25 setembro 2007

Canta o Desafio

O teu olhar
Desfila em cores,
Sem pudores o nosso amor.
Canta o desafio:
Da trova fez-se o samba,
E do samba o trovador.
Deixa o som calado
Esquece o barco,
E esnoba o velho mar.
Corre pela praia,
Sem rumo ou remo
Não fingimos ao luar.

Dura é a sentença,
Que cobre a crença
De um dia ser feliz.
Mais ingênuo é,
A voz que abafa a fé,
Fingindo o que não diz.
Mudo ou difuso,
Derrama o esboço,
Do projeto que eu lhe dei.
Junto aos meus sonhos,
Junto ao meu pranto,
Nessa prole eu sou rei.

Réu do teu sorriso.
Tão impreciso
Quanto o fel dos beijos teus.
Gosto do desgosto.
Bondade sua,
Entregue às mãos de Deus.
Vela pela sorte,
Vaga pela noite
E se rende ao esplendor.
Conta ao teu amigo,
Que és teu abrigo
És seu verdadeiro amor.


O teu olhar
Desfila em cores,
Sem pudores o nosso amor.
Canta o desafio:
Confessa ao acaso,
Os passos da tua dor.
Deixe-me ao teu lado
Que até calado,
Prometo lhe seguir.
Me espere na mesma praia
Que o sol já vem,
Pra nos abraçar.

O sol já vem pra nos abraçar.
O sol já vem pra nos abraçar.
E se não vir ...
Quem virá?

20 setembro 2007

Bomba sem Relógio

Gostaria de ser uma bomba-relógio.
Ter hora exata para explodir, e fazer com que o esquadrão anti-bombas se prepare devidamente para aliviar meu coração.
Mas nem isso eu posso.
Não posso alarmar, ou ao menos deixar aviso de que não estou bem. Tenho que ser forte, pois não haverá quem faça a opção pelo fio vermelho. Vai que era para contar o fio azul?
Tenho que seguir, me levantar, esquecer de que em poucos minutos atrás eu tinha plena consciência.
Vejo o mundo rodar, ouço um forte zunido e apago.
Por poucos segundos ainda reluto, mas em seqüência desvaneço, e acordo com uma dor enorme e um sentimento de que mais uma vez fui vencido por um mal que não tem pressa em se dissipar.
O corpo dói, e após a escuridão tenho que confabular, por mais uma vez, a esperança de que tudo ficará bem. Mas, sinceramente, não estou crédulo disso.
Cansei de ser um campo-minado.
Os passos que dou, já não dependem de mim.
Por mais que eu acredite que está tudo bem, por mais que eu me resolva, por mais que as coisas comecem a progredir e eu não deixe nenhum imbróglio disperso, eis que surge uma bomba. E eu piso, sem saber o porquê.
Explosão certa...
Peço a quem tem fé em Deus, aos céticos, aos que me amam e até aos que me odeiam, que orientem sua crença para que eu não seja obrigado a explodir. Lógico, quem tem raiva talvez queira mais que eu me exploda mesmo, mas se for possível, esperem para que eu me levante, vençam com dignidade, não se favoreçam de quem está no chão, indefeso.
E é com essa sensatez que procuro forças, não sei de onde, para mais uma vez me erguer.Em pé, quero mostrar ao mundo que não mereço essa situação, mas se o mundo quer mesmo que eu mereça, que ao menos instale em mim uma bomba-relógio eficaz.

15 setembro 2007

Olhares

Passa sem pressa, mas passa.
Dói, mas reflete o que constrói,
E o que não existe mais
E existiu mesmo?

Um tiro no escuro é mais certeiro,
Do que os improvisos do amor.
Intempestividade sem precedentes
Que não tem pressa de cessar.

Feliz é a criança que ama sem
Pedir retorno, sem interesse.
Ou otária, porque não sabe o
Quanto é bom o egocentrismo.

Altruísmo é coisa para os fracos.
Bom mesmo é se amar.
Melhor então é a amargura.
Doce sabor de quem não se importa com nada.

Que se foda o mundo.
Que se foda a humanidade.
Melhor mesmo é olhar pro nada.
Melhor mesmo é não ter nada pra olhar.

O sol é para os fracos.
Bom mesmo é cair na noite.
Na escuridão, inflar a mágoa.
Tecer o caminho de quem está perdido.

Que o mundo não me foda.
Que a humanidade me esqueça.
Melhor mesmo é olhar pro nada.
Melhor mesmo é não ter nada pra olhar.