30 outubro 2008

Profecias de Fim de Noite

Se eu fosse mais que profeta
Saberia onde estou agora.
Não me perdi por aí, não me perdi...
Mas não me encontro, não te encontro.
As previsões que o vento trouxe
Brisaram sobre o nosso tempo.
Não existe contemplação ao amanhecer;
Não existe paixão ao entardecer;
Não existe nada além da profecia.

[Que não se cumpre nunca]

20 outubro 2008

Desumano?

Não sou policial. Nem civil, nem militar.
Nunca defendi o palácio do governador, nunca tentei invadi-lo.
Não tenho câmera de luz infravermelha, não consigo prever se tem um armário atrás da porta.
Outrora, se dizia que eram os corinthianos os responsáveis pela criminalidade em São Paulo. Hoje, na janela do prédio em Santo André, a camiseta do tricolor paulista. Nem mesmo o preconceito joga no mesmo time.
Penso em organizar as idéias, estou no ônibus.
Em pé, no ônibus que se despede da Avenida Paulista, a elite branca divide espaço com a miscigenação caricata de nosso país. Mulatos, mamelucos, caboclos, todos observam os pálidos senhores, e as belas meninas de cabelos lisos descerem nos pontos mais próximos do centro. Meia hora depois, ao chegar ao Terminal Santo Amaro, me deparo apenas com a diversidade de rostos marrons.
Ali, poucos se importam com quem tinha razão entre as polícias.
Wall Street?
É de comer?
Deve ser lanche novo do Mccâncer. Talvez a unanimidade burra de todas as camadas sociais.
A elite branca acaba de chegar em casa com segurança. Acompanham na televisão os mercados neoliberais que pedem socorro ao Estado, as polícias que entram em conflito entre si e os crimes passionais que comovem o país.
Enquanto isso, o povo miscigenado e cansado, ainda pega trânsito na lotação.
Desumano? Talvez.
Mas em meio a toda essa bestialidade, dificilmente a humanidade continuará a ter espaço para abrigar seres humanos.

18 outubro 2008

Imprecisos e Nômades

Minha essência não condiz com teu olhar.
Somos o fruto do conflito mais sincero.
Aos seus postos, os postos, essência e olhar.

Se me tens na chuva, se me a beira-mar,
Jamais me terás de verdade.
Não sou tangível. Não sou mensurável.

Sou como teus olhos: Imprecisos e Nômades.
Quando compreender minha inquietude,
Não teremos mais sentido.

Deixe assim, sem norte, sem ambição.
Ao repousar em meus braços,
Não é teu corpo que descansa,
São meus olhos,
Que contemplam a tua essência.

07 outubro 2008

Simples Equação

Se não fugisse de mim,
Não seria abrigo.
Se não fosse motivo de lágrimas,
Por ti não abriria sorriso.
Se não perdesse noites de sono,
Não sonharia contigo.
Se não fizesse estragos em mim,
Não te construiria tão sólida.
Se não fosse indiferente,
Não seria minha razão diferenciada.
Se não entendesse meus problemas,
Não seria minha simples equação.
Se não falasse a minha língua,
Não seria a voz que eu sempre sigo.
Se não fosse menos indecente,
Não entenderia a nossa volúpia.
Se desse valor à vida,
Não seria imortal.
Se me ensinares a viver,
Morrerei de amores por ti.

04 outubro 2008

O Samba Se Fez Em Você

O samba que eu fiz pra você
Nem mesmo a lua consegue explicar.
Eu fiz já no anoitecer,
Com as estrelas ao nosso ninar.

Meu sol vive a reluzir
Sobre os teus braços em cada manhã.
Bem quisto é o nosso porvir
De fina seda num mundo de lã.

Tão belo é o teu despertar,
Tão impreciso és teu dissabor.
Consome o meu paladar.
Me faz menino no teu cobertor.

O morro desceu pra te ver,
O mestre-sala por ti se ajoelhou;
O samba se fez em você...
Do samba se fez o nosso amor.