29 maio 2007

O Tocar

Se disserem a ti que temos tudo em nossas mãos, mas que, às vezes elas não são tão fortes e perfeitas para quando fechadas agarrarem o que queremos, sem deixar escapar a felicidade, certifique-se que, nestas palavras, o medo reside.Trata-se de uma batalha entre o 1% contra o 99%. A fresta da lacuna, que não pode ser preenchida, e não se sabe por qual razão. Nessa frase está implícito (ou explícito, depende da ótica), que 1% de risco, é o que basta para o medo. É a lacuna que fica. A fresta que deixa a insegurança entrar sem explicação.
Mesmo se eu soubesse qual a proporção para a felicidade, não a divulgaria. Convém a todos o sofrimento. A angústia, o penar. É devido a todas essas aflições que o medo existe e que a capacidade de abstração do ser humano é aflorada. Se o céu ficasse azul durante toda a eternidade, iria sentir saudades dos tempos nebulosos, em que olhava aquele céu acinzentado, recoberto por nuvens espessas de mágoa e frustração. E tenho certeza que não seria o único.
O senso comum pode sim ser contraditório.
Muitos ainda acreditam que seria bom se, por exemplo, na lotação, ao invés do motorista sintonizar a rádio mais “teen” e “modista”, estivesse tocando um CD de grandes obras de Beethoven; que seria maravilhoso andar em praça pública e escutar ao fundo um vendedor de calçados cantarolando “Alvorada”; e que seria uma experiência única, observar os homens trabalhando no mais novo complexo habitacional da cidade, e entre um tijolo e outro, fazendo um batuque seco com suas pás ao som de “Construção”.
Outros crêem que o “macaco adora banana, porque este é o único alimento que lhe servem”.
Sinceramente, não acredito nesses adágios.
Às vezes, creio que se o gosto popular fosse refinado, o gosto elitizado, por sua vez, seria um poço de asneiras transbordando obras rasas. Se o macaco começasse a comer morangos, seu apetite iria diminuir sentir saudades dos tempos que comia a boa e velha banana.
Nesta batalha egoísta, o sofrer transforma-se em altruísmo. Com toda a sua potencialidade, este sofrimento se disponibiliza a ajudar ao próximo, abnega-se da alegria, e se recolhe em nossas mãos. Àquelas mesmas, que, por vezes não são tão fortes e perfeitas, para quando fechadas agarrarem o que queremos. Apenas escrevem palavras. Estas, desnecessárias, pois se o medo não às dominassem, de certo estaríamos em silêncio, contemplando o tocar de nossas mãos.

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