15 maio 2007

Quem és tu criatura?

Quem és tu?
Descobristes hoje que não é mais Poesia?
Entendeu de fato as artimanhas e ciladas de quem se arrisca?
De onde vieste?
Por que vistes?
Por quem vistes?
Por que se vai?
Lembro-me das nossas primeiras palavras, quando ainda conjugávamos os verbos na escuridão. Nossos encontros pareciam-se sessões de descarrego. As lágrimas que escorriam, purificavam e cristalizavam nossas almas.
Nos fortalecemos e começamos a escrever nossa história em páginas semelhantes às de nossas vidas.
Cada rabisco, cada amassado, cada arranhão serviu para unir nossas palavras e catalisar nossos pequenos desejos, nossos pequenos negócios.
Como gente grande amadurecemos, mas a nossa dor nos acompanhou.
Não aprendestes a se desgarrar dela, e, acima de tudo, não cicatrizou o passado recente que ainda está em seus ombros?
Uma semana após o fim, nos conhecemos.
Uma semana de sentimentos mútuos foi necessário para unir nossa essência e torná-los indispensáveis.
Mas quem és tu?
Quem estas por trás dessa saudade?
Essa mesma saudade que reflete o ritmo da poesia, fruto da estrela comum de dois, e que nos fez sentir as palavras que compõem a poesia de nossas almas.
Se hoje estou desnorteado é porque ainda não sei quem és tu criatura.
Não sei se é grande sonho que resiste ao tempo e as melodias falsas. Não sei se é suspiro tépido e cadente.
Não sei se estaremos juntos até o crepúsculo de nossa existência.
Não sei se o amanhã se abrirá.
Não sei se a prosa se curvará.
Não sei se a poesia virá.
Certifico-me de que ainda tenho forças para dar um último suspiro, e sinto as palavras em meu colo. Lembro-me que outrora a essência da minha vida não foi perdida com o tempo, nem levadas pelas ondas, muito menos pelo vento.O fogo ainda não se apagou. Existe uma pequena chama acesa que me aquece e me protege do frio.
Continuo a acreditar que o sorriso é o mérito de sua voz: doce e racional. Ácida e sentimental. Decidida e carente. Virtuosa e Dolorida.
Posso até descobrir que meu verbo não faz parte de nossa poesia.
Mas ... Afinal ...
Quem és tu criatura?

Um comentário:

Robson Assis disse...

Cara, parei no meio do texto pra colocar o cd do Cartola. Não sei porque, mas o texto tava pedindo.

A criatura está em nós, à sombra da saudade e da felicidade. Esconde-se até que não consegue mais cobrir o rosto de escuridão...

de volta na guerreragem.
abraço, mano!