16 junho 2008

O Último Sonho

Não lembra o idioma:
-Corre...gooooooo.... ruuuuuuuuun...!
Sabia que deveria seguir o conselho.
Ela, que sempre quis ser personagem, que até aula de teatro fez, estava no centro da cena mais eletrizante, que nem mesmo Tarantino teria pensado com tanta propriedade.
Mas não correu.
Pensou em Isabella, a guria que ainda dava algum sentido para sua melancólica vida.
Ficou.
Protegeu a pequena Isa, e pagou pela escolha.
Dois anos de reclusão.
Digna!
Lembra bem da cilada. Ele falou que não teria nenhum problema, que era apenas uma assinatura, mas quando os federais baixaram, a confusão de carteiradas a deixou atordoada;
Lembrou-se de Forrest....
Queria correr. Queria atravessar o país.... mas não poderia. Não seria justo que a indefesa Isabella pagasse pelos erros de seus pais. Com quem ficaria? Entregar na mão do Estado?
Nem pensar.
Isabella era tudo. Ao menos tudo para sua mãe Beth.
Como um algodão doce que não se divide.
O último.
Do último vendedor.
Um parque cheio, pessoas tranqüilas.
A única coisa que poderia acabar com a paz daquele lugar seria o fim das vendas do algodão doce.
Seria como se os sonhos tivessem acabado.
Certamente, daria vontade de sair do parque e voltar ao caos da cidade.
Mas Beth estava com o último algodão doce, o último sonho.
E ele seria de Isabella. De Isabella e de mais ninguém.
As meias, desalinhadas, remetiam ao momento da concepção de sua filha: envolvida de desejo, nem conseguiu tirar os pares de meia que vestia. Consumiu-se de amor. A botinha rosa, a saia rodada, a blusinha branca. Era Isabella, era a felicidade de sua única filha.
Não importava mais o tempo na cadeia.
Neste instante, não existe mais vagabundo.
Apenas duas damas a recuperar o último sonho.

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