14 março 2006

Bala Perdida

Tinha a intenção de postar um assunto mais leve, e de continuar no ritmo das grandes paixões nacionais, conforme indicação de uma assídua leitora. Porém, na noite desta segunda-feira, ao assistir ao filme “O Senhor das Armas”, uma revolução explodiu em minha mente.
Longas que se baseiam em fatos reais para escancarar ao mundo as atrocidades provenientes da ganância humana são sempre bem-vindos em nossa atual conjectura caótica.
“Chinatown”, um dos melhores trabalhos do diretor Roman Polanski (“O Pianista”), explora os elementos do cinema noir, com uma impecável atuação de Jack Nicholson, remetendo ao espectador a seguinte certeza: não importa o que aconteça. Ainda pode ficar pior.
A contundência deste filme, que relata escândalos envolvendo gângsters de Los Angeles e um obscuro esquema de distribuição de água e energia na cidade, pouco tem a ver com o tema “bombástico”, que ronda esta página.Trata-se de um pequeno gancho para salientar, o quão desprezível é a ambição humana.
No Oscar deste ano, filmes com o mesmo caráter denunciativo de Polanski obtiveram êxitos levando uma ou mais estatuetas na noite de gala do cinema americano.
O grande ganhador da noite, “Crash – No Limite”, relata a história de pessoas de etnias diferentes que se colidem na dor e se unem na esperança de vencer o preconceito.
George Clooney, que por diversas vezes criticou a doutrina Bush, levou o Oscar de melhor ator coadjuvante pelo intrigante Syriana – A Indústria do Petróleo. Foi um verdadeiro tapa na cara nos donos do ouro negro.
Fernando Meirelles que fizera uma brilhante crítica à origem e ao ciclo da violência nos morros cariocas no filme “Cidade de Deus”, surrou outra Indústria poderosa: a farmacêutica, no comovente “O Jardineiro Fiel”.
Dois outros longas desta safra politizada merecem destaque: “Marcas da Violência”, que é praticamente auto-explicativo, e “Hotel Ruanda”, um dos poucos filmes ocidentais que expôs a todos os cantos do planeta um genocídio que matou mais de 1 milhão de pessoas enquanto a maioria da população distante do continente africano fechava os olhos para o massacre.
Todos estes filmes produzidos e distribuídos em momentos quase idênticos não seriam uma espécie de confissão extra-oficial do Tio Sam ao mundo, que seu país é um total fracasso em relação a acordos de paz com a ONU, miscigenação étnica, tolerância racial, e apoio à questões humanitárias?
Talvez quem possa dar esta resposta seja George W. Bush, ou seu algoz , o documentarista Michael Moore uma das principais vozes anti-republicanas nos Estados Unidos. Seus dois principais trabalhos: “Firenheit 9/11” e “Tiros em Columbine” foram considerados por muitos americanos como um insulto à pátria.
O primeiro debocha da incompetência do atual presidente americano diante do mais relevante atentado terrorista da história moderna. Já o segundo, é um ancestral de “O Senhor das Armas”, pois destaca a facilidade que a população americana tem para comprar uma arma, talvez o maior fascínio daquele povo.
Em “O Senhor das Armas” Nicolas Cage no início do filme sentencia que é produzida uma arma para cada 12 cidadãos do globo terrestre, e que é necessário armar os outros 11.
E sem querer ser estraga prazeres, termina com uma seguinte constatação: “A paz é pouco atraente para os grandes negócios, e por mais que acabem com os vendedores de armas os países continuarão vendendo , pois hoje os maiores exportadores de arma e munição são, Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Rússia, hilariantemente os cinco países que tem cadeira fixa no conselho de segurança da ONU.
A paz não era mais do que uma bala perdida, que perfurou o coração da esperança e encheu os bolsos dos senhores da guerra.

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