29 julho 2009

Confusão Fretada

Como se não existissem problemas de trânsito em São Paulo, desde segunda, fomos convidados a dividir o transporte público com mais 40 mil usuários. Com a restrição da circulação dos ônibus fretados no centro expandido da capital, a locomoção na cidade - que já era precária - conseguiu, enfim, encontrar o caos. A prefeitura, tentou de todas as formas defender a nova lei, mas era óbvio, que a medida não ia colar.
A começar pelas empresas de ônibus, que reduzirão drasticamente seu faturamento e já ensaiam a entrada na justiça contra a determinação do Senhor Prefeito Gilberto Kassab. Mas esse, provavelmente não será o maior dano causado por essa medida, pois a prefeitura tem um departamento jurídico que poderá bater de frente com as empresas, travando assim uma batalha judicial que ainda vai se arrastar por um bom tempo. Kassab sairá perdendo mesmo quando precisar de apoio popular, ou seja, quando seu nome estiver nas urnas.
Trata-se de uma lei extremamente impopular, dessas típicas de ano ímpar, afinal é nessa época que os governantes tomam as decisões mais polêmicas e que causam maior dano à sua imagem. Em ano par, é hora de medidas populistas, de grandes obras, de liberação de grandes verbas, é hora de fazer média com o eleitorado.
Mas o que mais causou estranheza não foi a coragem do prefeito em tomar uma medida tão contraditória(criticada até por especialistas de trânsito da própria CET) , mas sim a fúria da população, que tomou as ruas, parando as principais vias da cidade, e tudo isso sem nenhuma orquestração política, nenhum gene partidário.
Foram pessoas comuns, trabalhadores indignados por terem que levar em média uma hora a mais para chegar em casa, já que quem não tem mais o auxilio dos fretados teve que recorrer ao carro da família, aumentando ainda mais o fluxo de automóveis nas ruas da metropole paulistana. Os que não recorreram ao carro, sofreram ainda mais, certamente. Os ônibus, cada vez mais lotados, mal conseguem andar nos corredores, devido ao excesso de linhas na cidade. No metrô, segundo dados preliminares, estima-se que o movimento de passageiros cresceu 23% por dia nas linhas subterrâneas. Em algumas estações, o embarque demora mais de meia hora. Isso mesmo, apenas o embarque no trem.
Pela primeira vez, uma população tão malufista e tacuna foi motivo de orgulho. Outrora resiliente e refém de campanhas de marketing, a Cidade de São Paulo deu uma resposta clara à todos aqueles que pensam que podem agir impunes, que podem tomar suas decisões sem que estas tragam benefícios para a sociedade. Sem publicidade alguma, as pessoas invadiram as ruas, pararam a marginal e fizeram do próprio ato a publicidade em si. Deu resultado. Uma parte da proibição já caiu, e a circulação dos fretados na Berrini (que concentra cerca de 10% da frota) , já foi liberada. O prefeito diz que não recua. Mas e o povo, recuará?

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