19 março 2006

Gênios e Loucos

Corro...

Não sei pra onde vou, apenas continuo...
Eles correm atrás de mim, tentam me convencer a voltar, mas estou decidido a caminhar sem rumo.

Não preciso esperar a boa vontade do desgraçado do destino para decidir para onde vou.
Vejo um hospital e dois seguranças na porta, é aqui.

- Me interne, estou louco!


Os caras olham em meus olhos, observam meu estado e não acreditam em mim. Começo a contar um pouco da minha história e eles compreendem que estou alterado. Um dos homens sinaliza que o setor de internações fica no terceiro andar.
Estou pronto para subir.
Quando estou prestes a colocar meu pé esquerdo no tapete do elevador meu pai grita :

- Edgar, Edgar!

Nunca gostei muito de ser chamado de Edgar. Papai achou bonito porque uma vez leu um livro “A Carta Roubada” de um tal de Edgar Allan Poe, e cismou com o nome. Eu até cheguei a ler o livro, gostei do clima de tensão, mas o que mais me deixou intrigado foi saber que este mesmo autor certa vez disse a seguinte frase: "Resta saber se a loucura não representa, talvez, a forma mais elevada de inteligência."

Sempre fui o mais pirado da turma. De todas as turmas.
Quando era para animar um ambiente lá estava eu com a minha invejável alegria, que muitos preferiam chamar de insanidade.
De loucura em loucura, comecei a ser visto como a pessoa mais feliz do mundo, pois sempre estava rodeado de amigos, sorrindo, brincando e fazendo com que os outros se esquecessem de seus problemas.

Tudo isso é muito engraçado. Pois eles nunca pararam para pensar que eu sou um simples mortal, e como tal, tenho problemas também.
Nunca extravasei minhas angústias e talvez este seja meu maior defeito.

Mas hoje foi diferente. Alguém lá de cima(ou lá de baixo) mandou meu velho vir azucrinar minhas idéias. Eu estava tranqüilo com meus amigos bebendo minha tradicional cervejinha, quando o mundo desabou sobre a minha cabeça.

Não importa se eu briguei ou não com minha namorada. O cara não tem que se meter. Não tem que tornar isso público.

Tentei ficar calmo, mas ele me provocava.
Respirava fundo buscando paz, mas a cada palavra que ele dizia meu sangue subia. Quando ele terminou seu discurso pra lá de manjado, minhas mãos já estavam cerradas. Eu queria dar um soco nele. Tive o controle da situação, mas ao ir embora o velho deixou escapar a última besteira da noite, e foi então que fui possuído pela loucura.

Como foi prazeroso esmurrar aquela porta de metal que estava na minha frente! Como me deliciei ao jogar o relógio que paguei a maior nota, sem medo algum no chão!

Agora corro...

Não sei pra onde vou, apenas continuo...

Depois de me confessar aos seguranças do hospital e de ver meu pai arrependido, implorando para que eu volte, percebo que minha loucura é diferente.
Meus amigos me abraçam e choram comigo. Todos repetem.

- Você é meu... você é “muito” meu...

Se o tal de Edgar Allan Poe tinha razão, dizendo que a loucura representa a forma mais elevada de inteligência, sou realmente louco, pois tenho a inteligência e a sorte de ter pessoas tão diferenciadas ao meu lado.

Mas uma coisa é certa: Eles também são loucos!

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