12 maio 2006

Hora de Zerar

Após inúmeras tentativas sem sucesso, este rapaz, incansável aprendiz, que em sua estúpida presunção confunde liberdade com felicidade, confessa em um grito (quase abafado pelo silêncio de sua alma), que não dá mais.
Como diria um ilustre amigo: é hora de zerar.
Não se trata de uma crise existencial, tampouco uma crise da meia-idade(Deus, Alá, Buda, ou sei lá mais quem deixem que eu chegue até lá). Trata-se de um momento de introspecção, um período no qual os conceitos pré-existentes ganham um sentido conotativo, pois na fase em que se zera, não existem pressupostos que sejam plausíveis, verdades absolutas, ou lógicas que direcionem a mente a um sentido determinado.
Tudo é novo, e tudo é válido.
É tempo de rabiscar, rasurar, experimentar, brincar de ser criança, com a sobriedade e peso que estes vinte e tantos anos impuserem neste ombro que agora se amolece. Estou sóbrio, não por que em meu sangue não corre uma gota sequer de álcool, e sim porque desejo ver com toda a lucidez, o tamanho do rombo e estrago que foram feitos em minha alma.
O corpo já começou a cambalear. Sei que ainda agüento muitos anos nessa vida degenerada, mas pra quê?
Até quando vai ser bonito dizer “Até Quando!?” e não tomar uma atitude clara para que isso mude?
Em nenhum momento poderei reclamar do padrão de vida que tenho e que levo hoje, mas essa é uma vida que escolhi e que agora se renega a ir embora.
Sou livre, e esta constatação é uma antítese de felicidade para um espírito ferido.
Quanto maior é a liberdade do indivíduo, maior é a dimensão da dor que atinge sua vivência.
Outrora, achava conveniente dizer que a verdadeira felicidade estava nos braços daqueles que são livres.
Hoje, pelos calos e tombos da vida, e por todos os ferimentos do espírito, acredito sinceramente que sem um constante processo de reciclagem não é possível encontrar a estabilidade do corpo, da mente, do coração e da alma.
Brincando tínhamos o costume de dizer: “Você pra mim é um lixo!”, e esta frase não era superlativa ou falsa.Talvez uma pequena confissão, ou acusação que soava como comentário ingênuo, mas que no seu contexto subliminar, nos julgava e nos punia com a verdade.
Mas como diria a Senhorita Lee: “Não quero luxo nem lixo”.
Quero justamente zerar o placar que diferencia luxo de lixo, angustia de carência, esperança de medo, solidão de conveniência e liberdade de felicidade.
E quando estiver zerado, limpo e purificado quero enfim empatar a felicidade e a liberdade, numa carência tola chamada amor.

Um comentário:

Robson Assis disse...

É hora de zerar.

Muito bom o texto. Me sinto assim umas 4 vezes por dia (por sinal, sempre que me olho no espelho)

Um dia a gente descobre se tudo vale a pena ou não. Estou vivendo assim ultimamente. Meti um dedo na cara do futuro.

Manda fechar a conta e vamo embora pra outro rolê.

Abraço, velho,
Robas