21 março 2006

O Vôo Breve de um Falcão

- O que você vai ser quando crescer?

- Quero ser bandido!


Os 58 minutos do Documentário Falcão – Meninos do Tráfico, que foram ao ar no último domingo no “Fantástico”, da Rede Globo, em edição especial para o programa (já que as mais de 90 horas de gravações devem chegar aos cinemas, provavelmente no dia 12 de Outubro, em um Documentário adaptado para a linguagem das telonas), provocaram a maior histeria na sociedade brasileira.
O Rapper MVBill juntamente com seu produtor Celso Athayde, dedicou seis anos de sua vida a percorrer as favelas do Brasil, entrevistando meninos que servem ao crime organizado, como fiéis soldados.
Os falcões – nome dado aos garotos que se expõem na entrada das favelas e que têm a missão de avisar quando os policiais sobem o morro - são uma espécie de sentinela suburbana.
MVBill acertou nas palavras ao dizer que sempre viu o crime organizado sendo analisado por sociólogos, antropólogos e políticos e que, enfim, chegou a vez de alguém da favela dizer o quê e como realmente as coisas acontecem por lá.
As cenas são cruas e lamentáveis, porém altamente verídicas: Crianças consomem drogas como se fossem doces, brincam de linchamento, e dizem que não tem medo da morte, pois nada pode ser pior do que o inferno em que vivem.
Dos 17 meninos entrevistados, 16 já morreram e a pergunta que fica é: Será que alguma coisa vai ser feita para que essa situação mude?
Não.
Assim como MV Bill - que ainda mora em uma favela e é integrante da ONG Central Única das Favelas - desejaria de coração que esta situação mudasse de imediato, e que um verdadeiro exército da salvação invadisse as favelas cariocas, bem como todas as regiões periféricas brasileiras.
Mas desta vez a invasão não pode ser como a última, que aconteceu no Rio, onde o Exército carioca resgatou suas armas, após o furto das mesmas.
O que deve acontecer no Brasil é uma interação entre todas as esferas da sociedade. Com maior distribuição de renda e diminuição das desigualdades sociais, o desenvolvimento começará a ser mais nítido também nas favelas.
O Estado deve intervir levando educação, saneamento básico e saúde para toda a população. A questão da segurança é apenas um estopim, pois nada pode ser feito para mudar a trajetória de uma criança, que tem como único parâmetro o caos. No próprio documentário isto foi detectado quando um falcão responde quem é seu maior ídolo: “Meu Fiel” (traficante que ensina os macetes do crime ao garoto).
Por fim, é sempre bom lembrar que estes pequenos traficantes poderiam ser pequenos médicos, pequenos engenheiros, se tivessem também o apoio da família. Na verdade, a questão nem é o apoio em si, pois o que não existe mesmo é a instituição familiar clássica: mãe, pai e filhos e irmãos.
Os falcões bastardos poderiam muito bem estar do outro lado da câmera como repórteres, cinegrafistas, profissionais ou diretores, mas se isso acontecesse mais uma pergunta seria jogada no ar: “O que alimentaria a perplexidade da apática sociedade brasileira”?

2 comentários:

Unknown disse...

A própria mídia adora fazer um estardalhaço quando surge algum ator competente ou diretor que veio da favela, mas esquece-se que eles correspondem a 0,01% do total.

Anônimo disse...

Como eu te disse a pouco.. vc é um rato rapá.. rs
Depois de ler o texto, imaginemos o q será do 17º falcão q sobrou.. esse mesmo que foi ao faustão, ao lado do MVBil.. eu gostaria de saber o q ele será daqui a 15anos, vamos ver se a mídia terá o mesmo interesse...