25 setembro 2009

Almas Coagidas

"Tomara que a greve seja forte, para que seja aprovada logo a nossa PL (Participação de Lucros)".

Essa afirmação, que mais parece vinda de um sindicalista do movimento bancário, veio de uma Gerente, que ao invés de estar na rua, lutando por seus direitos - sobretudo o constitucional de exercer greve, reivindicando melhorias e condições de trabalho legais - estava dentro da agência, escondida, ao lado do Gerente que escreve estas palavras.

Não me envergonho disso, pois meu nome estava numa "lista de negociação" feita entre um diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo e o Gerente Geral da minha agência.

Óbviamente, desejaria estar do lado de fora, contestando propostas pífias e sentindo que, de alguma forma, minha presença era fundamental para um processo de mobilização.
A frase da funcionária mencionada é no mínimo contraditória, pois se ela deseja que o movimento consiga realizar uma "greve forte", sem adesão de funcionários, ou com os mesmos escondidos e acuados devido a pressão exercida de cima para baixo, não existe possibilidade alguma de que uma greve tenha algum tipo de sucesso.
Sem a famosa "greve de adesão", a visibilidade é insuficiente, pois a categoria não consegue ter a representatividade de impactar a direção dos bancos, colocando em risco o fator mais idolatrado pelos banqueiros, o bolso. Se a lucratividade de um banco é afetada pelo não funcionamento de uma agência que está paralizada devido à protestos, logo medidas de diálogo devem ser tomadas. No embate entre banqueiros e bancários foram expostas na mesa de negociação questões como o fim do assédio moral, conhecido como a pressão psicológica habitual do patronato sobre seus comandados; a isonomia de direitos, que proporciona uma equiparação entre todas as bases e pisos da categoria; o fim das metas abusivas e pornográficas; o rejuste de salários, no mínimo superior à inflação (a Fenaban - Federação dos Bancos propôs apenas 4,5%, não repondo sequer a inflação do período); e, uma maior participação dos lucros de toda a fatia de bancos do país.
Aí que mora o perigo.
Enquanto a negociação caminha, grande parte dos bancários não estão preocupados se o posto de atendimento em que atuam irá parar ou não. A principal, e talvez única preocupação de grande parte dos trabalhadores, é saber em quanto vai aumentar a sua fatia no bolo das Participações de Lucros das Organizações Financeiras. E, esse benefício é imediatista, istantâneo, perecível. Não passa de um "cala a boca". Se aceitarmos uma PL gorda, mas que não seja proporcional ao rejuste salarial, estaremos nos entregando e abrindo as pernas para os banqueiros, o que de fato é a grande intenção dos poderosos comandantes do setor financeiro do país.
Fica a torcida para que no final dessa campanha salarial os bancários saiam de cabeça erguida, cientes de que fizeram o possível dentro de suas limitações de liberdade de expressão e de que não agiram como putas covardes, daquelas que sofrem, apanham, mas no final de cada jornada pegam seu cala a boca e silenciam suas almas coagidas.

Nenhum comentário: