17 abril 2008

Reclassificado

Não me encontraram nos classificados.
Hoje, abri-me nas páginas de esportes, e numa rede de tênis, espichei meu corpo. Do aro da notícia da NBA, uma bola veio em minha direção. Fui ligeiro, e desviei-me sem pestanejar; caí no Morumbi. Era dia de jogo. Ainda tinha torcedor reclamando da arbitragem; ainda tinha vestígios de alegria; Em vermelho, branco e preto, os tricolores saíam a comemorar mais uma conquista. Decidi fazer campana por uma noite.
Ao acordar, com a boca com gosto de cabo de guarda-chuva, ou corrimão de metrô, fui ao lavabo da página de saúde. Na gastronomia, encontrei meu pai em um outro restaurante. Acho que esse trabalho de garçom deve ser muito cansativo. O admiro por isso.
Precisei ir ao caderno das cidades para saber como andava o trânsito. Pela Marginal, engarrafamento monstro até a chegada da Ponte João Dias. No sentido centro, a complicação era ainda maior. Será que um dia encontrarão um jeito para este caos? Não sei bem, mas quem deveria dar soluções, no momento faz articulações políticas. Afinal, outubro está aí, e sem uma base aliada que possa fazer frente, não se pode dizer que existe uma candidatura sólida. Ao menos era isso que diziam alguns dos comentaristas de política. Estavam todos em polvorosa, pois nada ainda tinha sido definido, e com tais impasses, maior era o número de alianças, de intrigas, e, logo, maior era o tempo que as notícias sobreviveriam.
Mas voltei ao meu caminho.
A temperatura era agradável. No rodapé do caderno das cidades, temperatura de 25°. Como aquilo tudo estava mudando. O bairro mais perigoso do mundo – como outrora conhecido – seria o local de nascimento do primeiro astronauta a pisar em marte. Não o primeiro astronauta brasileiro, e sim o primeiro astronauta em todo mundo.
Um orgulho para o Capão Redondo.
Equipes do caderno ciência estavam presentes em diversas ruas do bairro.
Jornais concorrentes faziam fila para me entrevistar.
Eu me recusei.
Voltei à capa do Jornal. Agora como farsa.
Não foi muito difícil, mas após investigarem um pouco da minha formação acadêmica, descobriram que, nem astronauta sou. Não passo de um impostor. Sou um escritor barato, que vive no mundo da lua. Confundiram tudo. Não era marte, era lua. De lunático, talvez. Não me importei. Já estava nos céus.
Deixe-me em paz, pois de hoje em diante estarei em marte.
Anunciei neste mesmo jornal, neste mesmo classificado, que me desclassifiquei deste mundo que precisa de um periódico para anunciar sua realidade, ao invés de reclassificar a periodicidade de seus sonhos.

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