29 novembro 2007

Entre Preâmbulos e Epílogos

Eis o preâmbulo tacanho de uma amável dor.
Corrói o coração em incomensurável lástima;
Refuta a ânsia de ser tenaz e austero. Único,
Deslumbra-se com a visão de um ermo hostil.

Tua bravata, tua fiel e inseparável concubina,
Abandona teu olhar. A luz da noite, converge
À quimera torpe da esperança.Quase fracassa,
Mas, a sua estupidez, se fortalece com tolices.

Acredita em si, mas deverias desistir do mundo.
Renuncia velhos conceitos, e avigora-se, solitário.
Dá seus passos, e, sozinho, enfim se encontra.

Não foi Deus. Tampouco, os seus intercessores.
Talvez a primeira e exclusiva dádiva conquistada.
Paradoxal, talvez o epílogo de uma dor amável.

E o jogo começa ...

Olhos nos olhos... Uma respiração mais pesada... Um toque em conjunto com isso tudo... Um cheiro... Isso é bom... Ah como isso é bom.
Lendo “Cem Anos de Solidão” lembra-se das técnicas de sedução.
Perde-se na leitura, mas retoma, desta vez, um pouco mais concentrada.
Entre uma letra e outra, entre um carro e outro, ela observa os carros desgovernados, que passam rente ao calçadão, assustando sua leitura habitual. Volta às palavras.
É apenas o princípio. Não sabe se terá meio de sair, ou meio de domar, mas procura com afinco, não chegar ao fim. Se Maquiavel estava certo ao dizer que “os fins justificam os meios”, quer se perder no caminho, e usar todas as ferramentas do meio para, enfim, ter seu novo sonho.
Lembra de princesas que adormeceram.
Nem Eros nem Psique podem ajudá-la.
Na cidade dos prédios cinzas, do céu cinza, dos sorrisos acizentados, descobre que as cores de Almodóvar, estão vivas em teu coração. Uma tela um tanto quanto abstrata, mas inegavelmente quente.
Pega as fotos e dá de presente.
Tirou a noite para contemplar e ser dádiva.
Lábios doces e imponentes.
É ela.
Que sai da distância.
Que se move do horizonte.
Se aproxima, e não merece sair.
Olhos nos olhos... Uma respiração mais pesada... Um toque em conjunto com isso tudo... Um cheiro... Isso é bom... Isso é bom... Ah como isso é bom.

27 novembro 2007

Jogadores

O meu canto é pouco
Feito louco, tento me entender.
Na minha loucura,
Não a vejo a cura que vem no amanhecer.

E se noite cai,
Não me leva e não vai me derrubar.
A lua que fique lá,
Se quiser, me ilumine.

O sol está de licença.
Quem canta, nem sempre encanta.
E quem joga,
Nem sempre vence.

Os delírios de quem entra em campo,
Não são as verdades de quem torce.
Às vezes os erros são válidos,
Mas as vitórias são essenciais.

Se é pra observar de longe,
Que tire o melhor.
Que analise todos os pontos fracos do adversário.
E que, após essa análise, tenha foco.


Se o foco se desfocar,
Se o jogador não jogar,
Se o canto não ecoar,
A cura virá no amanhecer.

Apruma-se sem querer
E quando menos se espera.
O jogo começa, e você...

Nem da conta que está em campo.

21 novembro 2007

Rascunhos

Não existem palavras que empulhem o que sinto.Provavelmente, se esconderam ou se acovardaram, graças à preguiça de existir e abraçaram o silêncio.Ao olhar na janela, confronto-me com a noite, que balbucia uma agradável paz.
Era para ser tormento, caos, com pitadas de desilusão, mas o que está na mesa, não lembra os tempos de outrora.Este sabor, que entrou pela janela sem ser convidado, não tem pimenta, não tem fel. É seco.
Pondera, pensa, acalma. Puxa uma cadeira, e coloca no prato a tranqüilidade. Serve-se e lembra que ainda serve para muita coisa.
Toda essa calmaria confunde-se com a nossa racionalidade.Pena que a razão é burra, pois esquece seus princípios dúbios de qualquer simples existência. E não adianta chamá-la de teoria. Não basta comparar ao relativo. Sou mais a emoção que nunca se confunde. Não promete segurança.Foi feita desde os primeiros esboços do tempo, para ser desfeita. Dizem que os artistas são inconstantes e que sempre criam maravilhas.Discordo.
As maravilhas são inconstantes e, sempre destes conflitos, criam-se artistas. Tranqüilos, empulham palavras, e com a alma em silêncio escrevem rascunhos de felicidade.

11 novembro 2007

Notas

A nota que hoje tento tocar, já não tem som. Abafada pelo sopro de esperança, e pelo sol,
perde-se ante a luz, que em ré e na contramão dos sentimentos tolos das melodias de amor
sempre diz as mesmas impugnações sem rumo, os mesmos balbucios e limitações.
Porque o fracasso não é aceito? Será que a sociedade vencedora é a responsável? Vai culpar o capital? A direita conservadora? Por que não admite que foi impotente diante de uma realidade que não era nada sonhadora?
Ser de esquerda, libertário, retrógrado ou apolítico não minimiza a dor de quem ama, ou de quem perdeu um amor em potencial.
A solidão sempre volta e num tem Marx ou Ford que esteja ao lado do travesseiro. A cama continuará vazia. Lágrima ou suor, insônia ou depressão, saudade ou solidão. Não importa: A cama segue em busca de um par.
Ser ímpar o lembra dos tempos de individualidade, da busca incessante pelas coisas que tinha. Era bom aquele tempo em que esquecia dos sonhos e solitariamente pensava nas coisas. O seu materialismo era vital. E esse sentimento pelo ter, que o afastou da besteira que é o fato de acreditar nos relacionamentos humanos.
Hoje não tem nada.
Não tem grana em suas mãos. Não há capital de giro para se reerguer, e muito menos para comprar a sua felicidade.
Sozinho abraça a solidão e reflete.
Sabe que será por uma pequena eternidade, pois nunca deixa que o tempo o espanque e devore a vontade de se reerguer.
E nessa pequena eternidade que minuciosamente recolhe seu orgulho e toca uma canção manjada, que até a noite deixa o sol brilhar sem dó.

02 novembro 2007

Mesmo Proceder

Esse é o caos que um dia tentou não se apresentar. Refugiava-se nos olhos daqueles que seguravam lágrimas torrenciais. Em silêncio, era o reflexo do que estava perdido e do que ainda estava por se perder. Palavras, anseios, devaneios, lembranças. Tudo se completa e se dispersa em um mesmo proceder.
Recorda do tempo em que a esperança era mais forte que a dor.
Sabe que não é apenas o teu olhar que vaga sem rumo... Um pouco de sua vida, também se perdeu. Uma parcela de sua essência se foi. E mesmo que esbanje um sorriso jubilar a partir de amanhã, não terá volta o que se foi, quem se foi.
Mas não é essa constatação que o deixa propenso a acreditar na tristeza.
A aflição que rebateu seu coração deixou o aprendizado, de que não adianta resmungar pela perda. Basta lembrar do que fomos beneficiados, e como o fomos. Não perdemos, conquistamos.
Cada momento vivido ao lado de quem nos deixou, quando lembrado com fé e de forma positiva, passa a ser um momento de luz, uma reminiscência feliz. Um aprendizado constante.
Se em sonhos ainda a sentimos, na realidade somos o legado que ela deixou.
O caos se transforma em paz e isso ninguém mudará. E essa paz, essa certeza, essa felicidade, não há marginal que tire de nós.