29 março 2007

Tapete Vermelho

Dissera apenas o que queria escutar em seu subconsciente.
Aquelas palavras, que por muito tempo se perderam e não tiveram nenhum sentido, ganharam contornos mais decisivos após seu último discurso.
Pela primeira vez, tornara-se o orador oficial de seu coração. Desprendeu-se dos vínculos, vícios e tolices, que, sem pestanejar, tinham o ofício de destruir sua coragem.
Disse com vontade.
Disse sem pudor.
Rasgou a decência, driblou a moral e ludibriou a santidade.
Poderia apenas chamá-la de vaca, mas queria mais.
Estava cansado de relatar as coisas de forma superficial. Foi a fundo, e profunda foi a sua voracidade. Não comeu palavra. Sua fome era outra, mas não poupou esforços. Não disse meias palavras.
Disse inteiro, se realizou por inteiro, se sentiu inteiro, como se aquele sentimento prazeroso fosse o pagamento de seu quinhão naquela história.
Pleno em sua soberba deliciou-se mais um pouco, enquanto via todo aquele sangue escorrendo.
E aquele tapete, que tanto foi motivo de reclamação, por estar sempre opaco ou acinzentado, enfim, ganhou coloração hollywoodiana.
Cansou-se, mas não se arrependeu.
Abriu a geladeira, pegou uma cerveja, passou sobre o corpo e avistou o sofá.
Sentado, mandou cevada para dentro de sua consciência, e observou a obra de arte mais devastadora que seus instintos primitivos produziram.

10 março 2007

Carinho Virtual

Certa vez ouvi de alguém: "Queria um computador que fizesse carinho, que falasse palavras bonitas".
A princípio acreditei ser apenas mais um momento de carência daquela pessoa. Mas o estranho é que eu nunca me lembrei de um misero instante ao qual ela se sentiu frágil e desprotegida.
Algo estava errado.
Ou ela encontrara em mim confiança para dizer o que é óbvio: que por trás daquela máscara de bravura e determinação, existe um ser confuso e complicado, muito semelhante à quase todos nós; ou ela estava naqueles dias de extrema fragilidade, dias que qualquer reminiscência, provoca o maior estrago em nosso humor.
Depois dessas palavras, pouco mais falou.
Se calou na conversa dela com ela mesma.
Como diria Platão, essa conversa, que também conhecemos pelo nome de silêncio, nos faz encontrar o nosso eu ideal.
Talvez ela esteja em silêncio, porque não quer mais entrar em conflitos com o que te abala ou perturba, ou simplesmente pelo fato de não querer mais falar comigo. Ela tem esse direito. Todos nós temos.
Mas temos o direito também de escapar disso, seja fazendo barulho, seja refletindo com a maior eficácia sobre nossos problemas.Não podemos apenas ficar parados, pois a estagnação nestes casos, nada mais é que um documento assinado por nossa consciência de que temos uma dívida e que estas contas deverão ser pagas com a nossa dor e sofrimento.

07 março 2007

Que falta fez o Word agora...

Nunca escreva um texto em wordpad.

Vai que depois de quase uma hora pensando feito um filho da puta, a luz acaba???

Sim, isso é o tipo de coisa que acontece comigo.

A história fica pra depois, preciso antes recuperar minha confiança em pc's destruidores de idéias.

05 março 2007

Parada Cardíaca

Ela queria apenas mais uns dias para pensar.
Refletir, ter em mente a certeza de que estava fazendo a melhor escolha.
Pensou, e após aquela semana de angústia, chegou a uma conclusão: deveria ficar sozinha.
Fumou um cigarro, tragou-o como quem suga seus pecados e arrependimentos, e da janela de seu quarto começou a arquitetar a forma mais simples de dizer tudo que iria acontecer a partir daquele momento.
Mas a grande verdade implícita consistia em dizer a ele tudo aquilo que não iria mais acontecer após aquele instante.
Toda essa difícil e contrangedora situação foi resolvida quando, de forma inesperada, o telefone tocou.
Sua saudação não foi cordial como outrora, e até o mais inepto e insensível ser perceberia que algo estava errado.
O cidadão, não tão inepto e tampouco insensível começou a fazer sua apólice de seguros, pois sabia que naquela noite algo fatal iria acontecer ao seu coração.
Os dois conversaram, e polidamente decretaram o fim de uma história que mal começou.

Odeio histórias mal resolvidas!

No mínimo ela já não sente remorso ou arrependimento, pois ele demonstrou total compreensão e não quis forçar uma situação.

Será que não seria a hora dele dizer mais do que realmente sente, para quem sabe solidificar a confiança, ou pelo menos ludibriá-la?

Mas o cidadão não o fez.

Decidiu apenas que continuará errando em busca do acerto e acertando quando faz tudo errado, como por exemplo, quando deixa seu coração ter uma parada cardíaca, e é vencido pela racionalidade.