11 junho 2007

A Cidade Horizontal.

Os táxis amarelos tomam a cidade, mas não estamos em Nova York.
Os Arcos do início da Lapa, iluminados por refletores candentes, nos remetem a Champs-Élysées, mas não estamos em Paris.
A cidade, que é conhecida como “Maravilhosa”, e “Coração do Brasil”, faz com que estas denominações não estejam erradas, pois o Rio de Janeiro, é a segunda maior cidade do país e de um dos mais importantes celeiros de personagens históricos de nossa nação.
Enquanto que em São Paulo, a grande concentração habitacional, e o PIB que gira em torno de tal economia faz com que a capital paulistana torne-se o grande centro financeiro – o cérebro – do país, podemos com segurança afirmar, que a beleza natural do Rio, lhe dá o título de coração da Terra de Santa Cruz. Bairrismos à parte, pois sempre haverá um gaúcho, nordestino, ou até mesmo um paulista que conteste que a beleza irrefutável do território carioca o eleve ao posto de patrimônio natural da humanidade.
Fato que pode ser acompanhado com mais lucidez na campanha “Vote Cristo”, que promove uma nova eleição das sete novas maravilhas do mundo moderno. Certamente o Cristo merece um lugar nessa lista, pois além de ser uma grande obra arquitetônica, no alto de seus braços, promove uma das vistas mais exuberantes do mundo. Digo isso sem a propriedade de quem visitou o local e sentiu a emoção de enxergar toda aquela paisagem. Acrescento essas palavras baseadas em relatos de amigos próximos que estiveram por lá, e acima de tudo, de imagens que se proliferam em nossa aldeia global. O Brasil tem overdose de Rio de Janeiro. Seja, por meio de páginas da vida, por paraísos tropicais, por vidas opostas ou pela luz do sol carioca.
Mais ou menos como no caso do cineasta dinamarquês Lars Von Trier, autor dos excelentes “Dogville” e “Dancer in The Dark”, que certa feita foi indagado de forma hostil, por um determinado repórter, que gostaria de saber como ele teve a audácia de fazer filmes tão contundentes e críticos do “american way of life”, que iniciou-se a partir do meio do século XX, logo após o crack da bolsa de 1929. A resposta do diretor foi categórica: “Eu nunca fui aos Estados Unidos, mas todos os dias os E.U.A. vêm até a mim”.
O chiado do “s” com som de “g” na terminação das palavras é o ruído que padroniza as transmissões esportivas, e jornalísticas de grande parte da mídia nacional.
Não se encontram muitos nordestinos na cidade do Rio, ou melhor, muitos realmente moram na cidade, mas tiveram que disfarçar seu “ta, te, ti, to, tu”, para não serem facilmente reconhecidos e tachados de “paraíbas”. Mas esse tipo de descriminação não é um “privilégio” do Rio, em São Paulo, os retirantes são habitualmente chamados de “baianos”. Assim como, nós brasileiros limpamos muito o chão de bares da belíssima Paris e seu Arco do Triunfo; e a cidade coração do mundo, Nova York.
Mas diferente do centro-financeiro mais famoso do mundo, e de São Paulo, o Rio de Janeiro é uma cidade horizontal.
Os prédios bem que tentam fazer presença no centro da cidade, e em regiões de alto poder aquisitivo – leia-se zona sul... (Ah, durante a minha visita de quatro dias na cidade, descobri que quem mora na Tijuca é “cheio de marra”, e apesar de morar num bairro muito bom, não mora na zona sul, portanto, não é elite) – mas são prédios mais preguiçosos, não querem encostar o céu, afinal, pra que ficar tão longe do solo, da areia da praia?
Essa marra carioca, é uma característica muito comum, mas os moradores da cidade teimam em reconhece-la. Na primeira vez que visitei a cidade, em uma passagem muito rápida, durante o show dos “Rolling Stones”, que reuniu um milhão e trezentas mil pessoas, de todos as localidades do mundo, percebi essa capacidade verborrágica muito aguçada. É um tal de toma lá, dá cá. Parece que ninguém quer sair por baixo. Aliás, por falar em vontade de ser superior, grande parte dos cariocas têm orgulho de ser reconhecido no restante do pais, como o povo mais malandro dentre os brasileiros. Existe uma exaltação inconteste do jeitinho brasileiro. Chega a ser patética a forma como alguns vendedores e atendentes e taxistas acham que os turistas são otários. Pode ser que muitos dos turistas – principalmente a “gringaiada” – caia na lábia da malandragem desses cariocas, mas a outra parte da população (certamente em maior número), aquela que está indignada com os anos e anos de descaso do Estado, da submissão ao crime organizado, e mais recentemente as milícias, é a que mais sofre. É esse povo que sofre para pegar uma lotação caindo aos pedaços, ou melhor, uma “van”.Que se confunde com a disparidade das tarifas do transporte público.
Que se indaga onde está a assistência social necessária para que os povos dos morros não tenham que se virar para a criminalidade, fazendo assim das áreas nobres, locais mais tranqüilos pra se viver.
Essa população fica sem norte em uma cidade que não tem zona leste.
Como o sol pode nascer assim?
Fica difícil brilhar.
A saída encontrada pela maioria da população é seguir os passos de Cartola e viver “A sorrir”, levando a vida, pois chorando ou lamentando não dá mais. Esse sorriso se expande a cordialidade, e dessa convergência vem a máxima de que o carioca é um povo feliz, que vive em um cartão postal, que sabe aproveitar a vida.
E foi uma canção de Cartola que coroou a noite no “Democráticos”, a casa de samba mais antiga da cidade.Já ao encontrar os tricolores no Maracanã – esta é a denominação, pois somente é fluminense de verdade, quem nasceu no Estado do Rio – não teve como contestar. O carioca é um povo que pode não ter muitos motivos para dormir feliz, mas assim o faz. Apega-se as coisas simples, ao ambiente magnificente natural deita, esquece dos problemas e dorme. Afinal, na horizontal, tudo é válido.

Um comentário:

Unknown disse...

Lindo!!


O melhor do Rio de Janeiro é o Carioca.