30 junho 2007

Vazio

Tinha que estar assim, vazio.
Seu copo transborda solidão.
Bebe calado em busca do porre,
Mas não é sagaz quando corre.

Vai apenas, não tem pena do espaço,
E retorna sempre ao primeiro passo.
Anda duas casas, mas volta três.
Não é dia primeiro, já é fim do mês.

És feliz em sua indecisão.
Vazio, sem rumo,sem precisão.
Se esconde, se acha, se expõe,
Se diz, não se ouve, não se põe.

Se presta, se posta, não presta.
És luxo, és lixo, és luxúria.
És fama, difama a ternura.
Tinha que estar assim, vazio.

Não sabe o que faz.
Não sabe o que fez.
Não sabe se faz.
Não sabe se fez.

Não sabe... E paga o preço sem saber.
Nem cabe...E não transborda além do ser.
Não vive... Sobrevive à lei tão vil.
Injusto é não ser um ser vazio.

25 junho 2007

Ondas de Esquina

Finge que és nobre e audaz.
Lembra que é pobre e incapaz.
Sonha que é muro e fortaleza.
Cai e se posta sem grandeza.

Menino sem ritmo e sem crença.
Homem sem rito e sem presença.
Ausente do sonho e da ilusão.
Constante e audaz em seu coração.

Finge que não tem pra onde ir.
Vai até a onde conseguir.
Volta e meia trás como consolo
A leveza do olhar, ingênuo e tolo.

Menino sem hora pra crescer.
Ora é a senhora a tecer.
Palavras estranhas e sem razão.
Naufragam no barco da dispersão.

Eis, que distante fez-se o mar.
De esquina pro mundo sem penar.
Em suas águas doces, o sol se põe.

Não importa se corre para o rio.
Não denota o sonho que existiu.
Sem entrevista, se atreve a existir.

Não finge, não lembra,
Não sonha, não cai.
Pequena Esperança,
És sonho ... És mar.

19 junho 2007

Lúcido e Lunático

Lúcido precisa de descanso. Já dissera várias vezes à Lunático, mas ele não o ouviu. É sempre assim, quando pretende algo sério, Lúcido só falta implorar a Lunático para que este lhe dê atenção, mas seu irmão prefere ignora-lo.
Dizem que sempre foi assim. Certa feita estavam estudando a árvore genealógica da família, quando depararam com uma história intrigante na Idade Média. Um Imperador, dissidente de Lunático tinha a autoridade de exterminar seus irmãos. Lúcido ficou embasbacado, e começou a temer por sua vida, pois sempre achou que a indiferença era a maior forma de punição, mas ao perceber que seu irmão gêmeo poderia muito bem aniquilar a sua existência, se fechou em receio.
Lunático, por sua vez era a voz da soberba, e da conquista. Não havia desejo que não retornasse à suas mãos, por meio de realização.
Conquistou tudo que desejou. E não desejou pouco...
Atropelou os princípios de seu irmão, e o viu no chão por muitas vezes, bem como a queda de Constantinopla, o que fez lembrar de seus antecessores.
Lúcido quis tirar satisfações por inúmeras vezes, mas suas bravatas eram dissonantes e nulas, perante o timbre e a força da voz daquele que veio ao mundo apenas poucos segundos após seu nascimento.
Ambos foram concebidos para seguir o mesmo caminho.
Mas um preferiu as trevas enquanto o outro quis encher sua vida de luz.
Resultado: O que tentou encher a vida de luz, foi surpreendido pela escuridão não declarada, que é artifício básico daqueles que vivem para ofuscar a luz. Por outro lado, quem ofuscou a luz, brilhou. Como uma esponja absorveu todos os raios solares que estavam na panela que cozeu o alimento de sua alma amarga. E assim, coseu com pequenos retalhos a destruição de seu lar, a destruição de Lúcido.
E é assim até hoje.
Quando Lúcido tenta ser Lunático, se lembra de sua essência pura e dá dois passos para trás, voltando ao seu refúgio, que o tele-transporta à três passos de seu irmão.Sempre estará na frente, mas ambos precisam caminhar...
Embora, Lúcido precise de descanso.

18 junho 2007

Remédio Simplório

A beleza de uma lágrima que agora teima em cair, não é beleza é sofrimento.
O sofrimento da alma que pensou que tinha chegado aos céus volta à realidade.
A realidade sonhadora que formou um conto de fato se despede com certa indiferença.
A indiferença, que sempre foi meu maior repúdio, hoje se apresenta de forma madura.
Madura como um ser racional, que se desvincula de qualquer ato feito por uma criança.
Criança que até então não tem a imposição do medo em si, que age seguindo seus instintos.
Instintos que aproximaram a alegria de ser linguagem em uma só sintonia.
Sintonia plena que negou a racionalidade mesquinha daqueles que tentaram a desmascarar.
Desmascaram apenas pequenos véus que cobriam seu olhar e suas vergonhas.
Vergonhas que se calaram a espera de um grande momento, no qual estivessem sós.
Sós, e viradas do avesso estão a prosa e a poesia, pois hoje ambas se emudecem.
Emudecem a vontade de ser feliz, e o coração que batia desesperadamente feliz.
Feliz com a ausência do medo, com a letargia do sofrimento, o anunciar de uma nova era.
Era, foi, é. Não se pode afirmar em qual tempo verbal estamos, não se sabe nem se existe verbo.
O verbo não se fez carne. Fez-se pão e foi esfarelado pela ânsia daqueles que se amam.
Amam porque são burros, pois se fossem astuciosos, enganariam seus princípios com canções vazias.
Vazias foram as cestas de mentiras, porque a verdade edificou a sinfonia que se compôs.
Compôs-se e descompôs-se, numa melodia que não se arrepende de ter existido.
Existe.
Não importa mais se surgirão outros compositores. O que tem relevância é a beleza de uma lágrima que não caiu, desviou seu caminho e abriu um sorriso radioso que abraçou o coração em sua dor e curou a tua alma com um remédio simplório, popularmente conhecido como esperança.

15 junho 2007

Ânsia de ser Presente

Não me arrependo do que fiz,
Mas já disseram que não é para fazer de novo.
Não compreendo os porquês...
Talvez porque não haja o porquê.

Me afasto... Apenas me afasto.
Gostaria de ser uma reminiscência.
De ser lembrança de bons dias,
Mas minha ânsia de ser presente custou caro.

Nem dor profunda consigo sentir.
Preciso pôr em direção meu caminho.
Mas ainda sou avesso sem rumo.

A esperança bateu em minha janela,
Enquanto a sensatez a expulsara.
Se fosse orgulho, seria mais fácil.

Só que é distância. Pura distância.
Seria bom se fosse orgulho, ou desconfiança,
Pois se assim fosse, nada como um simples olhar,
Para colocar os sentimentos no lugar.

Mas não podemos nos ver agora.
Existe um véu que cega e que nos perturba.
Chega de turbulência. Esperemos a calmaria.
Aquela, que com ódio lembramos de ontem.

Aquela, que com ódio lembramos do antes de ontem.
A que estaria por vir. E aquela que tem ilusão que é porvir.
Mas somos presentes. Por mais que estejamos ausentes.

Ausentes de nosso sonho. Distantes do avesso.
Sem prosa, sem poesia, sem linguagem.

Somos a espera de uma nova sintonia.

11 junho 2007

A Cidade Horizontal.

Os táxis amarelos tomam a cidade, mas não estamos em Nova York.
Os Arcos do início da Lapa, iluminados por refletores candentes, nos remetem a Champs-Élysées, mas não estamos em Paris.
A cidade, que é conhecida como “Maravilhosa”, e “Coração do Brasil”, faz com que estas denominações não estejam erradas, pois o Rio de Janeiro, é a segunda maior cidade do país e de um dos mais importantes celeiros de personagens históricos de nossa nação.
Enquanto que em São Paulo, a grande concentração habitacional, e o PIB que gira em torno de tal economia faz com que a capital paulistana torne-se o grande centro financeiro – o cérebro – do país, podemos com segurança afirmar, que a beleza natural do Rio, lhe dá o título de coração da Terra de Santa Cruz. Bairrismos à parte, pois sempre haverá um gaúcho, nordestino, ou até mesmo um paulista que conteste que a beleza irrefutável do território carioca o eleve ao posto de patrimônio natural da humanidade.
Fato que pode ser acompanhado com mais lucidez na campanha “Vote Cristo”, que promove uma nova eleição das sete novas maravilhas do mundo moderno. Certamente o Cristo merece um lugar nessa lista, pois além de ser uma grande obra arquitetônica, no alto de seus braços, promove uma das vistas mais exuberantes do mundo. Digo isso sem a propriedade de quem visitou o local e sentiu a emoção de enxergar toda aquela paisagem. Acrescento essas palavras baseadas em relatos de amigos próximos que estiveram por lá, e acima de tudo, de imagens que se proliferam em nossa aldeia global. O Brasil tem overdose de Rio de Janeiro. Seja, por meio de páginas da vida, por paraísos tropicais, por vidas opostas ou pela luz do sol carioca.
Mais ou menos como no caso do cineasta dinamarquês Lars Von Trier, autor dos excelentes “Dogville” e “Dancer in The Dark”, que certa feita foi indagado de forma hostil, por um determinado repórter, que gostaria de saber como ele teve a audácia de fazer filmes tão contundentes e críticos do “american way of life”, que iniciou-se a partir do meio do século XX, logo após o crack da bolsa de 1929. A resposta do diretor foi categórica: “Eu nunca fui aos Estados Unidos, mas todos os dias os E.U.A. vêm até a mim”.
O chiado do “s” com som de “g” na terminação das palavras é o ruído que padroniza as transmissões esportivas, e jornalísticas de grande parte da mídia nacional.
Não se encontram muitos nordestinos na cidade do Rio, ou melhor, muitos realmente moram na cidade, mas tiveram que disfarçar seu “ta, te, ti, to, tu”, para não serem facilmente reconhecidos e tachados de “paraíbas”. Mas esse tipo de descriminação não é um “privilégio” do Rio, em São Paulo, os retirantes são habitualmente chamados de “baianos”. Assim como, nós brasileiros limpamos muito o chão de bares da belíssima Paris e seu Arco do Triunfo; e a cidade coração do mundo, Nova York.
Mas diferente do centro-financeiro mais famoso do mundo, e de São Paulo, o Rio de Janeiro é uma cidade horizontal.
Os prédios bem que tentam fazer presença no centro da cidade, e em regiões de alto poder aquisitivo – leia-se zona sul... (Ah, durante a minha visita de quatro dias na cidade, descobri que quem mora na Tijuca é “cheio de marra”, e apesar de morar num bairro muito bom, não mora na zona sul, portanto, não é elite) – mas são prédios mais preguiçosos, não querem encostar o céu, afinal, pra que ficar tão longe do solo, da areia da praia?
Essa marra carioca, é uma característica muito comum, mas os moradores da cidade teimam em reconhece-la. Na primeira vez que visitei a cidade, em uma passagem muito rápida, durante o show dos “Rolling Stones”, que reuniu um milhão e trezentas mil pessoas, de todos as localidades do mundo, percebi essa capacidade verborrágica muito aguçada. É um tal de toma lá, dá cá. Parece que ninguém quer sair por baixo. Aliás, por falar em vontade de ser superior, grande parte dos cariocas têm orgulho de ser reconhecido no restante do pais, como o povo mais malandro dentre os brasileiros. Existe uma exaltação inconteste do jeitinho brasileiro. Chega a ser patética a forma como alguns vendedores e atendentes e taxistas acham que os turistas são otários. Pode ser que muitos dos turistas – principalmente a “gringaiada” – caia na lábia da malandragem desses cariocas, mas a outra parte da população (certamente em maior número), aquela que está indignada com os anos e anos de descaso do Estado, da submissão ao crime organizado, e mais recentemente as milícias, é a que mais sofre. É esse povo que sofre para pegar uma lotação caindo aos pedaços, ou melhor, uma “van”.Que se confunde com a disparidade das tarifas do transporte público.
Que se indaga onde está a assistência social necessária para que os povos dos morros não tenham que se virar para a criminalidade, fazendo assim das áreas nobres, locais mais tranqüilos pra se viver.
Essa população fica sem norte em uma cidade que não tem zona leste.
Como o sol pode nascer assim?
Fica difícil brilhar.
A saída encontrada pela maioria da população é seguir os passos de Cartola e viver “A sorrir”, levando a vida, pois chorando ou lamentando não dá mais. Esse sorriso se expande a cordialidade, e dessa convergência vem a máxima de que o carioca é um povo feliz, que vive em um cartão postal, que sabe aproveitar a vida.
E foi uma canção de Cartola que coroou a noite no “Democráticos”, a casa de samba mais antiga da cidade.Já ao encontrar os tricolores no Maracanã – esta é a denominação, pois somente é fluminense de verdade, quem nasceu no Estado do Rio – não teve como contestar. O carioca é um povo que pode não ter muitos motivos para dormir feliz, mas assim o faz. Apega-se as coisas simples, ao ambiente magnificente natural deita, esquece dos problemas e dorme. Afinal, na horizontal, tudo é válido.

06 junho 2007

"Vai, vai, vai..."

A Poesia:
-Vai bem...
-Bebe todas as águas como se fossem cervejas...
- Grite como se fosse a última vez q sua voz fosse sair...
- Cante como se fosse um pássaro sabiá... e olhe para o rio..como se ele realmente fosse perfeito..pq pra ti..ele será...
-Boa Viagem.

A Poesia:
- Valeu mesmo.
- Será quase perfeito...
-Metade de mim está com vc...e eu não aceito devolução.
- Ela é sua.

A Poesia:
-Vai...
-Aproveita o teu RIO
-Não..
-Não consigo levantar daqui
-Vai!


A Prosa:
- Eu vou...
Mas "O MEU RIO NÃO É NADA SEM A MINHA POESIA".


O Avesso que se propõs:
- Ele já é poesia!
Não, sem vc , nada é poesia... fato.

"Fato...
Fator...
Esquece de mim lá...
Não sofra meu amor".

-Curta vc...
-Porque a vida é curta.

-A vida é curta pra quem está de passagem, eu estou pra fazer história ao teu lado.
- E não vou te esquecer.

-Se o contexto mundial permitir.. tem história.... senão..a gente vira Tiradentes.. falsos heróis...


A Prosa que também é Poesia:
-Que se foda o contexto mundial, quero ser herói de nós mesmos!

05 junho 2007

100 Limites para a Felicidade.

"O avesso do avesso que se propôs hoje foi desvirado.
Revirou-se até o ponto em que não existiu mais nenhuma característica de obra vazia;Hoje és prosa que transborda, que explode de felicidade, e que está a caminho da poesia;Nunca pensei que a angústia iria tomar seu coração; que as palavras iriam se calar ao tentar pronunciar seu nome, mas foi.
Sem certeza, sem clareza, sem realeza deixou que seu espírito de sapo falasse mais alto.
Escreveu (em folhas roubadas) o quão importante és aquela que roubou seu coração.
Aquela que não é castelo, mas que ainda chora tal qual princesa à espera do seu grande salvador;O príncipe não veio...Fato.
Eis seu fiel súdito, o sapo.
Aquele que coaxa em seus ouvidos, palavras doces, para o fel de quem ama.
Aquele que só emudece quando as palavras são desnecessárias e as linguagens já se comunicam através de um olhar.O avesso se desvira e apenas virá.rá!"


100ª postagem, feita no escuro... antes do avesso ... antes mesmo de sentir a felicidade da Criatura que hoje habita o meu brejo.

04 junho 2007

Sol Maior

Ainda na terra das “brisas leves”, das motos desgovernadas, dos padres gays e das cotubas japonesas, a prosa se despede da sua primeira jornada.
Me despeço de uma cidade pacata e bucólica, na qual seus moradores, por imposição de uma força maior, quase inexplicável... vivem em disparado.
Contradições entre a paz de espírito, o ar puro, se acentuam com o pequeno trânsito frenético dos arredores do centro. Nos supermercados, donas de casa apressadas, maridos barbeiros no volante, igualmente às grandes regiões metropolitanas.
Mas é aqui que reside a poesia.
Bela como minha imaginação projetava...
Forte como meu coração desejava...
Chorona, como era de se esperar...
Foram quase três dias de uma experência única, no qual descobri que utopias só são utopias, porque em grande parte das vezes , nós temos preguiça de transformá-las em realidade.
Essa preguiça pode ser substituida por medo, por precaução, por angústia, mas seja qual for a nomenclatura deste subterfúgio, será sempre uma maneira de nos afastar do sonho maior. Do nosso sol...
Já aplaudiram o sol dela em perfeito tom com as notas musicais, mas mesmo assim, ela ainda achava que seu acorde se aperfeiçoaria com a minha presença.
Para um acorde, são necessários mais de três intervalos, mas são tantos intervalos que se assim fosse não seriam mais adágios, e sim longas canções compostas.
Até então a poesia ouvia apenas a melodia de um choro sem afinação que pecava pelos mesmos erros.
Sabia que eu queria voar, mas que a grade não deixava.
Ela dizia que tocar das minhas palavras lhe dava a paz que pedia o seu coração. Confundia a trilha sonora de suas lágrimas com o pano de fundo do timbre da minha voz.
Ela queria ensurdecer, e não mais dormir...
Queria sentir a presença da minha essência, dentro do brejo,
Porquê viver naquele castelo, não queria mais...

SAPO e PRÍNCIPE;

CASTELO E BREJO;

O que mais a completava?

Dizia que o castelo e o sapo, pois quando se vive um grande amor fadados de erros compreensiveis, ganha-se um castelo, onde todos os sonhos são realmente possibilidades de felicidade, em um jogo, que controlamos as peças.

Hoje a peça chamada prosa está no tabuleiro da poesia, visitando quem o faz feliz por dentro, por fora e pelo o avesso... amando cada momento e guardando-os para a eternidade de um feliz e delicioso conto de fato, uma utopia real, que se toca, se beija se abraça e se completa.

Transbordar de alegria é tocar os acordes de um Sol Maior.