14 dezembro 2009

Ao Leste

Amor é grosseria beslializada,
Fonte inesgotável de penar.

Não amei por ser astuto.
Findei em ideias e ideais,
Escapei, resisti, não amei.

Cheguei ao topo
Da cadeia alimentar.
Me alimentei da vida vã.
Das frivolidades da noite,
Do cotidiano insosso dos dias.

Não vivi, não senti, não amei.
Desse tempo, não quero recordar.

Hoje, meu amor nasce ao leste.
És o meu norte, o centro de mim.

12 novembro 2009

Avante!

Avante!
Soberba que se espalha,
Medo que se alinha,
Júbilo que contagia.

Avante!
Não hei de perecer;
Não somos o findar,
Não reinamos sem imperar.

Avante!
A imagem do meu ser,
Perdeu-se em teu olhar,
Não encontro mais em mim.

Avante!
Pois tu és o que não existe.
Tu existes para não ser
Existência do meu ser.

Avante!
Tutora do meu coração,
Procuradora de minhas palavras,
És Ventura e Felicitá.

Avante em mim.

27 outubro 2009

Uma Nova Versão

Não pediu nada em troca.
Sequer exigiu desculpas...
Realizou-se em um abraço,
Real, estou em seus braços.

Somos uma versão mais
Rock n’ Roll de nós dois.
Uma versão mais Rock n’
Roll da nossa própria paz.

Já pensamos em voz alta.
Interagimos em silêncio.
Se é fogo que impera,somos
Saída de Emergência.

Não somos filhos de Deus,
De Gandhi ou de Jah.
Somos filhos do amor,
E pelo amor, somos um par.

25 setembro 2009

Almas Coagidas

"Tomara que a greve seja forte, para que seja aprovada logo a nossa PL (Participação de Lucros)".

Essa afirmação, que mais parece vinda de um sindicalista do movimento bancário, veio de uma Gerente, que ao invés de estar na rua, lutando por seus direitos - sobretudo o constitucional de exercer greve, reivindicando melhorias e condições de trabalho legais - estava dentro da agência, escondida, ao lado do Gerente que escreve estas palavras.

Não me envergonho disso, pois meu nome estava numa "lista de negociação" feita entre um diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo e o Gerente Geral da minha agência.

Óbviamente, desejaria estar do lado de fora, contestando propostas pífias e sentindo que, de alguma forma, minha presença era fundamental para um processo de mobilização.
A frase da funcionária mencionada é no mínimo contraditória, pois se ela deseja que o movimento consiga realizar uma "greve forte", sem adesão de funcionários, ou com os mesmos escondidos e acuados devido a pressão exercida de cima para baixo, não existe possibilidade alguma de que uma greve tenha algum tipo de sucesso.
Sem a famosa "greve de adesão", a visibilidade é insuficiente, pois a categoria não consegue ter a representatividade de impactar a direção dos bancos, colocando em risco o fator mais idolatrado pelos banqueiros, o bolso. Se a lucratividade de um banco é afetada pelo não funcionamento de uma agência que está paralizada devido à protestos, logo medidas de diálogo devem ser tomadas. No embate entre banqueiros e bancários foram expostas na mesa de negociação questões como o fim do assédio moral, conhecido como a pressão psicológica habitual do patronato sobre seus comandados; a isonomia de direitos, que proporciona uma equiparação entre todas as bases e pisos da categoria; o fim das metas abusivas e pornográficas; o rejuste de salários, no mínimo superior à inflação (a Fenaban - Federação dos Bancos propôs apenas 4,5%, não repondo sequer a inflação do período); e, uma maior participação dos lucros de toda a fatia de bancos do país.
Aí que mora o perigo.
Enquanto a negociação caminha, grande parte dos bancários não estão preocupados se o posto de atendimento em que atuam irá parar ou não. A principal, e talvez única preocupação de grande parte dos trabalhadores, é saber em quanto vai aumentar a sua fatia no bolo das Participações de Lucros das Organizações Financeiras. E, esse benefício é imediatista, istantâneo, perecível. Não passa de um "cala a boca". Se aceitarmos uma PL gorda, mas que não seja proporcional ao rejuste salarial, estaremos nos entregando e abrindo as pernas para os banqueiros, o que de fato é a grande intenção dos poderosos comandantes do setor financeiro do país.
Fica a torcida para que no final dessa campanha salarial os bancários saiam de cabeça erguida, cientes de que fizeram o possível dentro de suas limitações de liberdade de expressão e de que não agiram como putas covardes, daquelas que sofrem, apanham, mas no final de cada jornada pegam seu cala a boca e silenciam suas almas coagidas.

21 setembro 2009

Primavera Manjada

Espero teu amor
Na Primavera de amanhã.

Do frio que ainda existe,
Despeço-me ao amanhecer;
E a dor, que assim persiste,
Refutará o entristecer.

Não entendo de flores,
Não nasci em Setembro.
Me livrei de desamores,
E só de um, hoje me lembro.

O amor mais sincero,
A flor mais delicada,
Conceitos repetidos,
Primavera manjada.

08 setembro 2009

Dias Confusos

Mais de um mês sem aparecer.
Coincidentemente, volto no mesmo dia em que o caos novamente se apresenta nas ruas da cidade, com a inundação dos Rios Pinheiros e Tietê. O trânsito, que já seria tenso em uma volta de feriado e quinto dia útil, fica impraticável.
Acompanho tudo isso pela Internet e por relatos de alguns clientes, que nitidamente aparentam exaustão.Nem mesmo as inúmeras rádios que cuidam de relatar o fluxo de veículos pela capital deixaram o dia mais tranquilo.
Os telefones, também não funcionam!
Não consigo completar uma ligação sequer, mas estranhamente os aparelhos ainda recebem os chamados externos. Penso que seja um raio que atingiu alguma central de distribuição de energia, ou que o atendimento emergencial da Telefônica está bem atrasado mesmo.
Mas, em meio a todo esse cenário anárquico e ineficiente, ainda consigo pensar em alguém que quero ao meu lado. Alguém que me dá paz, mesmo em dias extremamente confusos.

29 julho 2009

Confusão Fretada

Como se não existissem problemas de trânsito em São Paulo, desde segunda, fomos convidados a dividir o transporte público com mais 40 mil usuários. Com a restrição da circulação dos ônibus fretados no centro expandido da capital, a locomoção na cidade - que já era precária - conseguiu, enfim, encontrar o caos. A prefeitura, tentou de todas as formas defender a nova lei, mas era óbvio, que a medida não ia colar.
A começar pelas empresas de ônibus, que reduzirão drasticamente seu faturamento e já ensaiam a entrada na justiça contra a determinação do Senhor Prefeito Gilberto Kassab. Mas esse, provavelmente não será o maior dano causado por essa medida, pois a prefeitura tem um departamento jurídico que poderá bater de frente com as empresas, travando assim uma batalha judicial que ainda vai se arrastar por um bom tempo. Kassab sairá perdendo mesmo quando precisar de apoio popular, ou seja, quando seu nome estiver nas urnas.
Trata-se de uma lei extremamente impopular, dessas típicas de ano ímpar, afinal é nessa época que os governantes tomam as decisões mais polêmicas e que causam maior dano à sua imagem. Em ano par, é hora de medidas populistas, de grandes obras, de liberação de grandes verbas, é hora de fazer média com o eleitorado.
Mas o que mais causou estranheza não foi a coragem do prefeito em tomar uma medida tão contraditória(criticada até por especialistas de trânsito da própria CET) , mas sim a fúria da população, que tomou as ruas, parando as principais vias da cidade, e tudo isso sem nenhuma orquestração política, nenhum gene partidário.
Foram pessoas comuns, trabalhadores indignados por terem que levar em média uma hora a mais para chegar em casa, já que quem não tem mais o auxilio dos fretados teve que recorrer ao carro da família, aumentando ainda mais o fluxo de automóveis nas ruas da metropole paulistana. Os que não recorreram ao carro, sofreram ainda mais, certamente. Os ônibus, cada vez mais lotados, mal conseguem andar nos corredores, devido ao excesso de linhas na cidade. No metrô, segundo dados preliminares, estima-se que o movimento de passageiros cresceu 23% por dia nas linhas subterrâneas. Em algumas estações, o embarque demora mais de meia hora. Isso mesmo, apenas o embarque no trem.
Pela primeira vez, uma população tão malufista e tacuna foi motivo de orgulho. Outrora resiliente e refém de campanhas de marketing, a Cidade de São Paulo deu uma resposta clara à todos aqueles que pensam que podem agir impunes, que podem tomar suas decisões sem que estas tragam benefícios para a sociedade. Sem publicidade alguma, as pessoas invadiram as ruas, pararam a marginal e fizeram do próprio ato a publicidade em si. Deu resultado. Uma parte da proibição já caiu, e a circulação dos fretados na Berrini (que concentra cerca de 10% da frota) , já foi liberada. O prefeito diz que não recua. Mas e o povo, recuará?

27 julho 2009

A Influência do Influenza

Pela primeira vez, depois de todo o alvoroço do anúncio de uma pandemia mundial, tive a oportunidade de ver alguém - em um dia comum e longe de qualquer ambiente hospitalar - utilizando as caricatas máscaras de proteção respiratória, um marco da nova gripe.
Foi estranho, porque estava na entrada do metrô Capão Redondo (mais uma vez o metrô rendendo história) e apesar do tempo cinzento, não havia motivo aparente para a utilização deste artifício. Era uma moça, aparentemente uns 20 anos. Nada de neura de velho.
Para encobrir algum tipo de escândalo, ou medida que seja contraria ao status quo vigente é praxe que tragédias ganhem espaço na mídia. Sempre foi assim. Quando não tragédias, grandes festas como Carnaval, Copa do Mundo, Olimpíadas e eventos de massa fazem com que assuntos escusos como o atual escândulo do Senado Federal fiquem um tanto quanto ofuscados. Se bem que desta vez, parece que a mídia faz uma mea culpa e tenta fazer uma caça as bruxas em Brasília. Resta saber se terá resultado e o quão real é essa vontade de que os fatos sejam deveras apurados, e o quanto disso tudo é simplesmente jogo de cena.
Todo esse alarido em relação a nova gripe é muito estranho, pois só em São Paulo "A gripe comum foi responsável por 17 mortes por dia no ano passado. Ao todo, 6.324 pessoas morreram na cidade em 2008 devido a males provocados pela gripe, como pneumonias, bronquites e outras doenças pulmonares".
Segundo noticiou a Folha de São Paulo, com base em dados da Prefeitura e do Ministério da Saúde. http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u600207.shtml
As Mortes do vírus H1N1 chegaram no último domingo ao número de 38, sendo que a primeira foi constatada no dia 28 de Junho, praticamente um mês atrás. Ou seja, se fizermos uma média diaria nacional, o número de mortes por dia é de pouco mais de um, mais precisamente 1,31 mortes/dia.
E esses óbitos, assim como na gripe comum, não foram de casos que aconteceram da noite para o dia. Sem uma outra doença que inluenciasse diretamente o vírus, não aconteceram casos de morte súbita. Trata-se de um vírus 'irmão', que só vira protagonista quando algum tipo de moléstia ou problema no organismo se manifesta em consonância ao seu desenvolvimento no corpo humano.
Diante desses fatos, trata-se de um tremendo absurdo a utilização de máscaras preventivas em um cenário tão próximo a uma situação de doença comum, que só se manifesta devido ao alastramento de uma outra, como fora com o vírus HIV em meados dos anos 80. Assim como naquela época, muita desinformação e folclore cercaram as duas doenças. A constar que na década de 80, o acesso a informação era muito mais precário.
Ao ver aquela menina, deu vontade até de pedir os números da MegaSena para a guria, porque imaginar que o vírus vai se expandir de tal forma que ela será a escolhida, é uma situação tão inesperada e improvável, que,se ela realmente pegar o vírus, pode estar pronta também para informar quais serão as dezenas premiadas de qualquer sorteio da Mega, pronta para dizer quem será o novo Campeão Brasileiro, o novo Presidente e até a nova tragédia que encobrirá toda a falta de vergonha na cara que se passa nos corredores mais sombrios de Brasília.

21 julho 2009

Tendência ao Best-Seller

Terça-Feira, 21 de Julho de 2009. Linha 5 Lilás do Metrô de São Paulo.
Coloco uma localização só para se ter uma identificação precisa de onde aconteceu o fato. Mas poderia ter ocorrido em qualquer linha de metrô, em qualquer trem ou transporte público da cidade.
Nas mãos de uma garota, aparentemente uns 25 anos, olhos ainda inchados de sono, estava um dos livros da sequência do best-seller "Crepúsculo" , o "Eclipse". Fato normal, comum. Só que exatamente ao lado da guria, sentada na poltrona de assento único, estava outra moça, uns vinte anos, loira também, amante de leitura bem vendida, na mesma medida. Em suas mãos, Marley & Eu, mais um desses livros cifrões, que até a sagaz Hollywood não perdeu tempo, e adaptou às telas. Os que assistiram disseram quase unânimes: "Um dos filmes mais emocionantes que já vi. Chorei muito". Me recusei a ver, entretanto.
Não tenho paciência para o óbvio, para o senso comum.
Talvez, por preconceito puro, mas prefiro ficar as margens dessa onda de adaptações sentimentalistas ou pseudo-cult-aventureiras-intrigantes, como o "Código Da Vinci", mais uma que não acompanhei de forma alguma.
Chega aos cinemas a sexta aventura do bruxinho. Não sei, mas nesse caso até que tenho certa simpatia pelo tal Harry Potter. Fontes seguras dizem que o filme é bom, que nem mesmo os fãs mais xiitas saíram decepcionados. Vai saber.
Provavelmente, logo menos estarei em alguma fila, ou comprarei por cinco reais 3 DVDs falsos, entre eles o novo filme de Harry. Sim, ajudando o contrabando. Outro assunto, outro dia.

16 julho 2009

O Descanso das Nuvens

Entre este e o outro céu;
Entre a pluma de suas asas
E o alcance de seu voo:
Eis a viagem de nós dois.

Não vamos a lugar algum,
Não vamos alugar ninguém.
Não compramos nossa sorte;
Não venderemos nossa alma.

Somos impuros de essência,
Fartos de fato;
Pervertidos por natureza,
Desprovidos de realeza.

Somos a essência de um amor
Que não é mais nosso. Que se foi.
Que, se foi amor, céu não deixou.

13 julho 2009

Não Reluziu

Ao encerrar a paz,
Abraçou a tempestade.

Não teve canção de amor,
Não teve pista de dança.

A tempestade se confunde,
E acaba confundindo todo mundo.
Ela não pensa, só age.

Dá a impressão que precisa
Destruir a harmonia alheia,
Só pra suprir o desejo de conquista.

E a paz, sabe-se lá onde está.
Em mim, não reluziu.

10 julho 2009

Reféns do Improvável

Não existe dor que perdure a eternidade.
Nem amor, que desconheça a verdade;
Não há esperança que alimente a saudade.

Por falta de carinho,
Fez-se a solidão.
Por excesso de orgulho,
Agride-se um coração.

Somos reféns do improvável.
Ao tentar achar respostas,
Nos perdemos.

Quando se ama de verdade,
A ignorância é quase uma dádiva.

Mas a lucidez,
Um dia se apruma.
E quando se apresenta,
Não existe dor que perdure a eternidade.

06 julho 2009

Um Convite ao Lúdico

Convido-te a um encontro lúdico:
O ponto mais distante de ti;
O mais distante de tuas mãos.

Enquanto não puder tocar,
Ainda estará em mim.
Ainda sentirá o mesmo sonho.

Caminhos cheios de falácias,
Te confundirão, talvez.
Mas queira a clareza, a verdade.

Exija este conflito:
Coloque sempre a verdade e o lúdico
Se digladiando.

Pois do conflito dos dois,
Sairá a resposta da sua felicidade.

Provavelmente, nunca terá a clareza
De saber quem foi o vitorioso,
Mas ao ver esta batalha,
Saberá que esta guerra é sua.

Não faço referência ao passado.
Ele sim é que foi lúdico demais
Para ser minimamente verdadeiro.

29 junho 2009

Os Pés da Gente

Nunca fiz leilão dos meus pés.
Nem quando estavam gelados,
Nem quando estavam sem pares.

Pedir para que eles tenham companhia,
(qualquer companhia) é o mesmo
Que dizer que não importa quem seja,
O que importa é ter alguém.

É com isso que não concordo.
Não valorizo a conquista por si só.
O que é impossível, nem sempre é o melhor.

Mas não é isso o que pensam por aí.
Aliás, talvez nem pensem, apenas queiram.
E o querer, não passa de uma regalia
Típica dos mimados, dos que conseguem tudo.

Por conseguirem coisas com facilidade,
Os mimos que não alcançam,
Tentam conquistar.
E quando conquistam, desdenham.

E se esquecem que entre as coisas
Existia também gente.

E por mais que essa gente
Fora tratada como coisa,
Ainda continua sendo gente.

Gente que pensa,
E, principalmente,
Gente que sente.

22 junho 2009

Harmonia de um Furacão

Deixe em mim, apenas o que foi bom.
Leve embora todo o meu penar.
Deixe em paz meu coração,
Já que o seu ainda bate.

Esse silêncio é meu. Só meu.
o ódio impera, mas passará.
Essa é uma promessa
Que posso cumprir. Sei disso.

Vivíamos a harmonia de um furacão;
A calmaria de uma tempestade.
Depois da nossa história, turbulência
Será sinônimo de nós dois.

Deixe em mim, apenas o que foi bom,
E assim finjo que fiquei em você.
Finjo que não me enganei em confiar
E que não errei em ter esperança em ti.

19 junho 2009

Bendita Maldita

Bendita seja a dor de quem não sente amor.
Uma dor que existe sem existir.
Não deixa choro;
Não inibe sorriso.

Coexiste com a alegria
E não tem medo de estar bem.
Divaga sobre a noite,
Mas não acorda pela amanhã.

O sono é leve.
O dia é breve.

Estende-se sem demora,
Não contempla quem chora.

Simplesmente é maldita.

13 junho 2009

Roda-Gigante

Queria que meu amor fosse dúvida.

Amores certos, recíprocos e verdadeiros

São o maior passaporte para o fim.

Enquanto a roda-gigante estava inversa,

De cima via-se um esboço de sentimento.

Progrediu, consolidou, fez-se real.

Ambos chegaram ao céu.

Viram de cima o prazer,

Mas o céu não foi limite.

Uns são inquietos, se movem na cabine,

Nitidamente querem fugir.

Arredios, olham o que está embaixo,

Mas já não dão mais valor.
Buscam proteção, defesa.

Procuram defeitos entre a estrutura metálica

Que edifica a roda até a sua base.

Por qualquer motivo,

Reclamam do operador da roda.

Um lado começa a subir,

O outro, triste, vive apenas a descer.

Descompasso, choro e fim.

A roda-gigante não gira mais como outrora.

O amor, nem é dúvida, nem certeza:

Apenas não pode ser mais amor.

Quem ficou na roda-gigante,

Começa a se agigantar.

Mas de todo o gigantismo,

Só ficaria a imagem do mundo,

Pequeno e palpável quando se está

Por cima, quase a tocar no céu.

12 junho 2009

São Valentim

A mochila está vazia.
Chegou o final de semana,
Mas roupa não vai levar.

Não atravessará a cidade;
Não enfrentará o trânsito de sexta;
Não entrará na estação do metrô.

Ao final do dia,
No máximo um happy hour.
Conversa fora com os amigos,
Papo furado,
Expectativa de cair na noite.

O telefone,
Provavelmente não tocará.
Se tocar, não será o toque esperado.

Hoje, os outros comemoram.
Fizeram reservas,
Compraram presentes.

Não terá festa em mim.

Um dia mais hostil,
Uma noite mais sombria.
Por ora, essa é a bagagem.

10 junho 2009

Utopias a Deriva

Não sou tatuador, designer, DJ, ator de enlatado gringo, ou muito menos um rockstar.

Após 25 anos, continuo bancário, solteiro, e morando com os pais. Não viajei o mundo como jogador de futebol famoso; não fiz turnê pelas principais cidades do país, deixando em cada aeroporto a saudade em uma menina que teve sua noite de sonho, com o ídolo de sua banda favorita; Não participei de congressos em outros estados para dar em cima de mulheres comprometidas, que, por aventura e curiosidade, ficariam tentadas a me conhecer.

Não o fiz.

Sonhos e Utopias ficaram a deriva.

Reservei ao meu deleite apenas o prazer de escrever. E, sequer, escritor virei.

Descubro que uma pessoa que esteve presente em um dos momentos mais difíceis da minha história, há mais ou menos três anos atrás, hoje está próxima a lançar um livro de poesias. E, justamente essa pessoa, que celebra sua obra, foi a principal responsável pela minha queda, naquela época.


Para ele, a glória enfim chegou. E, se diziam que a justiça da vida é feita ainda em terra, algo está errado. Ele está no topo. E eu, no mesmo lugar.

Quando achei que encontraria conforto em alguém, me confortei com o comodismo, ou me desesperei com a imprevisibilidade.

Não acho mais nada enquanto não me encontrar.

08 junho 2009

A Flor de Ouro


No trono do Imperador não há mais crisântemos.


A lenda dizia que uma única pétala da "flor de ouro" - como é conhecida no oriente - ao ser lançada ao fundo de uma robusta taça de vinho, tornaria afortunado o ser que bebesse daquela dose, proporcionando-lhe uma vida longa, plena e saudável.

Os imperadores japoneses mitificaram esta flor, que foi levada ao país pelos budistas, e se tornaram símbolo da terra do sol nascente, justamente pela ligeira semelhança com o astro rei.

Hoje, a flor de crisântemo pode ser encontrada exposta em qualquer rede de supermercados. Não representa mais o Império japonês, ou a semelhança com o sol.

Não posso julgar também que esta flor perdeu o seu valor. Se não fosse, aliás, por mais uma rodada de compras de guloseimas em uma dessas redes, não saberia a história da flor de ouro.

É estranho, mas temos a tendência de acreditar que as flores douradas nasceram para serem eternas, e que nem mesmo as ações mais vorazes do tempo seriam capazes de diminuir seu brilho e sua intensidade.

Mas as flores não são mais como antes. Os jardins, outrora floridos e cheios de esperança, hoje são apenas a constatação do fim de uma plantação.

O cultivo, por mais sincero e dedicado, não pode ser responsabilizado pela vida ou morte de um crisântemo.

Enquanto isso, o floricultor teima a acreditar que o jardim já começa o preparo de uma nova plantação.
-
Para suportar a dor, lembra apenas das sementes de felicidade que um dia plantou.

01 junho 2009

O Maquinista


Está vendo aquele trem desgovernado?
Ele me chama de passageiro comum.
Queria que tivesse medo de me perder,
De olhar para a minha estação
E não me ter em vista.

Mas sempre estou lá!
Solícito e resiliente.
Queria ser essencial para ele.
Um passageiro insubstituível.
Queria ser o maquinista.

No comando,
Eu fugiria dos trilhos,
Eu seria imprevisível,
Mas se estivesse eu, em meu caminho,
Me colocaria na área VIP.
Primeira classe.

Mas o trem não está em mim,
Eu não estou no trem,
E ninguém mais sabe
Onde é o fim da linha.

Nem mesmo a frustração,
Ou a revolta de quem o perdeu
São mais fortes que a
Pseudo-sensação de liberdade.

O trem acha que está livre,
Mas ainda se chocará,
E verá que é nessa estação
Que eu ainda quero embarcar.

28 maio 2009

Após ser Imortal


Após ser Imortal
Você veio me amparar.
Fingindo ser a voz mais
Doce que se pôde ouvir.

Não dei razão,
Não fiz menção em te entender.
Fiz par com a ignorância.
Fiz amor com a estupidez.

Fui anjo mal.
Fui rebelde sem penar.
Sem nação, sem lei e paz.
Sem Império a servir.

As custas da paixão,
Abracei o véu do sofrer.
Singela insignificância,
Que fez da escuridão, lucidez.

18 maio 2009

Descontrole

Não estou no controle.
Não faço as escolhas,
Espero ser escolhido.
Vivo de espera,
E de espera em angústia.

Não basta a busca pela perfeição.
Cafajestes têm mais êxito.
Eles, imperfeitos e calhordas,
Dizem as palavras certas,
Ou seja, as palavras mais cretinas.

Talvez,
O soar de palavras promíscuas
Dê mais tesão. Seja afrodisíaco.
Propostas impossíveis dão vida,
Ar de aventura, de desafio.

A segurança de uma vida feliz,
Não basta, não conforta.
Dizem que é bem melhor
Viver uma vida infeliz,
Mas com muitas conquistas,
A reconquistar um sentido
Para a própria vida.

Não culpo a cafajestagem,
Afinal, já joguei nesse time.
Hoje, estou do outro lado,
Assisto ao jogo, sem torcer,
Apenas perdendo o controle.

Por enquanto, nada aconteceu.
E, sinceramente,
Quando nada acontece,
O perigo pede passagem.

Esse é o jogo.

26 março 2009

Como no Zoológico

Na primeira tarde não havia cama sem par.
Dias, noites, carnavais, discussões.
Dois animais, como no zoológico.
Ela, com a sagacidade de uma lontra.
Ele, com os erros primários de uma anta.
Da loucura, aos momentos ternos,
Fez-se presente à felicidade.

Esconde a arte em cada palavra;
Faz da curiosidade alheia, uma arma.
Tudo isso para se defender.
Tem medo de tantas variações.
Mas sabe, que era isso que queria.
Uma vida sem marasmo,
Nada de tardes bucólicas.

Aprende a confiar, quer apenas confiar.
Não ouve as vozes dissonantes.
É apenas seu coração quem ditará
As próximas coordenadas.
Se tivesse apenas um minuto diria:
“Obrigado, mas ainda sinto saudade”.

01 março 2009

Tristeza...

Tristeza...
Quando bate, não tem hora.
Sem aprumo, sem demora.
Branda voz do infinito.

Tristeza...
Fel divino que atormenta,
Quando a alma não contenta
Nem o sonho mais bonito.

Tristeza...
Fez-se apenas em delírio,
Trouxe aos ombros o martírio,
Da paz que é lembrança.

Tristeza...
Fonte pura de desgosto.
Retrato fiel do oposto,
Que se espelha na esperança.

Tristeza...
És minha sina, companheira.
Fez-se em mim tão traiçoeira,
Como par do meu destino.

Tristeza...
És Império dessa dor...
És o choro desse amor...
Hoje apenas és meu hino.








14 fevereiro 2009

Aposta

Já não controlo minhas mãos.
Tentei atá-las para impedir
Sentimentos confusos e desleais,
Mas existe algo mais desleal
Que a própria paixão?

Dizem que não vale escolher
A música favorita;
Que isso é apelação...
Mas existe algo mais apelativo
Que a própria paixão?

Não é um jogo. Não é apenas
Uma tentativa de ganhar.
Trata-se apenas na tentativa
De não me perder outra vez.

Pode desconfiar de minhas origens,
Jamais de minhas intenções.
Não sou tudo isso que imaginas,
Porque não posso imaginar quem sou.

Faço um esboço de mim,
E me descrevo para ti.
Se soubesse desenhar melhor,
Faria assim.

As palavras me restam.
E elas continuam desleais
Como a aposta na paixão.
Como o resto de mim.

09 fevereiro 2009

Boas-Vindas

Entre a tranquilidade do seu sorriso
E a certeza de seu abraço,
Eis o sonho que guardei pra ti.

Teus olhos não me descobriram:
Eu que me apresentei devagar.
Teu corpo não se permitiu:
Entrei sem bater na porta.

O tempo, sequer passou:
Deu um tempo para nós.
Nos permitiu, a cada noite,
A construção de nossa história.

Somos o fracasso de nossos medos.
A histeria de nossas angústias.
A desilusão de nossa incompetência.

Entendemos, sem saber,
Que não tínhamos o quê entender.
As coisas simplesmente aconteceram.

Se fosse em outros dias,
Estaria inseguro com tal calmaria.
Seria um turbilhão de nuances,
Desejaria um tropeço a cada passo.

Calmo, entre a tranquilidade
Do seu sorriso e a certeza de seu abraço,
Dou boas-vindas ao amor.









30 janeiro 2009

E se a vida começasse de trás para frente?


E se a vida começasse de trás para frente?

Meu nome não é Benjamin Button, mas gostaria de pensar como tal. Até então, dia após dia, fui fiel à natureza das coisas: Esperei a hora certa pra nascer; tive medo no primeiro dia de aula; Fingi para todos os colegas, que já tinha beijado na boca, quando aos onze anos, numa rua sem saída, fui agarrado por aquela que seria a descobridora de meus lábios; Busquei popularidade na escola, entrando para o grêmio, e andei com os caras mais descolados (tive até a sorte de namorar uma guria muito desejada); Passei na faculdade particular, porque não me dediquei o suficiente para passar em um vestibular de alguma universidade subsidiada por alguma ferramenta Estatal; Arrumei um bom emprego, desses que geram certo impacto ao pronunciarmos para os pais de qualquer namorada; Virei refém de tal labuta, numa espécie de prisão velada, onde ambos os lados fingem que estão satisfeitos e respeitam o acordo de não deixar a barba crescer e de usar a roupa devidamente alinhada todo santo dia.
Não cheguei nem a metade da vida, creio assim. Mas completo bodas de prata, de uma sequência de acontecimentos que nem sei se deveriam ter acontecido.
Maturidade assumida, e corpo se transformando cada vez mais.
Lembro-me de quando estava por terminar meus estudos, e dedicava noites e noites ao encerrar meu trabalho de conclusão de curso, cujas iniciais, (prefiro não alinhá-las), causam frio na espinha só de lembrar.
Nessa época, pesava quase dez quilos a menos. Era um fio de esgotamento mental e estress. Hoje, o esgotamento e o estress só se distribuíam no peso a mais, aliados agora ao tédio e ao comodismo.
Benjamin, não. Aos 26 anos já estava na guerra, no mar, lutando para sobreviver, cozinhando para sua tripulação. Sendo útil para o mundo. Mesmo com o corpo atrofiado, usava-se de sua aparência para esconder seu ar jovial, suas incertezas de menino.
Sentia a brisa da manhã se apresentar, e o sol de sua aurora era a força que trazia consigo para espantar as rugas de seu rosto. Rejuvenescia em sua maturidade.
E foi assim, até o último suspiro. Quando fechou os olhos pela derradeira vez, estava nos braços de sua amada. Quem pode ter a graça de morrer nos braços de sua amada? No colo, cheio de proteção, carinho, paz. Benjamin pôde.
Seu coração, não bateu mais como o de um beija-flor, acelerado e cheio de força.
Finalmente, após uma vida de glórias, a morte de Benjamin começou igual ao início da vida de cada um de nós que estávamos naquela escura sala de cinema.
Acredito que todos pensaram em como a vida é estranha, e em cada momento em que invertemos a sequência lógica dos fatos. Mas não cabe arrependimento. Benjamin mostrou a todos nós que não existe lógica no relógio da vida, e que, às vezes, é bom que ele se mova ao contrário.

09 janeiro 2009

Pacto

Queria entender a suavidade de tuas mãos,
O toque livre dos dedos teus, a leveza tua,
Que sem acanho se compromete em mim.
Mas, caricias,
Não podem ser compreendidas.
Senti-las, sim.
Dádiva.
Enquanto o abraço tem seu princípio,
O corpo se aquece,
E em poucos instantes,
Dois serão um.
Egoístas por si só.
Seus corpos serão a leitura divina do amor.
Caminhos incólumes e estruturados.
Distingue-se da paixão,
Imprevisível forma de se chegar ao céu,
Que se emaranha pelos fios de esperança,
Que deixam corações em disparado,
Que não transformam o sentir
Em um tranqüilo que o agir.
A ação de quem ama,
Encontra-se novamente,
Na suavidade de nossas mãos.
Somos o pacto seguro de nossos sonhos.
Somos o sonho de um pacto só nosso.