28 março 2008

Luvas

Tenso. Mina o visível descalabro.
Arredio, não quer abraçar as ruínas.
Está certo. Muito foi feito até então.
E agora, desistir? Abandonar as obras?

Não tem idéias a suprir. Admite e se cala;
Guarda baixa, olhos cansados, cabelo amassado.
Está nas cordas, está na lona, está no chão.
A contagem é aberta. A derrota é aguardada.

Na platéia, entre uivos e delírios, entende a idolatria.
Não é mais herói – talvez nunca o foi – E isso dói.
Dor seca, lancinante e solidária. Sua derrota,
Não cabe mais em uma garrafa de doze anos.

Suas lamentações, talvez; Todavia, o único gelo que vê
É o que colocam em seu rosto quente. É físico, é latente.
Antes fosse depressão (comprimidos tem controlado);
Antes fosse paixão (coração tolo tem de sobra);

É sangue. Amanhã, quando aparecer na teve, será passado.
O futuro, mais uma vez deixará claro, que não tem presente.
Lembrará dos primeiros treinos e da ânsia de ser um campeão.
Mas no hospital, apenas a mídia sensacionalista dará notícia.

Sem amigos, nem inimigos para sorrir de seus hematomas.
Sem impaciência para sair dos aparelhos e descer para um quarto.
Na UTI, aproveitará a paz e abraçará o ermo de seu existir.
Se tiver sorte, uma enfermeira descuidada desligará os aparelhos.

Quem sabe, volta a ser campeão?
Vencedor de suas inquietudes e dramas.
Merecedor do cinturão mais nobre.
Calmo. Mina a invisível conquista.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não sei como consegue escrever tão bem essa hora ...
Duvidas em Português Instrumental , so mais voce ... ahhaahahaha