25 março 2006

Devaneios Degenerados

Terceiro Devaneio - A Musa


Nunca soube diferenciar sensualidade de sexualidade, mas definitivamente a imagem que enchia de luz sua retina era de fato a harmonia perfeita entre os dois termos, com doses cavalares de carisma.
Um corpo escultural, quase caricato, se contrapunha a um sorriso delicado, que não era direcionado a qualquer um.
Cabelos longos, e dourados, pernas grossas e lisas, seios imperialistas e um rebolado que deixava todos os marmanjos daquela distinta casa de família com cãibras no queixo.
Todos esses elementos eram mínimos, perante a doçura de seu olhar que ao mesmo tempo em que apaixonava, consumia o coração, que desesperado bombeava sangue para todas as partes do corpo, promovendo assim alguns constrangimentos.
Lógico que ele não liga para isso. Sua alma também está ereta, pois se completou naquela noite.
Pergunta a uma garota quem é a tal musa, mas não obtém a resposta que satisfaça sua inquietude e não há mais nada a fazer a não ser ir de encontro com o prazer.
Dá uns sete passos até esbarrar em um maldito bêbado, que derruba em seu corpo um copo inteiro de chopp. Seu corpo fede, mas, neste momento nada importa: A rosa mais delicada e letal de sua vida está em sua frente, exalando todo seu perfume e prazer.
Olha ao palco. Está a menos de dois metros da mulher que procurou por toda a sua vida.
Espera ansiosamente que ela fite-o ao menos por um segundo, porque assim já poderia morrer feliz. Encontraria a felicidade pela primeira vez, abraçada com a morte.
Algo estranho acontece.
Não deveria ter piscado os olhos em momento algum. Sim, esse foi seu maior erro.
Lá estava ela, a felicidade, ou melhor, a morte.
Dançando com uma máscara preta, completamente ensangüentada, e com uma faca entre os seios, sua musa não se passava de um anjo vermelho.
Não entendia os motivos, mas agora a dança da morte o fitava e esta sensação lhe causava um frio na espinha que chegou a deixa-lo paralisado.
Atordoado e não remunerado com a felicidade o impostor descobre que a maior farsa que existe é o próprio sonho que carrega consigo. Abandona-o.
Abre seus olhos, senta na cama, ainda perplexo, e lembra-se que não tomou seus remédios. Pega dois comprimidos, vai até a cozinha e com um copo d’água toma um porre de realidade: É hora de acordar!

2 comentários:

Anônimo disse...

a maior farsa que existe é o próprio sonho que carrega consigo

.....

a sua capacidade de apresentar a toda hora essas expressões definidoras (existe isso?) e definitivas é impressionante

as imagens também são sensacionais

vc é muito foda !!

Anônimo disse...

necessario verificar:)