13 agosto 2011

Tudo começou em uma primavera. O ano era 1981. Duas crianças brincavam no quintal do vizinho do lado esquerdo, enquanto a mãe berrava constante para que viessem para o almoço. As crianças não tinham a menor intenção de entrar, pois sabiam que quinta-feira era dia de abobrinha com vagem. Correram para o meu pátio, deixando as bolinhas de gude caírem num harmonioso tilintar que deixava o rastro de onde pretendiam chegar.
O sol cobria todo aquele começo de tarde. Enquanto as duas criaturinhas vizinhas entravam para a alimentação de costume, voltei para minha mesa em busca de inspiração. Nada me vinha na cabeça e decidi que era a hora de fazer uma abrupta pausa. Peguei minha boina preta e saí para refrescar a mente.
Um maldito motorista apressado quase me atropelou, quando atravessava a faixa. Era uma Brasília amarela-manga, de algum modelo clássico dos anos 70. Fui à Praça dos Velhotes, meu principal refúgio, mesmo tendo apenas vinte e seis anos. O cargo de redator estava me consumindo, e os meus neurônios estavam cada vez mais degenerados. Não tinha mais inspiração.
Dois senhores com rugas latentes jogavam Ludo em uma mesa improvisada, enquanto viam seus parceiros alimentarem todos os tipos de aves, mormente os pombos. Pensei que no parque voltaria a ter algum tipo de lampejo, mas meu conhecimento sobre as coisas da vida estava a cada dia mais improfícuo.
Ainda tentei esboçar alguns traços de pensamento, mas tamanho era o meu bloqueio que se tivesse um menino de oito anos ao meu lado, relatando como fora suas férias, teria mais sucesso e lucidez do que qualquer palavra que busquei colocar no papel.

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