30 maio 2007

Crime Maior

E se ela não existir?
E se for apenas um produto da minha ingênua abstração?
E se não for presságio de calmaria?
E, se tiver o dom de ludibriar o coração de quem leva fé, e vai até a fé?
A ansiedade que bate....
A angústia que espanca...
E a esperança que fortalece.
Será que podem ser conjugadas no mesmo verbo?
Nunca fui refém do medo e tive como oráculo, a liberdade, acima de todas as adversidades. Mas essa liberdade pode ser uma prisão letal.
Sentenças podem ser assinadas, por homens de capa preta. Martelos devem ultimar as penas que serão impostas.Tenho certeza de que elas não serão leves, pois não é do caráter punitivo o dom de abrandar as conseqüências.
Pena sem pena.
Cada um em sua cela fará sua introspecção, a espera do grande dia... Aquele em que seremos – ou não – apontados em praça pública, como os contraventores, os pecadores, os subversivos da ordem emocional.
Quando acredito que a utopia começa a tornar facetas humanas, duvido até o último.
E se ela não existir?
E se for apenas um produto da minha ingênua abstração?
E se não for presságio de calmaria?
Agora já é tarde e pouco me importa se ela existe ou não.
Honestamente, quero senti-la, e se ela existir de verdade, me tornarei o mais novo meliante. Punido pelo crime de amar de forma amena e singela, quem cometeu o crime maior: roubar meu coração e não devolve-lo, sem que sua alma hedonista me tenha em seus braços.

29 maio 2007

O Tocar

Se disserem a ti que temos tudo em nossas mãos, mas que, às vezes elas não são tão fortes e perfeitas para quando fechadas agarrarem o que queremos, sem deixar escapar a felicidade, certifique-se que, nestas palavras, o medo reside.Trata-se de uma batalha entre o 1% contra o 99%. A fresta da lacuna, que não pode ser preenchida, e não se sabe por qual razão. Nessa frase está implícito (ou explícito, depende da ótica), que 1% de risco, é o que basta para o medo. É a lacuna que fica. A fresta que deixa a insegurança entrar sem explicação.
Mesmo se eu soubesse qual a proporção para a felicidade, não a divulgaria. Convém a todos o sofrimento. A angústia, o penar. É devido a todas essas aflições que o medo existe e que a capacidade de abstração do ser humano é aflorada. Se o céu ficasse azul durante toda a eternidade, iria sentir saudades dos tempos nebulosos, em que olhava aquele céu acinzentado, recoberto por nuvens espessas de mágoa e frustração. E tenho certeza que não seria o único.
O senso comum pode sim ser contraditório.
Muitos ainda acreditam que seria bom se, por exemplo, na lotação, ao invés do motorista sintonizar a rádio mais “teen” e “modista”, estivesse tocando um CD de grandes obras de Beethoven; que seria maravilhoso andar em praça pública e escutar ao fundo um vendedor de calçados cantarolando “Alvorada”; e que seria uma experiência única, observar os homens trabalhando no mais novo complexo habitacional da cidade, e entre um tijolo e outro, fazendo um batuque seco com suas pás ao som de “Construção”.
Outros crêem que o “macaco adora banana, porque este é o único alimento que lhe servem”.
Sinceramente, não acredito nesses adágios.
Às vezes, creio que se o gosto popular fosse refinado, o gosto elitizado, por sua vez, seria um poço de asneiras transbordando obras rasas. Se o macaco começasse a comer morangos, seu apetite iria diminuir sentir saudades dos tempos que comia a boa e velha banana.
Nesta batalha egoísta, o sofrer transforma-se em altruísmo. Com toda a sua potencialidade, este sofrimento se disponibiliza a ajudar ao próximo, abnega-se da alegria, e se recolhe em nossas mãos. Àquelas mesmas, que, por vezes não são tão fortes e perfeitas, para quando fechadas agarrarem o que queremos. Apenas escrevem palavras. Estas, desnecessárias, pois se o medo não às dominassem, de certo estaríamos em silêncio, contemplando o tocar de nossas mãos.

28 maio 2007

Falta Apenas 1% ...

“Eu que tenho medo até de suas mãos
Mas o ódio cega e você não percebe
Mas o ódio cega...
E eu que tenho medo até do seu olhar
Mas o ódio cega e você não percebe...
Mas o ódio cega”

Sempre acreditei na máxima que o “amor é cego” e inebriante. Mas, às vezes passo a crer que é o medo de amar que é cego. Com isso, o ódio começa a tomar conta de nossa inquietude, fazendo parte de um ciclo perigoso.
Em quase todos os momentos em que nos entregamos a um sentimento, nos entregamos por inteiro, por alma, por essência, por sintonia. Acontece, que por alguns instantes, podemos nos doar “apenas” com 99% de nossa vontade. O que proporcionalmente seria uma lógica incontestável, uma exata inevitável, torna-se um perene medo.
Esse 1% que se espalha em cada metro de nossa distância, em cada momento em que não estamos juntos, em cada instante em que os planos não dêem certo, corrobora o poder do medo em nossos corações.
Nossa ansiedade, já não é mais ansiedade.
Nossa saudade, já não é mais saudade.
Nossas adversidades, já não mais meras ansiedades.
Todos esses fatores são produto do medo.
O medo que corrói o desejo, inflama a vontade, machuca a alma, infla a insegurança, maltrata a liberdade e dispersa a unidade, nada mais é do que a vontade de ser feliz, acima de todas as coisas.Tremenda tolice, pois não existe mágica para a felicidade, sem medo. Não existe amor sem penar, sem medo.
O medo é essencial para todas as criaturas que se misturam em um ritmo delicioso, dançando conforme a canção, bailando conforme a linguagem, cantando conforme a letra. Não importa se esta letra já foi prosa, poesia ou se será eternidade.

24 maio 2007

Laços do Avesso

O avesso do avesso que se propõe.
É o sonho, que outrora foi espinho.
A rosa que agora é sonho de prosa
É a poesia que antes não tinha caminho.

O cochilo que tiro de olhos abertos,
Não passa de esboço utópico e sem dor.
O alimento de verdade...É apenas a verdade.
Meus olhos ainda não enxergam a flor. Ainda...

Presunçosos e pueris te vêem e te desenham;
Com a força da imaginação te transportam.
E sua presença física torna-se mero detalhe.

E é por isso, que eu acredito, pois mesmo
Tendo seu olhar distante do meu...sinto seu coração.
Em meus braços, em meus traços, em nossos laços.

23 maio 2007

Realidade Sonhadora

Sempre tive problemas para administrar os efeitos que a distância pode acarretar em meu comportamento.Ansiedade e angústia eram reações constantes, quando pensava que minhas diretrizes, minhas aspirações estavam a quilômetros daqui. Mas onde estou, afinal? Por que o espaço físico é tão relevante assim?
Antigamente, as inúmeras barreiras sociais e até mesmo devido à fantasia de viver uma grande história de amor, as pessoas se apegavam aos relacionamentos epistolais, que carregavam em sua essência, uma dose de utopia. Cada carta era um relato de como um sonho deveria ser realizado, ou até mesmo de como esse mesmo sonho era movido pela saudade... movido pela distância.
Na atualidade, as mensagens instantâneas, msn e afins, apenas substituem as cartas e a tinta das canetas - ou mais remotamente, as tintas que transbordavam nas penas - e as penas que escreviam as mesmas histórias.
Já ouvi de uma poetiza, que “A distância acerta sim... Às vezes não a pessoa certa, mas mais que isso, o coração de alguém que nunca se achou certo para amar. A certa pessoa, que também pode ser certa, está certa de que, ela pode ser a certa? Ou será que ela não acerta?”.
Tudo muito conflituoso.
E enquanto os casais que estão próximos se esbaldam do tocar, os casais epistolais, sejam eles novos ou antigos, se comprimem no penar, seja ele produto de um sonho, ou de uma série de imprevistos.
Hoje a poesia chorou.
A sua voz era o retrato de sua alma surrada pelos ecos do passado.
A prosa ficou triste e se calou... Encheu-se de preocupação.
Era para ser um dia de utopias... mas não é todo dia que as coisas acontecem exatamente iguais às nossas noites de sono.
A felicidade existe sim, mas ela não existe apenas nas datas especiais.
Jamais a prosa vai matar a poesia do coração... ainda mais hoje. Tampouco irá avisar quando resolver mata-la de afeto, para que ela não morra de véspera.Mesmo que ela não saiba o que dizer, aceito o agradecimento, pois ele é recíproco assim como os desejos doces que percorrem a distância de nossa realidade sonhadora.

22 maio 2007

0:01

O primeiro minuto de uma nova vida...
O passado até que insistiu em rondar teu lar ...
Mas, para ele temos a nossa canção bem peculiar, que se encaixou perfeitamente em nossa história.
Sim, aquela que parece mais parece um hino, mas que quando cantada com fé, não há quem segure...
Ao ficarmos 100%, nos unimos em um abraço terno...
Onde já se viu... Isso que acontece, quando damos prosa demais...
E pensar que tudo começou sem pretensão, sem dimensão, sem ascensão.
Os dias se passaram, as cicatrizes se curaram as verdades apareceram.
Enfim, organizamos nossos pensamentos, esclarecemos nossas idéias e acalmamos nossas mentes.
Aprendemos que ter, não é viver... Não satisfaz, não nos satisfaz. Não basta ter as pessoas próximas de si, mas sim senti-las, compreende-las e logo, ama-las.
Desaprumamos nossos instintos e abraçamos a calmaria tempestiva da poesia, pois descobrimos que ela pode esconder segredos de uma linguagem duradoura, quiçá, eterna.
Minha linguagem se encosta à tua, e isso é muito mais que o desejo de um beijo, é o puro prazer.
Linguagem de línguas desconhecidas que tem o louco poder de me beber como vinho em noite de inverno; de me machucar, quando não me faz gargalhar, e às vezes até sonhar.
Desses sonhos que só se realizam quando existe um efeito louco. Deixamos nossas vozes baixinhas, minimamente sonoras e escutamos o bater latejante de nossos corações. E voltamos a sonhar...
Viver, passou a ser uma mera burocracia, pois sabemos que existe algo bem maior nos esperando, e, que no fundo, passamos a completar a carga horária de nosso cotidiano, a espera de nossas realizações. A espera de nossos contos de fato. Realidade pura, nua, crua e saudável.
E, no esbanjar de sua saúde, sobra espaço para a saudade também.
Mas como um aluno dedicado, confio nos ensinamentos da vida. Confio nos professores da vida.
E tenho a chance e o gozo de dedicar singelas palavras a quem me ensinou a ser prosa.
Obrigado...
Por tudo...
Tudo mesmo...
Por tudo que você faz...
Por tudo que você fala (escreve)
Por me fazer tão feliz...
Por me iluminar...
Por ser tudo aquilo que eu estou a encontrar...
Obrigado.
Adoro-te de uma forma tão disforme que não posso expressar em palavras esse sentimento tão uniforme.
Descobri que quando indaguei “Quem és tu criatura?”, errei feio na formulação da frase. O correto seria “Quem és tu Felicidade?”, pois durante nossa eternidade você me fará feliz por dentro, por fora e pelo avesso, e isto é indubitável.
Tão incontestável quanto à alegria desse beijo que agora te dou na ponta direita de sua boca, afinal não sou canhoto. E do lado esquerdo já basta o coração, que transborda de alegria e de esperança.

21 maio 2007

Conto de Fato

Há muito tempo atrás, em uma sociedade privilegiada pela globalização – não tão distante da nossa - civilizações e cidadãos podiam se encontrar tranqüilamente, com apenas o simples gesto de abrir a fresta de uma janela. O sol, que irradiava o ambiente era resultado de dias e dias, às vezes, anos de uma construção afetuosa e cúmplice. Um piscar, sempre será um piscar. Mas um piscar irradiante pode ser o início de uma trama dolorosamente saudável. Dor que acalenta qualquer coração. E que transcende qualquer barreira.
Piscar ao acaso... para o acaso, bote ser letal. Se estiver perdido qualquer dia e entrar em uma locadora, assim como os povos antigos faziam, e tentar locar um filme “escapista”, ou uma obra que aguce o nosso lado“pensante” , poderá ouvir ao fundo uma canção que harmoniosamente clame “I Wish You Were Here”. Fará um tempo, conversará com a atendente do local, e elogiará a bela música. Quem sabe, num aparece um velho conhecido, daqueles dos tempos de colégio... vai saber ... vivemos de incertezas e de pequenas manifestações do caos, muito semelhante ao efeito borboleta.
O caos nada mais é que a voz que ecoa na escuridão. O grito que se escuta ao longe, ao lado dos trovões. Aquela cinza que cai do céu... A lágrima no rosto das multidões e a alma sabor de fel. A beleza da consciência humana e o prazer de uma vida urbana, turbulenta e atroz.
E foi em meio a esta confusão, em meio a esta complicação que a poesia surgiu. De início, tímida e reticente. O que fez com que o a prosa entendesse que aquele não era o momento oportuno para um elo.
Mas as sucessões de fatos e turbulências uniram os verbos da prosa e da poesia, tornando-as uma obra única. Obra comum de dois, que se confunde quando é enunciada, mas que sempre resiste com vigor e orgulho, pois o verão já terminou faz tempo, e o coração continua a bater; os olhos continuam a sorrir; e as mãos continuam a sonhar.
Não existe conto de fadas.
Não existem príncipes nem princesas.
Existem sapos e anseios.
Anseios que nos aproximam ao aconchego do peito e balbuciam palavras amenas, como “brisas suaves” e nos levam ao reino dos “bons ares”.
Eis que a sociedade e os cidadãos começam a entender seus pequenos conflitos.
O sol volta a organizar nossos pensamentos... Esclarece nossas idéias e acalma a nossa mente, para que enfim possamos deixar o coração novamente livre para bater forte e com um rumo.Fugimos desta confusão...Desaprumamos nossos instintos e abraçamos a calmaria tempestiva da poesia, pois ela pode esconder segredos de uma linguagem duradoura, quiçá, eterna.
Somente assim, a prosa será um conto de fato.

20 maio 2007

O Sol Sempre Nascerá

Dissera com suas aprazíveis e desconcertantes palavras, que aqui estava... perdida entre o 'eu', o 'vós' e o 'nós', pois mais singular que o eu, e o nós, somente o mestre Cartola, que no ápice de seu conhecimento empírico-sentimental proferiu:

“Nada consigo fazer
Quando a saudade aperta
Foge-me a inspiração
Sinto a alma deserta
Um vazio se faz em meu peito
E de fato eu sinto
Em meu peito um vazio”

Eu, mais tu é igual a nós... e o eles não são pessoas, se indefinem na fortaleza da junção entre dois pronomes, que juntos remetem sabedoria dos deuses ... Nossa poesia que se formou de prosa vai a loucura, me faz como que num leve passo de dança, cantar solista as lágrimas do que minh'alma me questiona... Minha poesia , não é mais bela... a rosa do mestre que murchou... 'as rosas não falam ... Ai, devias vir para ver os meus olhos tristonhos...'não sei mais o que poetizar, Agua a água salgada que aqui rola, e umedece meu sorriso...nem sei se de alegria, ou de poesia...
Que Foucalt me acompanhe, Nietzsche me estude, e Cartola nos encante!

Além disso, não posso dizer mais nada...
Afinal ... são palavras roubadas...

E, agraciado, não desejo descordar de uma única palavra, pois a alegria sublime que me conforta neste instante, supera todas as divergências lógicas que impedem que o amanhã se abra de forma mais intensa e radiante.

“Presta atenção querida, embora eu saiba que estás resolvida, em cada esquina cai um pouco a tua vida, em pouco tempo não serás mais o que és”.
(Angenor de Oliveira)

17 maio 2007

Incertas Palavras

Oh, doce encanto, vil.
Viu, em um canto, do cê.
Aquele, qui nunca mais vortemo.
Aquário, que tu nunca dexô eu nadá.
Eu era peixe sem disova.
Agora so encanto de cova.
Doce qui amarguéce.
Amargo qui escurece.
Nado, e inté agora nada.
Ando, e inté o agora, se anda de mim.
Foge, sem dizer pronde.
Aparece, e num piscão se esconde.
Pisca, mas num pisca pra eu.
Dança, mas num dança pra eu.
Come, mas num come de eu.
Ah, se ela sorbesse da minha fome.
Ah, se ela assinasse iguar meu nome.
Ah, se o sonho dexasse de se sonho.
Ah, se o verbu fizesse parte da puisia.

15 maio 2007

Quem és tu criatura?

Quem és tu?
Descobristes hoje que não é mais Poesia?
Entendeu de fato as artimanhas e ciladas de quem se arrisca?
De onde vieste?
Por que vistes?
Por quem vistes?
Por que se vai?
Lembro-me das nossas primeiras palavras, quando ainda conjugávamos os verbos na escuridão. Nossos encontros pareciam-se sessões de descarrego. As lágrimas que escorriam, purificavam e cristalizavam nossas almas.
Nos fortalecemos e começamos a escrever nossa história em páginas semelhantes às de nossas vidas.
Cada rabisco, cada amassado, cada arranhão serviu para unir nossas palavras e catalisar nossos pequenos desejos, nossos pequenos negócios.
Como gente grande amadurecemos, mas a nossa dor nos acompanhou.
Não aprendestes a se desgarrar dela, e, acima de tudo, não cicatrizou o passado recente que ainda está em seus ombros?
Uma semana após o fim, nos conhecemos.
Uma semana de sentimentos mútuos foi necessário para unir nossa essência e torná-los indispensáveis.
Mas quem és tu?
Quem estas por trás dessa saudade?
Essa mesma saudade que reflete o ritmo da poesia, fruto da estrela comum de dois, e que nos fez sentir as palavras que compõem a poesia de nossas almas.
Se hoje estou desnorteado é porque ainda não sei quem és tu criatura.
Não sei se é grande sonho que resiste ao tempo e as melodias falsas. Não sei se é suspiro tépido e cadente.
Não sei se estaremos juntos até o crepúsculo de nossa existência.
Não sei se o amanhã se abrirá.
Não sei se a prosa se curvará.
Não sei se a poesia virá.
Certifico-me de que ainda tenho forças para dar um último suspiro, e sinto as palavras em meu colo. Lembro-me que outrora a essência da minha vida não foi perdida com o tempo, nem levadas pelas ondas, muito menos pelo vento.O fogo ainda não se apagou. Existe uma pequena chama acesa que me aquece e me protege do frio.
Continuo a acreditar que o sorriso é o mérito de sua voz: doce e racional. Ácida e sentimental. Decidida e carente. Virtuosa e Dolorida.
Posso até descobrir que meu verbo não faz parte de nossa poesia.
Mas ... Afinal ...
Quem és tu criatura?

13 maio 2007

Com a ajuda de Graham Bell

Enquanto a tentação paira sobre meus olhos, as lembranças de um amanhã tempestivo e ameno me conduzem ao teu lar.
Hoje estou seguro de que não existe força mais sólida de que a poesia.
Grande sonho que resiste a tempo, espaço e melodia falsa, porque bailo sob o som de uma linguagem que não sabe mais se é ritmo, ou poesia.
Apenas tem a ciência de que a métrica deste conflito não será afetada, pois o afeto desta construção não existe em nenhum idioma. Somente as nossas línguas ansiosas em se tocarem, as compreendem.

11 maio 2007

Raso, vaso, espinho e flor.

Cansei de ser raso.
Cansei de ser vazo.
Cansei de ser espinho.
Cansei de ser flor.
Sou tudo e nada com a mesma intensidade.
Sou fonte e poço, com a mesma profundidade.
O telefone toca.
Espero, enquanto a poesia deita-se para recompor sua inspiração.
Sob sua mente, a lua encandece seu espelho, distante, mas reflete seu suspiro tépido e cadente entre a luz de uma estrela que é comum de dois.
Não é do seu e não é do meu, a poesia é sutil, pois faz de nós instrumento da linguagem, porque eu não sei mais se sou eu, ou se sou palavra.
Regenerado, levanto a cabeça já sem medo de encosta-la nas nuvens. Meu pensar, meu tormento, meu contemplar, unidos transformam o céu acinzentado em uma aurora doce, que nem sente mais o dissabor de quem erra.
Errar é o preço daqueles que não vivem na mediocridade rasa, que transgridem a feição mais clichê dos sentimentos, e que de forma pitoresca questionam os dogmas impostos pela razão e pela moral vigente.
Quero errar sempre.
Quero viver cansado.
Quero esquecer do que é sagrado. Faço essa ressalva, pois as palavras mais sacras e cristalinas da nossa cumplicidade, não desaparecerão enquanto acreditarmos no mesmo sonho, e adaptarmos à nossa realidade, para que eles durem até o crepúsculo de nossa existência.

10 maio 2007

Notícia de última hora

A poesia virá.
A prosa se curvará.
O amanhã se abrirá.
Pode ser ilusão mesmo, já não me importo.
Pela escolha de viver desiludido, colho os frutos da incerteza. Vivo de risco e risco o fósforo que está em suas mãos. Ele que incendeia a pequena chama que estava escondida em mim.
A poesia me deixa feliz por dentro..por fora..pelo avesso...
Suspiro...deixo que ela respire minhas palavras... e aspire meu ar, para as suas inspirações.
Complicado no início, divergente no meio, preciso no fim.
Eis a escolha, eis a escala, eis a escola.
E nessa escola, quando me diziam que era sapo, afirmava que ainda tinha muito a aprender neste brejo insano, chamado vida. Contudo, hoje estou pronto para respirar fundo e fechar os olhos, esquecendo a tolice de ser príncipe e me orgulhando de ser um novo sapo.
Poesia: venha e se perca comigo em nosso brejo.

09 maio 2007

Honra ao Mérito

Sinto as palavras em meu colo. Por mais que esteja frio, hoje tenho que sair com elas. Balanço meus braços de um lado a outro, na intenção de acalentar o frio que é inevitável, pois decidi sair e enfrentar o caminho das contradições e percalços.
A essência da minha vida não foi perdida com o tempo, nem levadas pelas ondas, muito menos pelo vento.O fogo ainda não se apagou. Existe uma pequena chama acesa que me aquece e me protege do frio. Por isso, concordo plenamente quando dizem que para amar as palavras, basta senti-las. Não me precipito em dizer que são elas de amor, por que nem eu tenho certeza do mesmo. São apenas palavras... O poder está no toque de suas palavras, no toque macio que lavam meu sofrer... Meu penar... No toque de nossas linguagens.
Já tentei esquecer o real significado do amor.
Já tentei ludibriar a veracidade das palavras.
Já tentei encontrar racionalidade em coisas feitas por seres pacionais.
Mas a única palavra que surge após estas tentativas é o fracasso.
Sim, um fracasso com gosto de sucesso, pois a felicidade que transborda dos olhos de quem ama, é tão sincera quanto a lágrima que escorre do peito de quem permite se confundir com o mérito de nossa voz: o sorriso.

08 maio 2007

Desilusão?

Enquanto pensava que sua tristeza era apenas uma gota d'água, diante do infinito mar que se escondia em seu sorriso, não relevava que a singela esperança poderia ser apenas mais um fruto da ilusão.
Apenas mais uma desilusão tola e infantil, que tem como verdadeiro o encanto ao invés da racionalidade.
Mas não. Ela é doce e racional. Ácida e sentimental. Decidida e carente.
Vive também de contradições. E isso sim é desilusão.
Saber que estás à espera de uma resposta, que se consome na ânsia de um comentário, me deixa desiludido.
Honestamente pensara que toda aquela fragilidade não se passava de um momento de deslize de sua racionalidade. Mero engano.Sua fortaleza se fortifica na incoerência entre os seus atos e suas palavras.
Quando alguém consegue transformar um dia péssimo em um dia encantador, esse alguém merece uma atenção especial; Entretanto, se tens o dom da transformação apenas com as palavras devemos multiplicar a atenção.
Nessa matemática nada exata, questões e problemas se somam, mas as novas palavras que surgem, os neologismos, nos transportam à outra sala de aula. Letras e ensinamentos mútuos nos contemplam com a nota máxima, quando tínhamos tudo para sermos reprovados.
Certa feita disseram-me que eu tinha tudo para viver chorando. Mas é por momentos assim, que a tristeza se perde, a alegria nos encanta, e a tristeza se abraça com a desilusão, pois “quando os sentimentos adquirem lógica é porque desconsidera-se o lado sentimental”.

04 maio 2007

Bruços

Debruçado, solitário no afago da dor.
Contaminado pela tolice vã do amor.
Foragido dos sonhos mais deliciosos,
E indiciado pelo crime de ter fé.

Coexiste a ignorância de quem acredita,
E a pureza de quem sempre se habilita.
Constantes são seus desejos alucinógenos,
Determinado pelo tempo, não foi, apenas é.

Não sabe até quando sua alma existirá.
Mas com bravura, vive sem se encontrar.
Tropeça, esbarra, vive de marra, vive na farra.

Levanta, se encanta, se espanta com o sol.
A noite, sem açoite, debruça sobre o farol.
No horizonte, não vê mais medo. Vê apenas seu segredo.