27 junho 2008

Morada Minha

Talvez um vilarejo...

Um bairro nobre, quem sabe.
Casas simples, mas
Com molduras pré-fabricadas.

Na vizinhança,
A associação de moradores
Se reúne.

A Ata: A morada minha.

Eles querem grades...
Eu quero área de lazer.

Eles constroem guaritas...
Eu destruo muros.

Eles pagam condomínio...
Eu pago pra ver.

Eles me alugam...
Mas a escritura minha,
Jamais terão em mãos.

18 junho 2008

Eis o Prazer - Sem Explicação

Mas essa liberdade,
Parece-me pouco livre.

Muito detalhista,
Dizem.

Geralmente a liberdade é livre
De qualquer explicação.

Se parardes para detalhar
Perderás muito tempo.
E quem recompensará?

Tempo perdido,
Nem sempre é tempo vivido.
Mas tempo vivido,
Não se perde no tempo.

Não espere mais.
Não viva menos.
Não explique a tua liberdade,
Não permita isso.

Apenas permita-se.
E se não for pedir muito,
Permita-me.

Eis o Prazer

Liberto,
Não sente mais sua consciência latejar.
O melhor remédio, o tempo,
Tratou cada detalhe
Com o máximo carinho,
Para que não ficassem rusgas,
Para que nem mesmo o passado
Fosse lembrado como tempos de outrora.

Fresco na memória,
Revigorado,
Parece memória do presente,
Aspiração do futuro.

Eis o prazer da liberdade.
Eis a liberdade.

Muito Prazer.

16 junho 2008

O Último Sonho

Não lembra o idioma:
-Corre...gooooooo.... ruuuuuuuuun...!
Sabia que deveria seguir o conselho.
Ela, que sempre quis ser personagem, que até aula de teatro fez, estava no centro da cena mais eletrizante, que nem mesmo Tarantino teria pensado com tanta propriedade.
Mas não correu.
Pensou em Isabella, a guria que ainda dava algum sentido para sua melancólica vida.
Ficou.
Protegeu a pequena Isa, e pagou pela escolha.
Dois anos de reclusão.
Digna!
Lembra bem da cilada. Ele falou que não teria nenhum problema, que era apenas uma assinatura, mas quando os federais baixaram, a confusão de carteiradas a deixou atordoada;
Lembrou-se de Forrest....
Queria correr. Queria atravessar o país.... mas não poderia. Não seria justo que a indefesa Isabella pagasse pelos erros de seus pais. Com quem ficaria? Entregar na mão do Estado?
Nem pensar.
Isabella era tudo. Ao menos tudo para sua mãe Beth.
Como um algodão doce que não se divide.
O último.
Do último vendedor.
Um parque cheio, pessoas tranqüilas.
A única coisa que poderia acabar com a paz daquele lugar seria o fim das vendas do algodão doce.
Seria como se os sonhos tivessem acabado.
Certamente, daria vontade de sair do parque e voltar ao caos da cidade.
Mas Beth estava com o último algodão doce, o último sonho.
E ele seria de Isabella. De Isabella e de mais ninguém.
As meias, desalinhadas, remetiam ao momento da concepção de sua filha: envolvida de desejo, nem conseguiu tirar os pares de meia que vestia. Consumiu-se de amor. A botinha rosa, a saia rodada, a blusinha branca. Era Isabella, era a felicidade de sua única filha.
Não importava mais o tempo na cadeia.
Neste instante, não existe mais vagabundo.
Apenas duas damas a recuperar o último sonho.

15 junho 2008

O Teatro Trágico

O veredicto sai logo mais.
Um cigarro,
Uma pausa, dramática,
Como no teatro.

Uma vida,
Uma peça.
Uma peça que falta.
Uma atriz que se ausenta.
Não tem elenco de apoio,
Os figurantes foram dispensados.
Somos apenas nós.
Ou a ausência de nós dois...

Mais um cigarro.
Mais uma cena.
Mais um jogo de cena.
Acabou novamente.
As cortinas se fecham,
Bem como o nosso amor.

Que amor?
Não éramos atores?

09 junho 2008

Caixas Também se Revestem de Sonhos

Numa caixa revestida de sonhos
Coloquei o mais sincero desejo
De um dia ser alguém menos perverso.

Guardei minhas angústias,
Minhas intrigas,
Minhas limitações.
Uma fita vermelha,
Um adorno delicado,
Mas com cor marcante.

Uma cor que simboliza sangue.
O sangue das almas.
Varridas, destroçadas,
Jogadas numa caixa.

Decerto, forrada de sonhos,
Mas na realidade,
Descobri que nada é tão cruel
Como a caixa da sobrevivência.

Tenha certeza disso:
Se buscar explicação em mim,
Vai se confundir.

Se quiser enfrentar
O futuro confuso,
Sempre buscando a paz,
Serei o mais apropriado
Presente da sua caixa.

05 junho 2008

Sincero Penar

Bateu tão forte.
Sinto-me atado.
Queria ter os braços soltos agora.
Não posso fazê-lo.
Enquanto um se apóia no queixo,
O outro aponta para o vazio do céu.
Já o mais atento,
Perguntaria, com razão,
Como escrevo agora,
Já que ambos os braços estão atados?
Simples.
Escrevo com a alma.
Aquela que me desata e me liberta
Para encontrar o mais sincero penar.

04 junho 2008

Cine Paulista

Ela parece filme,
Mas não está no cinema.
Piratiaram uma cópia
E lá está ela, no paraíso.
Eu, do outro lado,
Na consolação espero.

Não pode ser mais paulista que eu.
Ninguém pode, acho.
Ou todo mundo pode?

Não conheço o mercadão, ainda.
Isso é grave.
Mas mortadela nunca foi o meu forte.
Sei que não tem apenas isso,
Mas não senti atração suficiente
Para fazê-lo.

Talvez por conta dela;
Talvez por conta da busca incessante;
Mas ela está aqui.

Não se trata de sonho.
Na pior das hipóteses,
Ela se anunciará no próximo trailler.

No outdoor, não estará mais.
Época de cidade limpa.

Comprei meu ingresso.
Espero na última fileira.

01 junho 2008

Não Se Explica

Não se explica sentimento.
Tentei uma, ou outra vez,
Mas é claro, sem êxito.

Por mais sincero,
Por mais intenso,
Por mais perverso...

Não se explica sentimento.

Às vezes, não se sente;
Às vezes, não se ouve;
Às vezes, não se vê.

A fragilidade pode irritar;
A insanidade pode matar;
Mas com sentimento, ninguém pode.

Não se vende,
Não se intimida,
Não se acovarda.

Não. Não se explica.