20 março 2006

Saudades de um tempo...

Eu queria que alguém tivesse a oportunidade de ler algo sobre saudade.
Não importa se o tema é batido, se vou citar algum autor, se o texto terá alguma importância social, e porque não, política.
Às vezes canso de ler e de escrever textos compostos de reflexões imutáveis, parâmetros, normas, coisas que não sentimos a menor falta quando a solidão bate, e a carência por ter alguém ao nosso lado é maior do que o anseio de conhecermos os alicerces da razão.
Certa vez, um amigo do primeiro ano de faculdade me disse que ia ao cinema sozinho. Perguntei a ele se não achava estranha esta situação e foi então que ouvi uma das frases que mais me marcaram no início de minha vida acadêmica: “Existe uma grande diferença de estar só e se sentir bem, e de estar sozinho”.
Isso não foi Marx, Sartre, Weber ou Nitzsche quem disse. Era apenas um jovem comum, talvez um promissor gênio, ou um execrado louco.
Quando estamos sozinhos, sentimos saudades de todos os lampejos de alegria, não conseguimos nem se quer fazer um simples programa como ir ao cinema.
Me lembro da minha primeira experiência deste tipo: foi muito estranho.
Ao entrar no cinema e ver todos aqueles casais felizes, me senti o pior dos mortais e tive a vontade de me esconder embaixo da poltrona até que os créditos finais do filme começassem a subir. Não o fiz, mas mesmo assim não consegui ter uma noite agradável.
Hoje ir ao cinema sozinho não passa mesmo de um simples programa, pois posso até estar só, mas não estou mais sozinho, sem esperança. Consigo até perceber que muitos daqueles casais “felizes” não passam de relacionamentos de fachada.
Quando resolvemos nossas crises existenciais, não sentimos mais saudades dessas coisas que são obrigatórias no mundo moderno: relacionamento estável, emprego considerável, vida social aparentemente feliz.

Todas estas aparências caem por terra quando começamos a entender que existe a possibilidade de sentir saudades mesmo daquilo que a gente não conhece 100%, porque saudade não se explica, se sente.
Quando estamos sozinhos e carentes, sentimos saudades.
Por outro lado, quando estamos sós, em ótimo estado de espírito e com nossa mente completamente lúcida, ainda assim sentimos saudades de um sonho que nem sequer sabemos se existiu, ou se um dia existirá.

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