24 setembro 2015

Refúgio



Existem fotos que não precisam de legendas.


Na última quarta-feira, o fotógrafo Búlgaro István Zsíros teve a felicidade de sentir a mais nobre sensação da sua profissão: estar no lugar certo e registrar o click perfeito.


Em Keleti, a principal estação ferroviária de Budapeste, István capturou a cena de um casal rodeado por mais de 2.500 refugiados sírios.
Talvez sem se preocupar com o amanhã,  ou quem sabe um beijo para fortalecer a união em um momento de desespero.


O que importa é que o carinho entre os refugiados correu o mundo e deu um pouco mais de esperança a quem ainda acredita no amor (aquela parada que fica entre o orgulho próprio e a vontade louca de abraçar árvores pela manhã).


As principais agências de notícias do mundo repercutiram a foto como um momento raro.


Importante feito se lembrarmos que esta é considerada a era de celebridades descartáveis e notícias bombásticas do tipo "você não pode dormir sem saber".


Não era uma modelo tomando sol na praia, uma atriz em um show de rock, ou um sertanejo passeando com o cachorro.


Quem sabe esse beijo foi mais um suspiro agoniado da humanidade, que no fundo só quer um refúgio para se amar.

14 junho 2015

Não Respiro Sem Você

Não respiro sem você.
Um dia tentei, mas quando achei que tinha ar no peito, era apenas desilusão.
Não confio sem você.
Já tentei acreditar nas pessoas, só que quando dei credibilidade demais, perdi a confiança em mim mesmo.
Não danço sem você.
Ensaiei alguns passos, quase criei algumas canções, porém a pista sempre fica vazia sem você.
Não decido sem você.
Todas as opções estão na mesa, olho para cada uma delas, mas sempre viro para o lado esperando você apontar o caminho que devo seguir.
Não durmo sem você.
Por você eu perco o sono, os sonhos, enquanto a noite se faz de ingênua.
Não respiro sem você.
Da desilusão que vivi, do ar que me faltou, sobra apenas o dia que não tentei.

05 janeiro 2014

Nem Anakin, Nem Vader.

Em Star Wars, o jovem Anakin Skywalker tinha tudo para ser um lendário cavaleiro Jedi.
Assim como Neo de Matrix, em seus ombros foi depositada a esperança do surgimento de um escolhido: Um ser profético e mítico que traria equilíbrio à Força e destruiria os Sith(ordem de guerreiros seguidores de um lado sombrio).
Nas palavras do personagem Obi Wan Kenobi “A Força é o que dá ao Jedi o seu poder. É um campo de energia criado por todas as coisas vivas, ela nos cerca e penetra. Mantém a Galáxia unida”.
Mas Anakin não teve a sorte necessária para traçar o mesmo caminho do herói de Matrix. E nem foi uma questão de escolha entre a pílula vermelha ou azul.
Durante o trajeto para o “estrelato profético”, o garoto não hesitou em falhar. No momento mais decisivo – quando a transição para a vida adulta era necessária e todos os ensinamentos lúdicos e treinamentos morais deveriam florescer – Skywalker foi fraco e se deixou levar pelo mal, seduzido assim ao Lado Negro da Força.
Quando sucumbiu ao Lado Sombrio, enfim o menino escolhido mudou a alcunha. Deixou de ser Anakin e se proclamou Darth Vader, o Lorde Negro dos Sith.
Assim como nas premissas das sequências cinematográficas, a vida muitas vezes tem etapas que nos posicionam entre dois lados, geralmente confrontando o bem e o mal.
Não gosto de acreditar que em tudo existe uma polarização entre certo e errado, bem e mal, verdade ou mentira. Aceito a ideia de que entre as milhares de dualidades possíveis, habita-se um amplo plano de variações e um universo que faz com que nossas atitudes e ações possam figurar entre um lado ou outro. Não somos totalmente maus, ou predominantemente bons sempre. Todo mundo tem seu dia de Anakin e possivelmente uma jornada pontual de Darth Vader.

Nem todo ser escolhe a pílula certa e salva a humanidade como um Jesus Cristo do Século XXI. Nem sempre quando recebemos uma chave que abre as portas do mundo sombrio devemos achar que mudamos de lado. Às vezes podemos abrir um portal de um novo mundo, sem interferências do lado sombrio, buscando apenas ser o jovem aprendiz Jedi que só queria voar e ser feliz, não se importando com o peso do amanhã.

19 agosto 2013

Suave Voz

Como a suave voz de suas entranhas
Partilhou estranhas palavras sem voz.
Cuspiu no orgulho que o feriu
E feriu os orgulhosos que cuspiram em si.
Mandou prender a sua liberdade
E pelo sonho de ser livre se prendeu.
Não observou o trânsito pela janela,
Apenas transitou e da janela se viu.
Nos olhos, um pesar pedante.
Na alma, somente a piedade o olhava.
Lançou o corpo para fora do carro
E ao pousar os pés no solo, perdeu o chão.
Sem  chão, sem teto, sem rumo, sem prumo.
Aprumou as migalhas de si
E se fez pão a uma languida ave
Que, ao voar,

Deu vida a suave voz de suas entranhas.

05 fevereiro 2012

New Revolution

Sempre achei que entraria todos os dias em meu blog para expor um ponto de cada assunto latente da semana, ou debater algo que estivesse acontecendo in loco.

 Os anos foram se passando e o cheiro de mofo e a poeira começam a novamente pairar sobre essa página. Prefiro não pensar que estou sem inspiração, pois no momento o que mais circula em minha mente são pensamentos libertários e revolucionários, tão clichês quanto os de outrora.

A diferença é que a minha revolução é para dentro, foge completamente de qualquer espírito macro e vem contemplar somente o meu microcosmo existencial. Em poucos dias, deixarei de ser uma parte de um elemento familiar e começarei a ser o embrião de uma nova família. Uma nova perspectiva se abre, uma antiga se fecha.

A responsabilidade familiar, agora com o papel de líder por direito adquirido, tende a ser um diferencial que vai causar certo pânico e um desesperador frio na barriga, todos os dias quando o sol se apresentar pelos lados da Estrada de Itapecerica.

Mas será nessa hora que a revolução vai se completar, pois ao meu lado não haverá parede fria, ou estrado da cama de solteiro. À minha direita, estará a Olga do Prestes, a Yoko do John, a Evita do General Perón, a razão da minha felicidade plena.

Uma mulher pode mudar completamente a vida de um homem quando este busca ser ajudado. Eu busquei, por mais de 25 anos, sem rumo, degenerado, fazendo as maiores loucuras, muitas delas sem arrependimento, outras com profundo pesar. Fiz o que fiz, desfiz quando era para ser feito, mas no fundo, um alarme sempre disparava alertando que era evidente que o copo estava meio vazio, sem brilho.

Quando encontrei a mulher da minha vida, ainda tive o luxo e a imbecil chance de dizer não ao destino. Entrei em contradição, mormente por acreditar que a vida precisa de adrenalina a todo o momento, de aventuras sem governo, quando o que é mais sacro na existência de um ser é a capacidade de ter uma estadia em paz e feliz ao longo do tempo em que hospedamos este mundo.

Daqui alguns dias, vou conhecer o palco de um novo show, uma nova casa para habitar a ventura da bonança que nos aguarda.

Não será o mar de rosa desenhado nas animações infantis, mas prometo que serei muito mais empenhado que qualquer príncipe lendário e terei orgulho de sentir o amor que hoje sinto por uma mulher que me revoluciona a cada olhar e me liberta a cada beijo.

17 novembro 2011

Serenamente

« Não Era Sereno »



Como um mísero e patético erro,

Caiu – solitário – ao tentar me alvejar.

Da ponta dos pés, ao topo do cabelo,

Viveu a queda em desarmonia.



Mais além, descobri que ser patético

Era a arte de ter emoção em excesso.

Fui buscar na queda a rijeza que faltava.

Edifiquei o coração,

Bloco sobre bloco.



O vento tremeu os pilares,

Mas a tempestade cessou.

A obra já poderia ser habitada.

Se a morada estava pronta,

A mobília que chegou era para um só.



Durante o crepúsculo,

Anunciei vaga e bons precedentes.

Em cinco linhas,

Fiz comercial da minha alma

E mandei publicar.



Na aurora seguinte,

Meu futuro estava nos classificados.



« Aguardei Serenamente »



Quando quis fumar, desisti.

Quando fui beber, salivei.

Pensei em sair,

Mas não achei as chaves.



E quando estava desistindo,

O Telefone tocou.

Era uma voz doce.

Não tinha embargo,nem embaraço.



Em mensagem clara e sincera,

Ouvi exatamente o que era desejado.

O quê, por uma vida inteira,

Sempre ansiei:

“Estou pronta para sua paz”



Em um novo amanhecer,

Na cama, lá estava ela.

Feliz e apenas me esperando.

A abracei, fechei os olhos,

E ali começamos nossa eternidade.



« Serenamente »

08 novembro 2011

Queimando Tudo

Eles foram presos no raiar do dia, ainda bastante cedo para estarem acordados.

A polícia designou mais de quatrocentos homens para fazerem a varredura da USP, e logo a situação estava resolvida. Ao optarem pela invasão no início do dia, os policiais evitaram o confronto direto, que certamente seria sangrento e deixaria sequelas na imagem da corporação perante a mídia e a sociedade.

É tão estranho, quando 28 anos depois, você é obrigado a concordar com uma ação policial.

Os estudantes almejavam liberdade, e como forma de protesto ficaram reclusos.

Resistência tiveram, bradaram, se organizaram, mas o final foi previsível.

Agora se voltam novamente contra a mídia e a opinião pública, com frases de efeito como “Chega de repressão”, “Abaixo a Ditadura!” e blá, blá, blá.

Sabemos que existem lá alguns estudantes que batalharam para chegar aonde chegaram, mas essa fatia não passa de uns vinte por cento, se muito. Os 80% restantes, desde a pré-escola frequentaram instituições que aguçaram seu desenvolvimento psíquico-intelectual e o raciocínio lógico, em escolas particulares que deram o devido embasamento e preparo para a época dos vestibulares, e não suficiente, ainda tiveram o reforço dos cursinhos preparatórios. Vaga garantida, decerto.

Nas intermináveis festas nos Campus, nos Jogos em cidades distantes onde tudo é possível, nas repúblicas, todos sabem qual é o tipo de “combustível” que alimenta a diversão desses revolucionários.


Devido às prisões no campus e a contestação contra a ação da PM na prisão dos estudantes por uso de maconha, fizeram o que acharam justo e revolucionário. Invadiram e agora tomaram a invasão. Toma lá...

Mas desta vez, – eu que sempre fui a favor da defesa dos direitos constitucionais, da liberdade irrestrita e da certeza de que não existe pior mazela que o fim dos anseios individuais –, me curvo a aceitar as ações policiais.

Os estudantes da USP queimaram minha paciência até a última ponta.

06 novembro 2011

Lá Era o Aqui Todo Dia

Ela quis chegar lá,

Mas nunca percebeu...

Que lá era o aqui todo dia.

E nunca entendia

Que o mundo era seu.



Sua cama a gelar,

E o olhar a perder...

O brilho que se convergia

Era a sua família,

Era você e eu.



Sempre fez...

Pra deixar de pensar.

Só pensou...

Em deixar de fazer.



Teve a chance de nos compreender,

Mas fingiu sempre esquecer.

E hoje finjo que nos entendemos,

Mas nunca me entendo se estou sem você.

06 outubro 2011

Vanguardas do Tempo


Das vanguardas do tempo, estive à frente.

Atrasei-me durante um sonho, de soslaio, regressei.

Acordei no emboco suave de sua pele.


Seu abraço confortou meu soluço.

Desembarguei a voz, deixei-me em teus braços.

«Fizemos um desjejum d’alma.»


Juramos fidelidade incondicional.

Nós, mortais de vanguarda – viramos unidade.

Um sonho real, uma realidade sonhadora.

Um documentário poético de nossas angústias.


Lástimas ficaram para trás.

«Ventura nos revigorou.»


Enquanto a batalha se expandiu,

Escondi meu exército em teu coração.

13 agosto 2011

Tudo começou em uma primavera. O ano era 1981. Duas crianças brincavam no quintal do vizinho do lado esquerdo, enquanto a mãe berrava constante para que viessem para o almoço. As crianças não tinham a menor intenção de entrar, pois sabiam que quinta-feira era dia de abobrinha com vagem. Correram para o meu pátio, deixando as bolinhas de gude caírem num harmonioso tilintar que deixava o rastro de onde pretendiam chegar.
O sol cobria todo aquele começo de tarde. Enquanto as duas criaturinhas vizinhas entravam para a alimentação de costume, voltei para minha mesa em busca de inspiração. Nada me vinha na cabeça e decidi que era a hora de fazer uma abrupta pausa. Peguei minha boina preta e saí para refrescar a mente.
Um maldito motorista apressado quase me atropelou, quando atravessava a faixa. Era uma Brasília amarela-manga, de algum modelo clássico dos anos 70. Fui à Praça dos Velhotes, meu principal refúgio, mesmo tendo apenas vinte e seis anos. O cargo de redator estava me consumindo, e os meus neurônios estavam cada vez mais degenerados. Não tinha mais inspiração.
Dois senhores com rugas latentes jogavam Ludo em uma mesa improvisada, enquanto viam seus parceiros alimentarem todos os tipos de aves, mormente os pombos. Pensei que no parque voltaria a ter algum tipo de lampejo, mas meu conhecimento sobre as coisas da vida estava a cada dia mais improfícuo.
Ainda tentei esboçar alguns traços de pensamento, mas tamanho era o meu bloqueio que se tivesse um menino de oito anos ao meu lado, relatando como fora suas férias, teria mais sucesso e lucidez do que qualquer palavra que busquei colocar no papel.