30 janeiro 2009

E se a vida começasse de trás para frente?


E se a vida começasse de trás para frente?

Meu nome não é Benjamin Button, mas gostaria de pensar como tal. Até então, dia após dia, fui fiel à natureza das coisas: Esperei a hora certa pra nascer; tive medo no primeiro dia de aula; Fingi para todos os colegas, que já tinha beijado na boca, quando aos onze anos, numa rua sem saída, fui agarrado por aquela que seria a descobridora de meus lábios; Busquei popularidade na escola, entrando para o grêmio, e andei com os caras mais descolados (tive até a sorte de namorar uma guria muito desejada); Passei na faculdade particular, porque não me dediquei o suficiente para passar em um vestibular de alguma universidade subsidiada por alguma ferramenta Estatal; Arrumei um bom emprego, desses que geram certo impacto ao pronunciarmos para os pais de qualquer namorada; Virei refém de tal labuta, numa espécie de prisão velada, onde ambos os lados fingem que estão satisfeitos e respeitam o acordo de não deixar a barba crescer e de usar a roupa devidamente alinhada todo santo dia.
Não cheguei nem a metade da vida, creio assim. Mas completo bodas de prata, de uma sequência de acontecimentos que nem sei se deveriam ter acontecido.
Maturidade assumida, e corpo se transformando cada vez mais.
Lembro-me de quando estava por terminar meus estudos, e dedicava noites e noites ao encerrar meu trabalho de conclusão de curso, cujas iniciais, (prefiro não alinhá-las), causam frio na espinha só de lembrar.
Nessa época, pesava quase dez quilos a menos. Era um fio de esgotamento mental e estress. Hoje, o esgotamento e o estress só se distribuíam no peso a mais, aliados agora ao tédio e ao comodismo.
Benjamin, não. Aos 26 anos já estava na guerra, no mar, lutando para sobreviver, cozinhando para sua tripulação. Sendo útil para o mundo. Mesmo com o corpo atrofiado, usava-se de sua aparência para esconder seu ar jovial, suas incertezas de menino.
Sentia a brisa da manhã se apresentar, e o sol de sua aurora era a força que trazia consigo para espantar as rugas de seu rosto. Rejuvenescia em sua maturidade.
E foi assim, até o último suspiro. Quando fechou os olhos pela derradeira vez, estava nos braços de sua amada. Quem pode ter a graça de morrer nos braços de sua amada? No colo, cheio de proteção, carinho, paz. Benjamin pôde.
Seu coração, não bateu mais como o de um beija-flor, acelerado e cheio de força.
Finalmente, após uma vida de glórias, a morte de Benjamin começou igual ao início da vida de cada um de nós que estávamos naquela escura sala de cinema.
Acredito que todos pensaram em como a vida é estranha, e em cada momento em que invertemos a sequência lógica dos fatos. Mas não cabe arrependimento. Benjamin mostrou a todos nós que não existe lógica no relógio da vida, e que, às vezes, é bom que ele se mova ao contrário.

Um comentário:

Anônimo disse...

Eduardo,
é admirável a sutileza com que se demonstra aqui...
De modo tímido, nos abre sua intimidade e conta a sua história para ilustrar a de Benjamin.

Claro que pensei como vc...
Que vida !
O que seria se fosse assim ?

E isso só me fez entender que nada é eterno, mas vale e muito cada ação tida perante este mundo...

Não do modo como vc vê, mas sim como sente.

Escolher sempre o caminho em que há coração, me parece, um bom começo.

Beijos, Adoro vc,
Laurinha