Hoje és prosa que transborda, que explode de felicidade, e que está a caminho da poesia;Nunca pensei que a angústia iria tomar seu coração; que as palavras iriam se calar ao tentar pronunciar seu nome, mas foi.
Sem certeza, sem clareza, sem realeza deixou que seu espírito de sapo falasse mais alto.
Escreveu (em folhas roubadas) o quão importante és aquela que roubou seu coração.
Aquela que não é castelo, mas que ainda chora tal qual princesa à espera do seu grande salvador;O príncipe não veio...Fato.
Eis seu fiel súdito, o sapo.
Aquele que coaxa em seus ouvidos, palavras doces, para o fel de quem ama.
Aquele que só emudece quando as palavras são desnecessárias e as linguagens já se comunicam através de um olhar.O avesso se desvira e apenas virá.rá!"


100ª postagem, feita no escuro... antes do avesso ... antes mesmo de sentir a felicidade da Criatura que hoje habita o meu brejo.

04 junho 2007

Sol Maior

Ainda na terra das “brisas leves”, das motos desgovernadas, dos padres gays e das cotubas japonesas, a prosa se despede da sua primeira jornada.
Me despeço de uma cidade pacata e bucólica, na qual seus moradores, por imposição de uma força maior, quase inexplicável... vivem em disparado.
Contradições entre a paz de espírito, o ar puro, se acentuam com o pequeno trânsito frenético dos arredores do centro. Nos supermercados, donas de casa apressadas, maridos barbeiros no volante, igualmente às grandes regiões metropolitanas.
Mas é aqui que reside a poesia.
Bela como minha imaginação projetava...
Forte como meu coração desejava...
Chorona, como era de se esperar...
Foram quase três dias de uma experência única, no qual descobri que utopias só são utopias, porque em grande parte das vezes , nós temos preguiça de transformá-las em realidade.
Essa preguiça pode ser substituida por medo, por precaução, por angústia, mas seja qual for a nomenclatura deste subterfúgio, será sempre uma maneira de nos afastar do sonho maior. Do nosso sol...
Já aplaudiram o sol dela em perfeito tom com as notas musicais, mas mesmo assim, ela ainda achava que seu acorde se aperfeiçoaria com a minha presença.
Para um acorde, são necessários mais de três intervalos, mas são tantos intervalos que se assim fosse não seriam mais adágios, e sim longas canções compostas.
Até então a poesia ouvia apenas a melodia de um choro sem afinação que pecava pelos mesmos erros.
Sabia que eu queria voar, mas que a grade não deixava.
Ela dizia que tocar das minhas palavras lhe dava a paz que pedia o seu coração. Confundia a trilha sonora de suas lágrimas com o pano de fundo do timbre da minha voz.
Ela queria ensurdecer, e não mais dormir...
Queria sentir a presença da minha essência, dentro do brejo,
Porquê viver naquele castelo, não queria mais...

SAPO e PRÍNCIPE;

CASTELO E BREJO;

O que mais a completava?

Dizia que o castelo e o sapo, pois quando se vive um grande amor fadados de erros compreensiveis, ganha-se um castelo, onde todos os sonhos são realmente possibilidades de felicidade, em um jogo, que controlamos as peças.

Hoje a peça chamada prosa está no tabuleiro da poesia, visitando quem o faz feliz por dentro, por fora e pelo o avesso... amando cada momento e guardando-os para a eternidade de um feliz e delicioso conto de fato, uma utopia real, que se toca, se beija se abraça e se completa.

Transbordar de alegria é tocar os acordes de um Sol Maior.

30 maio 2007

Crime Maior

E se ela não existir?
E se for apenas um produto da minha ingênua abstração?
E se não for presságio de calmaria?
E, se tiver o dom de ludibriar o coração de quem leva fé, e vai até a fé?
A ansiedade que bate....
A angústia que espanca...
E a esperança que fortalece.
Será que podem ser conjugadas no mesmo verbo?
Nunca fui refém do medo e tive como oráculo, a liberdade, acima de todas as adversidades. Mas essa liberdade pode ser uma prisão letal.
Sentenças podem ser assinadas, por homens de capa preta. Martelos devem ultimar as penas que serão impostas.Tenho certeza de que elas não serão leves, pois não é do caráter punitivo o dom de abrandar as conseqüências.
Pena sem pena.
Cada um em sua cela fará sua introspecção, a espera do grande dia... Aquele em que seremos – ou não – apontados em praça pública, como os contraventores, os pecadores, os subversivos da ordem emocional.
Quando acredito que a utopia começa a tornar facetas humanas, duvido até o último.
E se ela não existir?
E se for apenas um produto da minha ingênua abstração?
E se não for presságio de calmaria?
Agora já é tarde e pouco me importa se ela existe ou não.
Honestamente, quero senti-la, e se ela existir de verdade, me tornarei o mais novo meliante. Punido pelo crime de amar de forma amena e singela, quem cometeu o crime maior: roubar meu coração e não devolve-lo, sem que sua alma hedonista me tenha em seus braços.

29 maio 2007

O Tocar

Se disserem a ti que temos tudo em nossas mãos, mas que, às vezes elas não são tão fortes e perfeitas para quando fechadas agarrarem o que queremos, sem deixar escapar a felicidade, certifique-se que, nestas palavras, o medo reside.Trata-se de uma batalha entre o 1% contra o 99%. A fresta da lacuna, que não pode ser preenchida, e não se sabe por qual razão. Nessa frase está implícito (ou explícito, depende da ótica), que 1% de risco, é o que basta para o medo. É a lacuna que fica. A fresta que deixa a insegurança entrar sem explicação.
Mesmo se eu soubesse qual a proporção para a felicidade, não a divulgaria. Convém a todos o sofrimento. A angústia, o penar. É devido a todas essas aflições que o medo existe e que a capacidade de abstração do ser humano é aflorada. Se o céu ficasse azul durante toda a eternidade, iria sentir saudades dos tempos nebulosos, em que olhava aquele céu acinzentado, recoberto por nuvens espessas de mágoa e frustração. E tenho certeza que não seria o único.
O senso comum pode sim ser contraditório.
Muitos ainda acreditam que seria bom se, por exemplo, na lotação, ao invés do motorista sintonizar a rádio mais “teen” e “modista”, estivesse tocando um CD de grandes obras de Beethoven; que seria maravilhoso andar em praça pública e escutar ao fundo um vendedor de calçados cantarolando “Alvorada”; e que seria uma experiência única, observar os homens trabalhando no mais novo complexo habitacional da cidade, e entre um tijolo e outro, fazendo um batuque seco com suas pás ao som de “Construção”.
Outros crêem que o “macaco adora banana, porque este é o único alimento que lhe servem”.
Sinceramente, não acredito nesses adágios.
Às vezes, creio que se o gosto popular fosse refinado, o gosto elitizado, por sua vez, seria um poço de asneiras transbordando obras rasas. Se o macaco começasse a comer morangos, seu apetite iria diminuir sentir saudades dos tempos que comia a boa e velha banana.
Nesta batalha egoísta, o sofrer transforma-se em altruísmo. Com toda a sua potencialidade, este sofrimento se disponibiliza a ajudar ao próximo, abnega-se da alegria, e se recolhe em nossas mãos. Àquelas mesmas, que, por vezes não são tão fortes e perfeitas, para quando fechadas agarrarem o que queremos. Apenas escrevem palavras. Estas, desnecessárias, pois se o medo não às dominassem, de certo estaríamos em silêncio, contemplando o tocar de nossas mãos.

28 maio 2007

Falta Apenas 1% ...

“Eu que tenho medo até de suas mãos
Mas o ódio cega e você não percebe
Mas o ódio cega...
E eu que tenho medo até do seu olhar
Mas o ódio cega e você não percebe...
Mas o ódio cega”

Sempre acreditei na máxima que o “amor é cego” e inebriante. Mas, às vezes passo a crer que é o medo de amar que é cego. Com isso, o ódio começa a tomar conta de nossa inquietude, fazendo parte de um ciclo perigoso.
Em quase todos os momentos em que nos entregamos a um sentimento, nos entregamos por inteiro, por alma, por essência, por sintonia. Acontece, que por alguns instantes, podemos nos doar “apenas” com 99% de nossa vontade. O que proporcionalmente seria uma lógica incontestável, uma exata inevitável, torna-se um perene medo.
Esse 1% que se espalha em cada metro de nossa distância, em cada momento em que não estamos juntos, em cada instante em que os planos não dêem certo, corrobora o poder do medo em nossos corações.
Nossa ansiedade, já não é mais ansiedade.
Nossa saudade, já não é mais saudade.
Nossas adversidades, já não mais meras ansiedades.
Todos esses fatores são produto do medo.
O medo que corrói o desejo, inflama a vontade, machuca a alma, infla a insegurança, maltrata a liberdade e dispersa a unidade, nada mais é do que a vontade de ser feliz, acima de todas as coisas.Tremenda tolice, pois não existe mágica para a felicidade, sem medo. Não existe amor sem penar, sem medo.
O medo é essencial para todas as criaturas que se misturam em um ritmo delicioso, dançando conforme a canção, bailando conforme a linguagem, cantando conforme a letra. Não importa se esta letra já foi prosa, poesia ou se será eternidade.

24 maio 2007

Laços do Avesso

O avesso do avesso que se propõe.
É o sonho, que outrora foi espinho.
A rosa que agora é sonho de prosa
É a poesia que antes não tinha caminho.

O cochilo que tiro de olhos abertos,
Não passa de esboço utópico e sem dor.
O alimento de verdade...É apenas a verdade.
Meus olhos ainda não enxergam a flor. Ainda...

Presunçosos e pueris te vêem e te desenham;
Com a força da imaginação te transportam.
E sua presença física torna-se mero detalhe.

E é por isso, que eu acredito, pois mesmo
Tendo seu olhar distante do meu...sinto seu coração.
Em meus braços, em meus traços, em nossos laços.

23 maio 2007

Realidade Sonhadora

Sempre tive problemas para administrar os efeitos que a distância pode acarretar em meu comportamento.Ansiedade e angústia eram reações constantes, quando pensava que minhas diretrizes, minhas aspirações estavam a quilômetros daqui. Mas onde estou, afinal? Por que o espaço físico é tão relevante assim?
Antigamente, as inúmeras barreiras sociais e até mesmo devido à fantasia de viver uma grande história de amor, as pessoas se apegavam aos relacionamentos epistolais, que carregavam em sua essência, uma dose de utopia. Cada carta era um relato de como um sonho deveria ser realizado, ou até mesmo de como esse mesmo sonho era movido pela saudade... movido pela distância.
Na atualidade, as mensagens instantâneas, msn e afins, apenas substituem as cartas e a tinta das canetas - ou mais remotamente, as tintas que transbordavam nas penas - e as penas que escreviam as mesmas histórias.
Já ouvi de uma poetiza, que “A distância acerta sim... Às vezes não a pessoa certa, mas mais que isso, o coração de alguém que nunca se achou certo para amar. A certa pessoa, que também pode ser certa, está certa de que, ela pode ser a certa? Ou será que ela não acerta?”.
Tudo muito conflituoso.
E enquanto os casais que estão próximos se esbaldam do tocar, os casais epistolais, sejam eles novos ou antigos, se comprimem no penar, seja ele produto de um sonho, ou de uma série de imprevistos.
Hoje a poesia chorou.
A sua voz era o retrato de sua alma surrada pelos ecos do passado.
A prosa ficou triste e se calou... Encheu-se de preocupação.
Era para ser um dia de utopias... mas não é todo dia que as coisas acontecem exatamente iguais às nossas noites de sono.
A felicidade existe sim, mas ela não existe apenas nas datas especiais.
Jamais a prosa vai matar a poesia do coração... ainda mais hoje. Tampouco irá avisar quando resolver mata-la de afeto, para que ela não morra de véspera.Mesmo que ela não saiba o que dizer, aceito o agradecimento, pois ele é recíproco assim como os desejos doces que percorrem a distância de nossa realidade sonhadora.

22 maio 2007

0:01

O primeiro minuto de uma nova vida...
O passado até que insistiu em rondar teu lar ...
Mas, para ele temos a nossa canção bem peculiar, que se encaixou perfeitamente em nossa história.
Sim, aquela que parece mais parece um hino, mas que quando cantada com fé, não há quem segure...
Ao ficarmos 100%, nos unimos em um abraço terno...
Onde já se viu... Isso que acontece, quando damos prosa demais...
E pensar que tudo começou sem pretensão, sem dimensão, sem ascensão.
Os dias se passaram, as cicatrizes se curaram as verdades apareceram.
Enfim, organizamos nossos pensamentos, esclarecemos nossas idéias e acalmamos nossas mentes.
Aprendemos que ter, não é viver... Não satisfaz, não nos satisfaz. Não basta ter as pessoas próximas de si, mas sim senti-las, compreende-las e logo, ama-las.
Desaprumamos nossos instintos e abraçamos a calmaria tempestiva da poesia, pois descobrimos que ela pode esconder segredos de uma linguagem duradoura, quiçá, eterna.
Minha linguagem se encosta à tua, e isso é muito mais que o desejo de um beijo, é o puro prazer.
Linguagem de línguas desconhecidas que tem o louco poder de me beber como vinho em noite de inverno; de me machucar, quando não me faz gargalhar, e às vezes até sonhar.
Desses sonhos que só se realizam quando existe um efeito louco. Deixamos nossas vozes baixinhas, minimamente sonoras e escutamos o bater latejante de nossos corações. E voltamos a sonhar...
Viver, passou a ser uma mera burocracia, pois sabemos que existe algo bem maior nos esperando, e, que no fundo, passamos a completar a carga horária de nosso cotidiano, a espera de nossas realizações. A espera de nossos contos de fato. Realidade pura, nua, crua e saudável.
E, no esbanjar de sua saúde, sobra espaço para a saudade também.
Mas como um aluno dedicado, confio nos ensinamentos da vida. Confio nos professores da vida.
E tenho a chance e o gozo de dedicar singelas palavras a quem me ensinou a ser prosa.
Obrigado...
Por tudo...
Tudo mesmo...
Por tudo que você faz...
Por tudo que você fala (escreve)
Por me fazer tão feliz...
Por me iluminar...
Por ser tudo aquilo que eu estou a encontrar...
Obrigado.
Adoro-te de uma forma tão disforme que não posso expressar em palavras esse sentimento tão uniforme.
Descobri que quando indaguei “Quem és tu criatura?”, errei feio na formulação da frase. O correto seria “Quem és tu Felicidade?”, pois durante nossa eternidade você me fará feliz por dentro, por fora e pelo avesso, e isto é indubitável.
Tão incontestável quanto à alegria desse beijo que agora te dou na ponta direita de sua boca, afinal não sou canhoto. E do lado esquerdo já basta o coração, que transborda de alegria e de esperança.

21 maio 2007

Conto de Fato

Há muito tempo atrás, em uma sociedade privilegiada pela globalização – não tão distante da nossa - civilizações e cidadãos podiam se encontrar tranqüilamente, com apenas o simples gesto de abrir a fresta de uma janela. O sol, que irradiava o ambiente era resultado de dias e dias, às vezes, anos de uma construção afetuosa e cúmplice. Um piscar, sempre será um piscar. Mas um piscar irradiante pode ser o início de uma trama dolorosamente saudável. Dor que acalenta qualquer coração. E que transcende qualquer barreira.
Piscar ao acaso... para o acaso, bote ser letal. Se estiver perdido qualquer dia e entrar em uma locadora, assim como os povos antigos faziam, e tentar locar um filme “escapista”, ou uma obra que aguce o nosso lado“pensante” , poderá ouvir ao fundo uma canção que harmoniosamente clame “I Wish You Were Here”. Fará um tempo, conversará com a atendente do local, e elogiará a bela música. Quem sabe, num aparece um velho conhecido, daqueles dos tempos de colégio... vai saber ... vivemos de incertezas e de pequenas manifestações do caos, muito semelhante ao efeito borboleta.
O caos nada mais é que a voz que ecoa na escuridão. O grito que se escuta ao longe, ao lado dos trovões. Aquela cinza que cai do céu... A lágrima no rosto das multidões e a alma sabor de fel. A beleza da consciência humana e o prazer de uma vida urbana, turbulenta e atroz.
E foi em meio a esta confusão, em meio a esta complicação que a poesia surgiu. De início, tímida e reticente. O que fez com que o a prosa entendesse que aquele não era o momento oportuno para um elo.
Mas as sucessões de fatos e turbulências uniram os verbos da prosa e da poesia, tornando-as uma obra única. Obra comum de dois, que se confunde quando é enunciada, mas que sempre resiste com vigor e orgulho, pois o verão já terminou faz tempo, e o coração continua a bater; os olhos continuam a sorrir; e as mãos continuam a sonhar.
Não existe conto de fadas.
Não existem príncipes nem princesas.
Existem sapos e anseios.
Anseios que nos aproximam ao aconchego do peito e balbuciam palavras amenas, como “brisas suaves” e nos levam ao reino dos “bons ares”.
Eis que a sociedade e os cidadãos começam a entender seus pequenos conflitos.
O sol volta a organizar nossos pensamentos... Esclarece nossas idéias e acalma a nossa mente, para que enfim possamos deixar o coração novamente livre para bater forte e com um rumo.Fugimos desta confusão...Desaprumamos nossos instintos e abraçamos a calmaria tempestiva da poesia, pois ela pode esconder segredos de uma linguagem duradoura, quiçá, eterna.
Somente assim, a prosa será um conto de fato.

20 maio 2007

O Sol Sempre Nascerá

Dissera com suas aprazíveis e desconcertantes palavras, que aqui estava... perdida entre o 'eu', o 'vós' e o 'nós', pois mais singular que o eu, e o nós, somente o mestre Cartola, que no ápice de seu conhecimento empírico-sentimental proferiu:

“Nada consigo fazer
Quando a saudade aperta
Foge-me a inspiração
Sinto a alma deserta
Um vazio se faz em meu peito
E de fato eu sinto
Em meu peito um vazio”

Eu, mais tu é igual a nós... e o eles não são pessoas, se indefinem na fortaleza da junção entre dois pronomes, que juntos remetem sabedoria dos deuses ... Nossa poesia que se formou de prosa vai a loucura, me faz como que num leve passo de dança, cantar solista as lágrimas do que minh'alma me questiona... Minha poesia , não é mais bela... a rosa do mestre que murchou... 'as rosas não falam ... Ai, devias vir para ver os meus olhos tristonhos...'não sei mais o que poetizar, Agua a água salgada que aqui rola, e umedece meu sorriso...nem sei se de alegria, ou de poesia...
Que Foucalt me acompanhe, Nietzsche me estude, e Cartola nos encante!

Além disso, não posso dizer mais nada...
Afinal ... são palavras roubadas...

E, agraciado, não desejo descordar de uma única palavra, pois a alegria sublime que me conforta neste instante, supera todas as divergências lógicas que impedem que o amanhã se abra de forma mais intensa e radiante.

“Presta atenção querida, embora eu saiba que estás resolvida, em cada esquina cai um pouco a tua vida, em pouco tempo não serás mais o que és”.
(Angenor de Oliveira)

17 maio 2007

Incertas Palavras

Oh, doce encanto, vil.
Viu, em um canto, do cê.
Aquele, qui nunca mais vortemo.
Aquário, que tu nunca dexô eu nadá.
Eu era peixe sem disova.
Agora so encanto de cova.
Doce qui amarguéce.
Amargo qui escurece.
Nado, e inté agora nada.
Ando, e inté o agora, se anda de mim.
Foge, sem dizer pronde.
Aparece, e num piscão se esconde.
Pisca, mas num pisca pra eu.
Dança, mas num dança pra eu.
Come, mas num come de eu.
Ah, se ela sorbesse da minha fome.
Ah, se ela assinasse iguar meu nome.
Ah, se o sonho dexasse de se sonho.
Ah, se o verbu fizesse parte da puisia.

15 maio 2007

Quem és tu criatura?

Quem és tu?
Descobristes hoje que não é mais Poesia?
Entendeu de fato as artimanhas e ciladas de quem se arrisca?
De onde vieste?
Por que vistes?
Por quem vistes?
Por que se vai?
Lembro-me das nossas primeiras palavras, quando ainda conjugávamos os verbos na escuridão. Nossos encontros pareciam-se sessões de descarrego. As lágrimas que escorriam, purificavam e cristalizavam nossas almas.
Nos fortalecemos e começamos a escrever nossa história em páginas semelhantes às de nossas vidas.
Cada rabisco, cada amassado, cada arranhão serviu para unir nossas palavras e catalisar nossos pequenos desejos, nossos pequenos negócios.
Como gente grande amadurecemos, mas a nossa dor nos acompanhou.
Não aprendestes a se desgarrar dela, e, acima de tudo, não cicatrizou o passado recente que ainda está em seus ombros?
Uma semana após o fim, nos conhecemos.
Uma semana de sentimentos mútuos foi necessário para unir nossa essência e torná-los indispensáveis.
Mas quem és tu?
Quem estas por trás dessa saudade?
Essa mesma saudade que reflete o ritmo da poesia, fruto da estrela comum de dois, e que nos fez sentir as palavras que compõem a poesia de nossas almas.
Se hoje estou desnorteado é porque ainda não sei quem és tu criatura.
Não sei se é grande sonho que resiste ao tempo e as melodias falsas. Não sei se é suspiro tépido e cadente.
Não sei se estaremos juntos até o crepúsculo de nossa existência.
Não sei se o amanhã se abrirá.
Não sei se a prosa se curvará.
Não sei se a poesia virá.
Certifico-me de que ainda tenho forças para dar um último suspiro, e sinto as palavras em meu colo. Lembro-me que outrora a essência da minha vida não foi perdida com o tempo, nem levadas pelas ondas, muito menos pelo vento.O fogo ainda não se apagou. Existe uma pequena chama acesa que me aquece e me protege do frio.
Continuo a acreditar que o sorriso é o mérito de sua voz: doce e racional. Ácida e sentimental. Decidida e carente. Virtuosa e Dolorida.
Posso até descobrir que meu verbo não faz parte de nossa poesia.
Mas ... Afinal ...
Quem és tu criatura?

13 maio 2007

Com a ajuda de Graham Bell

Enquanto a tentação paira sobre meus olhos, as lembranças de um amanhã tempestivo e ameno me conduzem ao teu lar.
Hoje estou seguro de que não existe força mais sólida de que a poesia.
Grande sonho que resiste a tempo, espaço e melodia falsa, porque bailo sob o som de uma linguagem que não sabe mais se é ritmo, ou poesia.
Apenas tem a ciência de que a métrica deste conflito não será afetada, pois o afeto desta construção não existe em nenhum idioma. Somente as nossas línguas ansiosas em se tocarem, as compreendem.

11 maio 2007

Raso, vaso, espinho e flor.

Cansei de ser raso.
Cansei de ser vazo.
Cansei de ser espinho.
Cansei de ser flor.
Sou tudo e nada com a mesma intensidade.
Sou fonte e poço, com a mesma profundidade.
O telefone toca.
Espero, enquanto a poesia deita-se para recompor sua inspiração.
Sob sua mente, a lua encandece seu espelho, distante, mas reflete seu suspiro tépido e cadente entre a luz de uma estrela que é comum de dois.
Não é do seu e não é do meu, a poesia é sutil, pois faz de nós instrumento da linguagem, porque eu não sei mais se sou eu, ou se sou palavra.
Regenerado, levanto a cabeça já sem medo de encosta-la nas nuvens. Meu pensar, meu tormento, meu contemplar, unidos transformam o céu acinzentado em uma aurora doce, que nem sente mais o dissabor de quem erra.
Errar é o preço daqueles que não vivem na mediocridade rasa, que transgridem a feição mais clichê dos sentimentos, e que de forma pitoresca questionam os dogmas impostos pela razão e pela moral vigente.
Quero errar sempre.
Quero viver cansado.
Quero esquecer do que é sagrado. Faço essa ressalva, pois as palavras mais sacras e cristalinas da nossa cumplicidade, não desaparecerão enquanto acreditarmos no mesmo sonho, e adaptarmos à nossa realidade, para que eles durem até o crepúsculo de nossa existência.

10 maio 2007

Notícia de última hora

A poesia virá.
A prosa se curvará.
O amanhã se abrirá.
Pode ser ilusão mesmo, já não me importo.
Pela escolha de viver desiludido, colho os frutos da incerteza. Vivo de risco e risco o fósforo que está em suas mãos. Ele que incendeia a pequena chama que estava escondida em mim.
A poesia me deixa feliz por dentro..por fora..pelo avesso...
Suspiro...deixo que ela respire minhas palavras... e aspire meu ar, para as suas inspirações.
Complicado no início, divergente no meio, preciso no fim.
Eis a escolha, eis a escala, eis a escola.
E nessa escola, quando me diziam que era sapo, afirmava que ainda tinha muito a aprender neste brejo insano, chamado vida. Contudo, hoje estou pronto para respirar fundo e fechar os olhos, esquecendo a tolice de ser príncipe e me orgulhando de ser um novo sapo.
Poesia: venha e se perca comigo em nosso brejo.

09 maio 2007

Honra ao Mérito

Sinto as palavras em meu colo. Por mais que esteja frio, hoje tenho que sair com elas. Balanço meus braços de um lado a outro, na intenção de acalentar o frio que é inevitável, pois decidi sair e enfrentar o caminho das contradições e percalços.
A essência da minha vida não foi perdida com o tempo, nem levadas pelas ondas, muito menos pelo vento.O fogo ainda não se apagou. Existe uma pequena chama acesa que me aquece e me protege do frio. Por isso, concordo plenamente quando dizem que para amar as palavras, basta senti-las. Não me precipito em dizer que são elas de amor, por que nem eu tenho certeza do mesmo. São apenas palavras... O poder está no toque de suas palavras, no toque macio que lavam meu sofrer... Meu penar... No toque de nossas linguagens.
Já tentei esquecer o real significado do amor.
Já tentei ludibriar a veracidade das palavras.
Já tentei encontrar racionalidade em coisas feitas por seres pacionais.
Mas a única palavra que surge após estas tentativas é o fracasso.
Sim, um fracasso com gosto de sucesso, pois a felicidade que transborda dos olhos de quem ama, é tão sincera quanto a lágrima que escorre do peito de quem permite se confundir com o mérito de nossa voz: o sorriso.

08 maio 2007

Desilusão?

Enquanto pensava que sua tristeza era apenas uma gota d'água, diante do infinito mar que se escondia em seu sorriso, não relevava que a singela esperança poderia ser apenas mais um fruto da ilusão.
Apenas mais uma desilusão tola e infantil, que tem como verdadeiro o encanto ao invés da racionalidade.
Mas não. Ela é doce e racional. Ácida e sentimental. Decidida e carente.
Vive também de contradições. E isso sim é desilusão.
Saber que estás à espera de uma resposta, que se consome na ânsia de um comentário, me deixa desiludido.
Honestamente pensara que toda aquela fragilidade não se passava de um momento de deslize de sua racionalidade. Mero engano.Sua fortaleza se fortifica na incoerência entre os seus atos e suas palavras.
Quando alguém consegue transformar um dia péssimo em um dia encantador, esse alguém merece uma atenção especial; Entretanto, se tens o dom da transformação apenas com as palavras devemos multiplicar a atenção.
Nessa matemática nada exata, questões e problemas se somam, mas as novas palavras que surgem, os neologismos, nos transportam à outra sala de aula. Letras e ensinamentos mútuos nos contemplam com a nota máxima, quando tínhamos tudo para sermos reprovados.
Certa feita disseram-me que eu tinha tudo para viver chorando. Mas é por momentos assim, que a tristeza se perde, a alegria nos encanta, e a tristeza se abraça com a desilusão, pois “quando os sentimentos adquirem lógica é porque desconsidera-se o lado sentimental”.

04 maio 2007

Bruços

Debruçado, solitário no afago da dor.
Contaminado pela tolice vã do amor.
Foragido dos sonhos mais deliciosos,
E indiciado pelo crime de ter fé.

Coexiste a ignorância de quem acredita,
E a pureza de quem sempre se habilita.
Constantes são seus desejos alucinógenos,
Determinado pelo tempo, não foi, apenas é.

Não sabe até quando sua alma existirá.
Mas com bravura, vive sem se encontrar.
Tropeça, esbarra, vive de marra, vive na farra.

Levanta, se encanta, se espanta com o sol.
A noite, sem açoite, debruça sobre o farol.
No horizonte, não vê mais medo. Vê apenas seu segredo.

27 abril 2007

Cheiro de Recesso.

Sinto apenas o cheiro.
Única lembrança de um tempo em que a felicidade não pedia licença para invadir as frestas da janela de nosso quarto. Agora, do meu quarto.
Ao te deixares naquele dia, meu orgulho se alimentou de uma soberba nociva e coerente.
Acho que todas as coisas aças coerentes despertam o sentimento mais idiota no ser humano.
Não vivemos de coerência, por mais que possamos ser racionais.
Não vivemos de argumentos, por mais que sejam adoráveis nossas incertezas.
A incoerência é um dom, uma dádiva, que rejeitamos de forma inerente, sem perceber mesmo. Talvez por distração, talvez por sentirmos prazer em sofrer e quebrar a cara.
A incoerência é o cheiro da vitória renegada.E esse cheiro, que exala por nossos poros, que emana de nossa consciência, nada mais é que a certeza de que o amanhã poderá ser diferente desse recesso.

16 abril 2007

Artigo Indefinido

Uma luz. Meio opaca, meio ofuscada, mas mesmo assim, uma luz.
Uma cruz. Um tanto quando surrada, um tanto quanto glorificada, mas ainda uma cruz.
Uma esperança. Talvez um pouco tardia, mas que ainda se apresentou como uma esperança.
Uma crença. Quem sabe deveras ludibriada, mas que ainda se pode crer.
Uma doença. Que destrói o pensamento racional saudável, mas não deixa de ser uma doença.
Um lance. Jogado sem muita destreza,ou habilidade, mas que pode ser o grande lance.
Uma chance. Um tiro no escuro, um salto de um muro, afinal, cair em pé, é uma chance.
Um artigo, uma mercádoria, uma matéria, uma singela parte, que em suas confusões e indefinições, fazem da vida, a parte articulada da lei de nossa sobrevivência.

04 abril 2007

A Praia Da Saudade (Parte 1)

Contráriando às recomendações do Doutor Ferraz, Almeida enfim pôe os pés na rua.
Em pleno estado de repouso, guardando vigília, se cansa da rotina de doente e resolve dar um passeio breve na orla. Mal sabe que não seria tão breve assim.
Ainda cheirando ao álcool de farmácia, entra no bar e substitue o composto: sai o cheiro que por uma semana foi seu único companheiro, e entra em seu corpo o cheiro de álcool etílico, seu companheiro de toda a vida. Não poderia trair seu fiel amigo.
Caça uma moeda de cinquenta centavos para pagar a dosinha. Procura e o suador começa a exalar pelo seu corpo o líquido de sua vergonha.Muitos bolsos para pouco dinheiro, muito suor para pouco trabalho, muitos anos trabalhados para poucas conquistas.
"Ah, Joana..."
Aquele corpo moldado por Deus em dia de inspiração, realmente causou estrago na alma surrada de Almeida.
Sai, mas antes pega um côco para dar uma salvada. Quem aguenta um calor de trinta graus? Um enfermo?
Transpira feito um condenado, mas não perde a chance de atravessar o calçadão.
Pensou que nunca mais iria colocar os pés na areia da praia. Turrão e obcecado, recebe o presente que tanto aguardou: A visão da Praia Saudade.
"Que praia maravilhosa!" exclama ao seu coração, como se fosse um murmúrio.
A Praia da Saudade é relamente explêndida, mas em breve, Almeida descobrirá o real sentido daquele pedaço de perdição.

Continua...

02 abril 2007

Quanta saudade do tempo, em que minha única preocupação era a de ser feliz.

Parece que foi ontem.
Talvez me distraí enquanto pensava em ter realização profissional. Nunca quis ser um grande homem de negócios. Às vezes, a escolha pelo caminho mais simples, não garante que esse caminho será mais curto, tampouco menos severo. Faço o que não gosto. Sou relativamente bem pago para isso, e, devido às circunstancias atuais, me prostituo numa fábula real. Poderia ganhar menos, mas... não...continuo. Sei que sairei em breve, não tenho mais motivos (exceto os financeiros), para continuar naquele ambiente. E se fosse apenas esse o motivo da minha vida de puta estaria tudo “ótimo”. Se quem me deve me pagasse, estaria com muito mais chances de me desvincular daquilo que mais agride minha dignidade. Mas, relembrando, sou pago.
Quem deveria me pagar finge que nada aconteceu, e que as dívidas caducam assim do nada, como em um audacioso truque de mágica.
Sei que tudo isso é enfadonho. Que todas essas palavras são batidas para quem me conhece, e indiferentes para quem não tem contato comigo, mas pelo amor, se eu não puder dizer isso aqui, caralho, onde mais direi? Essa página continua sendo minha, cacete!
E hoje, eu juro que gostaria de escrever algo mais alegre, mais positivo, mas quanto mais eu iluminava com o sol as palavras, mais nebulosos eram meus pensamentos, que praticamente anularam a chance de aparecer algo mais “fofinho” por aqui.
Estou em frente ao espelho, dizendo o que eu sinto. Dizendo o que eu vejo. E , na tentativa desenfreada de ver o que eu sinto.
Que saudade daquele tempo!
Como era bom ter que me preocupar apenas com a semana de provas no colegial.
Que delícia era ter apenas a função de “boy” em casa. Por mais que ficasse preso em uma fila de banco, o dinheiro vinha do papai. A fatura era do papai. Mesmo com as despesas do filhinho.
É, o mundo deu uma bela guinada, e hoje estou do lado de cá do balcão, vendo os mesmos guris uniformizados com cara de tédio, enquanto esperam na fila.
Mal sabem eles que estão no melhor momento de suas vidas.

29 março 2007

Tapete Vermelho

Dissera apenas o que queria escutar em seu subconsciente.
Aquelas palavras, que por muito tempo se perderam e não tiveram nenhum sentido, ganharam contornos mais decisivos após seu último discurso.
Pela primeira vez, tornara-se o orador oficial de seu coração. Desprendeu-se dos vínculos, vícios e tolices, que, sem pestanejar, tinham o ofício de destruir sua coragem.
Disse com vontade.
Disse sem pudor.
Rasgou a decência, driblou a moral e ludibriou a santidade.
Poderia apenas chamá-la de vaca, mas queria mais.
Estava cansado de relatar as coisas de forma superficial. Foi a fundo, e profunda foi a sua voracidade. Não comeu palavra. Sua fome era outra, mas não poupou esforços. Não disse meias palavras.
Disse inteiro, se realizou por inteiro, se sentiu inteiro, como se aquele sentimento prazeroso fosse o pagamento de seu quinhão naquela história.
Pleno em sua soberba deliciou-se mais um pouco, enquanto via todo aquele sangue escorrendo.
E aquele tapete, que tanto foi motivo de reclamação, por estar sempre opaco ou acinzentado, enfim, ganhou coloração hollywoodiana.
Cansou-se, mas não se arrependeu.
Abriu a geladeira, pegou uma cerveja, passou sobre o corpo e avistou o sofá.
Sentado, mandou cevada para dentro de sua consciência, e observou a obra de arte mais devastadora que seus instintos primitivos produziram.

10 março 2007

Carinho Virtual

Certa vez ouvi de alguém: "Queria um computador que fizesse carinho, que falasse palavras bonitas".
A princípio acreditei ser apenas mais um momento de carência daquela pessoa. Mas o estranho é que eu nunca me lembrei de um misero instante ao qual ela se sentiu frágil e desprotegida.
Algo estava errado.
Ou ela encontrara em mim confiança para dizer o que é óbvio: que por trás daquela máscara de bravura e determinação, existe um ser confuso e complicado, muito semelhante à quase todos nós; ou ela estava naqueles dias de extrema fragilidade, dias que qualquer reminiscência, provoca o maior estrago em nosso humor.
Depois dessas palavras, pouco mais falou.
Se calou na conversa dela com ela mesma.
Como diria Platão, essa conversa, que também conhecemos pelo nome de silêncio, nos faz encontrar o nosso eu ideal.
Talvez ela esteja em silêncio, porque não quer mais entrar em conflitos com o que te abala ou perturba, ou simplesmente pelo fato de não querer mais falar comigo. Ela tem esse direito. Todos nós temos.
Mas temos o direito também de escapar disso, seja fazendo barulho, seja refletindo com a maior eficácia sobre nossos problemas.Não podemos apenas ficar parados, pois a estagnação nestes casos, nada mais é que um documento assinado por nossa consciência de que temos uma dívida e que estas contas deverão ser pagas com a nossa dor e sofrimento.

07 março 2007

Que falta fez o Word agora...

Nunca escreva um texto em wordpad.

Vai que depois de quase uma hora pensando feito um filho da puta, a luz acaba???

Sim, isso é o tipo de coisa que acontece comigo.

A história fica pra depois, preciso antes recuperar minha confiança em pc's destruidores de idéias.

05 março 2007

Parada Cardíaca

Ela queria apenas mais uns dias para pensar.
Refletir, ter em mente a certeza de que estava fazendo a melhor escolha.
Pensou, e após aquela semana de angústia, chegou a uma conclusão: deveria ficar sozinha.
Fumou um cigarro, tragou-o como quem suga seus pecados e arrependimentos, e da janela de seu quarto começou a arquitetar a forma mais simples de dizer tudo que iria acontecer a partir daquele momento.
Mas a grande verdade implícita consistia em dizer a ele tudo aquilo que não iria mais acontecer após aquele instante.
Toda essa difícil e contrangedora situação foi resolvida quando, de forma inesperada, o telefone tocou.
Sua saudação não foi cordial como outrora, e até o mais inepto e insensível ser perceberia que algo estava errado.
O cidadão, não tão inepto e tampouco insensível começou a fazer sua apólice de seguros, pois sabia que naquela noite algo fatal iria acontecer ao seu coração.
Os dois conversaram, e polidamente decretaram o fim de uma história que mal começou.

Odeio histórias mal resolvidas!

No mínimo ela já não sente remorso ou arrependimento, pois ele demonstrou total compreensão e não quis forçar uma situação.

Será que não seria a hora dele dizer mais do que realmente sente, para quem sabe solidificar a confiança, ou pelo menos ludibriá-la?

Mas o cidadão não o fez.

Decidiu apenas que continuará errando em busca do acerto e acertando quando faz tudo errado, como por exemplo, quando deixa seu coração ter uma parada cardíaca, e é vencido pela racionalidade.

24 fevereiro 2007

Minúcias Despidas

Conflitos intensos nas minúcias da alma.
Cada fragmento representa tudo aquilo que não existe, tudo aquilo que não tem representatividade. Tudo aquilo que supostamente seria vazio. Mas não é.
Segmento por segmento, passo a passo, a confusão instaurada em seu coração começa a tomar conta da razão, deixando-o completamente refém de milícias sentimentais, que apoderam-se de seu corpo, cobrando pedágio caro para quem não esperava gastar nada.
Talvez esse seja o preço de quem se arrisca e se expõe dessa maneira, mas sem arrependimento, continua. Não sabe para onde, nem até quando, apenas continua.
Sente a impressão de que já dissera ou pensara tais palavras, mas em meio à tantas dúvidas, não se pode dar ao luxo de questionar este pormenor. Tem apenas que seguir. Em frente, torto, desconexo, desaprumado, não importa! Segue.
A intensidade chega ao seu ápice.
As minúcias se unem embaralhando todo o senso crítico.
Já não sabe mais o que é alma, o que é sentimentalismo, o que é racionalidade e o que é paixão.
Sabe de pouca coisa não é verdade.
Mas sabe, que entre todas essas dúvidas está a sua felicidade.
Intangível à um olho nu, mas explícita na felicidade de dois corpos despidos de arrependimento.

08 fevereiro 2007

Fruto de uma bela Foda

Entre a Consolação e o Paraíso... Não sabe ao certo em qual alameda, muito menos em qual beco escuro, foi projetada.
Talvez pelo simples fato de não ter sido gerada com projeto, ou alguma premeditação.
Foi feita no improviso, na adversidade, na luxúria, mas acima de tudo, manteve a sensibilidade de seus pais, que mesmo em plena loucura, jamais esqueceram o significado da palavra amor, essa mesmo que hoje em dia é tão deturpada quando é dita.
Kacey Luna, nome no mínimo peculiar, mas que trás em si uma força estrondosa.
Das iniciais de Kurt Cobain, surge o primeiro nome, enquanto o segundo, faz alusão a Lua, seu brilho, sua intensidade, e suas fases.Versátil como a Lua, genial como uma estrela do rock, a história de Kacey em breve marcará esse espaço, também com todas as suas nuances, suas derrotas, seus vícios e todas as adversidades que em seu sangue misturam-se com suas glórias.

26 janeiro 2007

Um vadio no divã

"Vem meu menino vadio, vem sem mentir pra você.
Vem, mas vem sem fantasia,
Que da noite pro dia você não vai crescer".

Chico Buarque


Um menino se foi..
Um homem se apresentou...
Um vadio assumiu o comando.

Dos tempos de menino, o novo comandante tenta apagar da memória qualquer resquício de inocência e pureza.
A doçura que outrora transpareceu reluzente em cada simples sorriso, amargou-se no desprezível olhar vulgar, que voluntariamente mira suas vítimas.
Plural complicado e desconexo: Vítimas!!!
Vítimas que não passam de um adorno para o ego carente do comandante.
Percebe-se que o capitão tem muitas falhas, mas a principal delas se materializou en algum momento da transformação do menino em homem.
Não podemos afirmar que este não presta mais. Contudo, devemos espalhar aos quatro ventos que este homem não prestava até este exato momento.
Neste instante, a criança alegre volta ao comando, apresentando ao novo homem formas mais puras e encantadas de transformar sua vadiagem novamente em erros banais e compreesíveis da razão humana.

Um vadio se foi...
Um homem se reapresentou...
E o coração do menino finalmente voltou a bater.