30 setembro 2008

Além

Se não for amar além do amor, não se perturbe com nada além da solidão.

Se não entendes a cordialidade do tempo, não entenderás a devassidão da vida.

Somos escravos de uma mesmice, somos prisioneiros de uma falácia.

Enquanto o império da dor se ergue, o castelo das maravilhas declina lentamente.

Entre pedras e vidraças, torres e soldados, o genocídio da esperança se alastra.

Um campo de concentração se instala no centro do meu coração. Surge um líder.

Sagaz, ele apenas coordena sua equipe.Os chacais separam os sobreviventes em grupos.

Os refugiados assumem papel de agente transformador. Agora são uma milícia.

Desarmados, acuados, não seguem mais as ordens de seus corações.

Já não amam além do amor, não se perturbam, pois em conjunto encontraram a solidão.

28 setembro 2008

Antes do Sol

E este amor nebuloso que se fez em mim?
Outrora dissera em palavras atenuadas,
Que não era amor, que era apenas paixão.
As nuvens se foram, junto com o outono.
A primavera se apresentou, e nada de flores.
O verão está na fila, o sol se espreguiça,
Faz alongamento, mas nada das cores.
Preto, branco, pele, carne, desejo e penar.
Fábulas e alegorias de um sonho real.
Ou pesadelo utópico que se apresenta.
O jubilo que se aproxima, e isso se comemora?
Tem motivo para festa? Não consigo enxergar.
Num está na hora de zerar novamente?
Em silêncio, recolho os cacos de idéias.
Em dispêndio, minhas forças, minha paciência.
Não existem mais motivos para continuar assim.
Se isso é existir, que eu brinque de ser utópico.
Que eu renasça a cada dia, se possível antes do sol.
Que eu nem durma, e que o porvir seja sonho.
Mas um sonho sincero, minha fiel e companheira...
Realidade Sonhadora.

27 setembro 2008

Suplício Discreto

Um moinho sem vento,
Um menino sem teto,
Um caminho do alento,
Ou suplício discreto.

Tanto faz, se nada se fez.
Quem trás, não trouxe a vez.
Não trouxe esperança,
Não mais a herança.

Sem mais rimas
Sem mais poses
Sem mais lamúrias.
Sem mais palavras.

O vento flerta com o moinho.
O menino constrói seu próprio teto.
O caminho se apruma,
Não mais em um suplício discreto.

20 setembro 2008

Monumento

Não menos que um monumento.
Uma obra de arte, quiçá.
Os pássaros se aconchegam.
Os velhinhos do outro lado,
Esperam o chamado.
O dominó é a companhia dos últimos dias.
Talvez os mais pomposos.
Sem a ânsia da infância,
Sem a arrogância da mocidade,
Sem a insegurança da meia idade.
A pipoca, os pombos,
Os menores de olhos avermelhados.
As bolsas que não voltam mais,
As bolsas que voltam ao buraco,
O mercado que quebrou,
O mercado que foi saqueado.
O banco que ruiu,
O banco que faliu.
Esquece de tudo.
É apenas monumento.
Uma obra de arte, quiçá.

14 setembro 2008

Porre Alheio

E se esse for apenas o único caminho?
E se não fosse o único, apenas o mais sincero?
E se não for caminho algum?
Se for confusão? Que caminho serei eu?
E se Deus deixar seu nome fora dos registros?
Se ausentasse de suas responsabilidades
E fizesse de cada manhã, uma obra nova.
Esquecesse do relatório
Que tem que entregar ao coisa ruim,
E sexta viesse tomar uma com a gente;
Mas ele também não bebe...
O que sobra é aproveitar-se de quem bebeu demais
Visar quem está por cair
E se esbaldar do porre alheio.
Se não for apenas um caminho
Que seja meu caminho apenas.

13 setembro 2008

Vestígio de Mim

Deixei em mim apenas vestígios do que fui.
Do que sou, do que entendo, do que tenho.
Não sei lembranças. A cortina se fechou.
Não sei palavra, nem sei viver de silêncio.

E dos vestígios, uma parcela se reergueu.
Das metades expostas em mim, fraturas.
Das fraturas, a cura sincera ao amanhecer.
Da noite que se despiu, o abrigo à luz do sol.

Do sol, a quimera dispare da nossa jornada.
Da quimera, a fé que conflita ao anoitecer.
Do anoitecer, anoiteço em vestígios que serei.

O coração é o silêncio que fala com quem ama.
Entre vestígios, abro a cortina das lembranças.
Anoiteço abrigo meu. Amanheço vestígio de mim.

07 setembro 2008

Encanto Desnecessário

Todo encanto é desnecessário.
Pessoas dizem coisas,
Coisas rasas, incertas.
Pessoas não sabem o que dizem.

Dividir momentos, palavras,
Tentar um desafio, acreditar:
Nada disso é válido quando
A fraqueza de caráter permanece.

Persiste e acompanha.
Abraça o primeiro fio de mesmice,
Permanece a noite inteira.
E assim, completa sua ignorância.

E o mais engraçado: Certamente
Nem se deu conta de que age
Como um primata instintivo,
Desconsidera o senso de retidão.

E assim, continua o ciclo.
A roda gigante volta à base.
A fantasia e o encanto estão no chão.
Lá em cima, o céu e a hipocrisia.

05 setembro 2008

Sincera Ignorância

A felicidade é a mais sincera ignorância.
É a certeza de um saber incerto, mutável.
A necessidade do perdão, do afago torpe.
A vontade indubitável de ser ignorante.

Os versos que correm soltos, prendem-se
Na voz do corpo que sente apenas dor.
Faz curva para tencionar, faz choro para
Lamentar. Faz som para, em paz, calar.

Quem manda em nós, já não somos nós.
Quem manda em mim, já não está aqui.
Quem manda em você, já não está em ti.

E quem manda nas lágrimas?

Ontem mesmo era a sincera ignorância.
Hoje é o encanto que veio do teu mar,
Amanhã, as ondas nos levarão ao porto.