29 junho 2009

Os Pés da Gente

Nunca fiz leilão dos meus pés.
Nem quando estavam gelados,
Nem quando estavam sem pares.

Pedir para que eles tenham companhia,
(qualquer companhia) é o mesmo
Que dizer que não importa quem seja,
O que importa é ter alguém.

É com isso que não concordo.
Não valorizo a conquista por si só.
O que é impossível, nem sempre é o melhor.

Mas não é isso o que pensam por aí.
Aliás, talvez nem pensem, apenas queiram.
E o querer, não passa de uma regalia
Típica dos mimados, dos que conseguem tudo.

Por conseguirem coisas com facilidade,
Os mimos que não alcançam,
Tentam conquistar.
E quando conquistam, desdenham.

E se esquecem que entre as coisas
Existia também gente.

E por mais que essa gente
Fora tratada como coisa,
Ainda continua sendo gente.

Gente que pensa,
E, principalmente,
Gente que sente.

22 junho 2009

Harmonia de um Furacão

Deixe em mim, apenas o que foi bom.
Leve embora todo o meu penar.
Deixe em paz meu coração,
Já que o seu ainda bate.

Esse silêncio é meu. Só meu.
o ódio impera, mas passará.
Essa é uma promessa
Que posso cumprir. Sei disso.

Vivíamos a harmonia de um furacão;
A calmaria de uma tempestade.
Depois da nossa história, turbulência
Será sinônimo de nós dois.

Deixe em mim, apenas o que foi bom,
E assim finjo que fiquei em você.
Finjo que não me enganei em confiar
E que não errei em ter esperança em ti.

19 junho 2009

Bendita Maldita

Bendita seja a dor de quem não sente amor.
Uma dor que existe sem existir.
Não deixa choro;
Não inibe sorriso.

Coexiste com a alegria
E não tem medo de estar bem.
Divaga sobre a noite,
Mas não acorda pela amanhã.

O sono é leve.
O dia é breve.

Estende-se sem demora,
Não contempla quem chora.

Simplesmente é maldita.

13 junho 2009

Roda-Gigante

Queria que meu amor fosse dúvida.

Amores certos, recíprocos e verdadeiros

São o maior passaporte para o fim.

Enquanto a roda-gigante estava inversa,

De cima via-se um esboço de sentimento.

Progrediu, consolidou, fez-se real.

Ambos chegaram ao céu.

Viram de cima o prazer,

Mas o céu não foi limite.

Uns são inquietos, se movem na cabine,

Nitidamente querem fugir.

Arredios, olham o que está embaixo,

Mas já não dão mais valor.
Buscam proteção, defesa.

Procuram defeitos entre a estrutura metálica

Que edifica a roda até a sua base.

Por qualquer motivo,

Reclamam do operador da roda.

Um lado começa a subir,

O outro, triste, vive apenas a descer.

Descompasso, choro e fim.

A roda-gigante não gira mais como outrora.

O amor, nem é dúvida, nem certeza:

Apenas não pode ser mais amor.

Quem ficou na roda-gigante,

Começa a se agigantar.

Mas de todo o gigantismo,

Só ficaria a imagem do mundo,

Pequeno e palpável quando se está

Por cima, quase a tocar no céu.

12 junho 2009

São Valentim

A mochila está vazia.
Chegou o final de semana,
Mas roupa não vai levar.

Não atravessará a cidade;
Não enfrentará o trânsito de sexta;
Não entrará na estação do metrô.

Ao final do dia,
No máximo um happy hour.
Conversa fora com os amigos,
Papo furado,
Expectativa de cair na noite.

O telefone,
Provavelmente não tocará.
Se tocar, não será o toque esperado.

Hoje, os outros comemoram.
Fizeram reservas,
Compraram presentes.

Não terá festa em mim.

Um dia mais hostil,
Uma noite mais sombria.
Por ora, essa é a bagagem.

10 junho 2009

Utopias a Deriva

Não sou tatuador, designer, DJ, ator de enlatado gringo, ou muito menos um rockstar.

Após 25 anos, continuo bancário, solteiro, e morando com os pais. Não viajei o mundo como jogador de futebol famoso; não fiz turnê pelas principais cidades do país, deixando em cada aeroporto a saudade em uma menina que teve sua noite de sonho, com o ídolo de sua banda favorita; Não participei de congressos em outros estados para dar em cima de mulheres comprometidas, que, por aventura e curiosidade, ficariam tentadas a me conhecer.

Não o fiz.

Sonhos e Utopias ficaram a deriva.

Reservei ao meu deleite apenas o prazer de escrever. E, sequer, escritor virei.

Descubro que uma pessoa que esteve presente em um dos momentos mais difíceis da minha história, há mais ou menos três anos atrás, hoje está próxima a lançar um livro de poesias. E, justamente essa pessoa, que celebra sua obra, foi a principal responsável pela minha queda, naquela época.


Para ele, a glória enfim chegou. E, se diziam que a justiça da vida é feita ainda em terra, algo está errado. Ele está no topo. E eu, no mesmo lugar.

Quando achei que encontraria conforto em alguém, me confortei com o comodismo, ou me desesperei com a imprevisibilidade.

Não acho mais nada enquanto não me encontrar.

08 junho 2009

A Flor de Ouro


No trono do Imperador não há mais crisântemos.


A lenda dizia que uma única pétala da "flor de ouro" - como é conhecida no oriente - ao ser lançada ao fundo de uma robusta taça de vinho, tornaria afortunado o ser que bebesse daquela dose, proporcionando-lhe uma vida longa, plena e saudável.

Os imperadores japoneses mitificaram esta flor, que foi levada ao país pelos budistas, e se tornaram símbolo da terra do sol nascente, justamente pela ligeira semelhança com o astro rei.

Hoje, a flor de crisântemo pode ser encontrada exposta em qualquer rede de supermercados. Não representa mais o Império japonês, ou a semelhança com o sol.

Não posso julgar também que esta flor perdeu o seu valor. Se não fosse, aliás, por mais uma rodada de compras de guloseimas em uma dessas redes, não saberia a história da flor de ouro.

É estranho, mas temos a tendência de acreditar que as flores douradas nasceram para serem eternas, e que nem mesmo as ações mais vorazes do tempo seriam capazes de diminuir seu brilho e sua intensidade.

Mas as flores não são mais como antes. Os jardins, outrora floridos e cheios de esperança, hoje são apenas a constatação do fim de uma plantação.

O cultivo, por mais sincero e dedicado, não pode ser responsabilizado pela vida ou morte de um crisântemo.

Enquanto isso, o floricultor teima a acreditar que o jardim já começa o preparo de uma nova plantação.
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Para suportar a dor, lembra apenas das sementes de felicidade que um dia plantou.

01 junho 2009

O Maquinista


Está vendo aquele trem desgovernado?
Ele me chama de passageiro comum.
Queria que tivesse medo de me perder,
De olhar para a minha estação
E não me ter em vista.

Mas sempre estou lá!
Solícito e resiliente.
Queria ser essencial para ele.
Um passageiro insubstituível.
Queria ser o maquinista.

No comando,
Eu fugiria dos trilhos,
Eu seria imprevisível,
Mas se estivesse eu, em meu caminho,
Me colocaria na área VIP.
Primeira classe.

Mas o trem não está em mim,
Eu não estou no trem,
E ninguém mais sabe
Onde é o fim da linha.

Nem mesmo a frustração,
Ou a revolta de quem o perdeu
São mais fortes que a
Pseudo-sensação de liberdade.

O trem acha que está livre,
Mas ainda se chocará,
E verá que é nessa estação
Que eu ainda quero embarcar.