29 março 2007

Tapete Vermelho

Dissera apenas o que queria escutar em seu subconsciente.
Aquelas palavras, que por muito tempo se perderam e não tiveram nenhum sentido, ganharam contornos mais decisivos após seu último discurso.
Pela primeira vez, tornara-se o orador oficial de seu coração. Desprendeu-se dos vínculos, vícios e tolices, que, sem pestanejar, tinham o ofício de destruir sua coragem.
Disse com vontade.
Disse sem pudor.
Rasgou a decência, driblou a moral e ludibriou a santidade.
Poderia apenas chamá-la de vaca, mas queria mais.
Estava cansado de relatar as coisas de forma superficial. Foi a fundo, e profunda foi a sua voracidade. Não comeu palavra. Sua fome era outra, mas não poupou esforços. Não disse meias palavras.
Disse inteiro, se realizou por inteiro, se sentiu inteiro, como se aquele sentimento prazeroso fosse o pagamento de seu quinhão naquela história.
Pleno em sua soberba deliciou-se mais um pouco, enquanto via todo aquele sangue escorrendo.
E aquele tapete, que tanto foi motivo de reclamação, por estar sempre opaco ou acinzentado, enfim, ganhou coloração hollywoodiana.
Cansou-se, mas não se arrependeu.
Abriu a geladeira, pegou uma cerveja, passou sobre o corpo e avistou o sofá.
Sentado, mandou cevada para dentro de sua consciência, e observou a obra de arte mais devastadora que seus instintos primitivos produziram.

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