23 julho 2007

Canção de Espinhos

Cante.
Encante o desejo.
Boceje a tristeza, e se for necessário, grite.
Espanque a saudade.
Eis a solidão, que canta e encanta a melodia.
Acordes, sem som.
Acorde e seja o som.
Diga, ao pé do ouvido da alma, que ainda sobrevive.
O coração bate, mas não espanca.
Deveria ser mais sincero a cada batimento.
Deveria ser eterno, mas é quase abatimento.

Canta.
Não se opõe, não levanta.
A boca diz o que encanta.
Os olhos não vão mais mentir.
O véu que cobre a tua honra,
Já se despiu bem sem vergonha,
E agora quer se despedir.
Na hora da partilha o sol se põe,
Finge ser contradição e não brilha ao amanhecer.

Desconhece o sonho.
Desconhece a marra.
Obedece a luta.
E ainda cai na farra.

Canta com carinho.
A canção de espinhos,
Que coroou o amanhã.

Entregou as flores,
Contou seus amores,
E fez da cama o seu divã.

14 julho 2007

Mutação Exata

Durante a queda pediu informações.
Reergueu-se, mas sem explicações,
Cantarolou o grito de quem apenas cai.
Não sofreu, não fingiu, e agora vai.

Sem excitações divaga em delírios.
Poucas doutrinas em seus martírios.
Bocas e ofensas já não lhe bastam.
Facas pretensas já não lhe castram.

Bicho do mato e da Cidade.
Cidade que mata o bicho saudade.
Fera que foge e não se espanta.
Fúria que corre e não mais levanta.

Por vezes quis deitar e assim ficar.
Por vezes quis subir e assim agir.
Por mais que o sonho não o encontrou.
Por mais que o dia não se apresentou.

Por menos jura que não se vende.
Apenas fecha os olhos e se rende.

09 julho 2007

Ademais

Enquanto elas falam,
Ele age.
Enquanto eles brincam,
Ele relembra.
Menino feliz,
Escolha feliz.
Vazio?
Sim. Estava vazio.
Hoje, vazia está a mente de quem não se ocupa.
O coração de quem não se permite.
Ou até de quem se permite demais.
Não interessa.
Vive completamente sem fronteiras,
E isso basta.
O momento é terno.
Momento eterno.
Como um chocolate,
Que desmancha na boca.
E seu sabor alimenta a esperança
Doce como o seu coração.
Mas foi assim que ele escolheu.
Assim que não se arrependeu.
Assim que viveu.
E ademais, apenas agradeceu.