30 maio 2006

Vai...

Vai garoto feliz, que se esqueceu da dor de quem te abandonou, antes mesmo de te dar a chance de entrar na tua vida.
Vai garoto feliz, que sobrevive à "guerra civíl branca" que se instaurou em tua cidade.
Vai, sem medo de voltar ao trabalho daqui a pouco, pois tu sabes que aquilo lá não foi feito pra ti.
Vai esperança, carrega consigo o desejo de transformar o mundo , transformando apenas uma parcela dele. Apenas um pedacinho de terra, um pedacinho da Terra.
Vai garoto feliz, cola na banca e se arrisca, pois não dá mais para viver de incertezas.
Vai garoto, corre garoto, abraça a felicidade, deixa que as lágrimas sequem os devaneios e desventuras.
Vai garoto, hoje você zerou.
Vai garoto, hoje você é um homem feliz.

23 maio 2006

Arquivo n° 15 33

Os Bin Laden Paulistanos

Durante dois anos o Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Segurança Pública, negociou indiretamente com os líderes do PCC(Primeiro Comando da Capital) a chamada sensação de segurança, que pairou sobre as terras paulistas.
Por mais que existissem casos de violência, a situação sempre parecia estar sobre controle, pois as autoridades competentes jamais deixavam transparecer à opinião pública o total desgoverno e submissão ao crime organizado.
Lógico que nenhuma informação dessa é confirmada, mas na atual estrutura do Estado em relação a segurança e políticas públicas, não é difícil de se imaginar tal acordo.
O PCC surgiu em 1993 e no começo era apenas um grupo isolado, que tinha o intuito de organizar os presos e as lideranças dentro dos presídios. O tempo passou, três líderes estiveram no comando da facção(Cesinha, Gelião e Marcola) e a dependência das autoridades só aumentou.
O que era para ser um tranqüilo final de semana de dia das mães, se transformou em um confronto sangrento entre criminosos cada vez mais organizados, e uma polícia cada vez mais desmotivada.
Na quinta-feira com a transferência de 765 presos para o interior, entre eles o líder do PCC Marcola, iniciou-se uma onda de ataques a bases comunitárias da PM, delegacias, bancos, incêndios de carros, de ônibus e assassinatos a policiais, muitos destes à paisana.
A Secretaria de Segurança divulgou na tarde desta segunda-feira seus últimos números*: 180 ataques, 91 bandidos presos, 38 suspeitos mortos e baixa de 49 PMs.
Hoje estava vendo os desabafos dos parentes das vítimas na televisão, e uma das pessoas indagou: “Onde estão os direitos humanos? Cadê aquelas instituições que defendem os direitos humanos para bandidos?”.
Bem, infelizmente eu não sei onde elas estão agora, mas sempre estiveram presentes desde 1992, quando no outubro vermelho, o Carandiru foi o palco do massacre de mais de 100 pessoas. Sim, os famosos bandidos que antes foram caça e que hoje são caçadores.
Não estou aqui para dar uma de jornalista de coluna policial, muito menos para bancar de defensor do crime organizado.

Quero falar apenas do que eu sei.

Sei que minha agência foi metralhada nesta madrugada e meus amigos estão trabalhando quase em estado de pânico.

Sei que as pessoas que estão agindo nesses atentados, os chamados “Bin Laden Paulistanos”, não têm nada a perder, e muitos deles fazem estes ataques para pagar dívidas com seus chefes, sabe-se lá quem são.

Sei que todos falam da questão da segurança, no qual o Estado tem sido extremamente falho, frágil, quase uma piada. Mas por que não falam do Estado falho e frágil na Educação, na Cultura, no Lazer, no Entretenimento?

Sem ações sociais de base, estruturais e concretas, sempre existirão motins e rebeliões contra este Estado desigual. E não adianta dizer que: “é tudo coisa de bandido!”

Quando se tira uma vida, nenhum argumento é tão convincente a ponto de dar razão a quem mata.

Porém, quando um ser humano tem uma vida completamente as margens da felicidade, não tem nada de valioso que justifique sua existência, nenhum conceito de família, de amor, de respeito, é excluído pelo Estado e pela mesma sociedade que agora está em pânico: Qual é o sentido de ser alguém que respeita as leis vigentes?

Será que é justificável viver as margens da lei?

Será que é justificável ser um marginal?

Enquanto os tiros ecoam lá fora e a guerra recomeça, eu me retiro para acompanhar pela televisão a verdadeira batalha da “cobertura” dos fatos que neste momento são notícia no Brasil.

É Parreira, não foi dessa vez que você conseguiu chamar tanta atenção, mas valeu pelo Rogério Ceni ter sido convocado.

Sim, “bola pra frente!”, e um hexa seria uma ótima operação para cicatrizar a memória da nossa sociedade.


* Texto do dia 15/05/2006, com os dados da tarde em que São Paulo ficou sitiada.

12 maio 2006

Hora de Zerar

Após inúmeras tentativas sem sucesso, este rapaz, incansável aprendiz, que em sua estúpida presunção confunde liberdade com felicidade, confessa em um grito (quase abafado pelo silêncio de sua alma), que não dá mais.
Como diria um ilustre amigo: é hora de zerar.
Não se trata de uma crise existencial, tampouco uma crise da meia-idade(Deus, Alá, Buda, ou sei lá mais quem deixem que eu chegue até lá). Trata-se de um momento de introspecção, um período no qual os conceitos pré-existentes ganham um sentido conotativo, pois na fase em que se zera, não existem pressupostos que sejam plausíveis, verdades absolutas, ou lógicas que direcionem a mente a um sentido determinado.
Tudo é novo, e tudo é válido.
É tempo de rabiscar, rasurar, experimentar, brincar de ser criança, com a sobriedade e peso que estes vinte e tantos anos impuserem neste ombro que agora se amolece. Estou sóbrio, não por que em meu sangue não corre uma gota sequer de álcool, e sim porque desejo ver com toda a lucidez, o tamanho do rombo e estrago que foram feitos em minha alma.
O corpo já começou a cambalear. Sei que ainda agüento muitos anos nessa vida degenerada, mas pra quê?
Até quando vai ser bonito dizer “Até Quando!?” e não tomar uma atitude clara para que isso mude?
Em nenhum momento poderei reclamar do padrão de vida que tenho e que levo hoje, mas essa é uma vida que escolhi e que agora se renega a ir embora.
Sou livre, e esta constatação é uma antítese de felicidade para um espírito ferido.
Quanto maior é a liberdade do indivíduo, maior é a dimensão da dor que atinge sua vivência.
Outrora, achava conveniente dizer que a verdadeira felicidade estava nos braços daqueles que são livres.
Hoje, pelos calos e tombos da vida, e por todos os ferimentos do espírito, acredito sinceramente que sem um constante processo de reciclagem não é possível encontrar a estabilidade do corpo, da mente, do coração e da alma.
Brincando tínhamos o costume de dizer: “Você pra mim é um lixo!”, e esta frase não era superlativa ou falsa.Talvez uma pequena confissão, ou acusação que soava como comentário ingênuo, mas que no seu contexto subliminar, nos julgava e nos punia com a verdade.
Mas como diria a Senhorita Lee: “Não quero luxo nem lixo”.
Quero justamente zerar o placar que diferencia luxo de lixo, angustia de carência, esperança de medo, solidão de conveniência e liberdade de felicidade.
E quando estiver zerado, limpo e purificado quero enfim empatar a felicidade e a liberdade, numa carência tola chamada amor.

07 maio 2006

Perfil II

Mais um perfil que se vai...

Com mais meia dúzia de crises existenciais, conseguirei chegar perto de um esboço do que serei um dia. Verei meus modelos antigos, minhas velhas ideologias, as convicções as quais eu acreditava e os sonhos que não se realizaram.Analisarei tudo de forma racional (minha nova postura) e esquecerei os devaneios de um simples cara complicado, que busca o equilíbrio sempre desequilibrado.Na verdade este estereotipo de simplicidade complexa não passa da constatação de que sou um eterno paradoxo e que tenho muito a aprender.Sou um aluno da vida, mas mesmo assim sei que essa tal razão que agora determina minhas ações, jamais será tão libertária quanto a emoção de ser feliz.

"Enquanto não souberes morrer e renascer, serás um viajante aflito a errar na terra escura."

Goethe

03 maio 2006

Brisa

"Quanto mais acredito que estou longe do furacão, mais os moinhos de vento me levam ao caos que você deixou, quando pensava que era apenas uma brisa de verão".


Eduardo Ferreira, que sinceramente quer saber quando essa ventania vai acabar.

02 maio 2006

Cadastro das Almas

A Primeira Convenção Anual dos Cupidos e Pombos-Correio, terminou há poucos dias e tenho em mãos, em um furo de reportagem que deixaria qualquer Cesar Tralli da vida embasbacado, a ata deste importantíssimo encontro.

Entre os inúmeros assuntos abordados, os membros do conselho geral da convenção estabeleceram a criação de um cadastro geral das almas que vagam diariamente em busca de um relacionamento duradouro e, que resista às utopias impostas pela realidade indigesta da vida.

Os requisitos necessários para que uma alma seja cadastrada são os seguintes:

- Deixar o espírito libertário de uma pessoa solteira ser peça fundamental da construção do casal;
- Aniquilar a idéia de que perdemos a nossa liberdade quando estamos compromissados;
- Compreender que é possível viver em harmonia de gostos e costumes divergentes, pois não existe até o presente momento da história humana, um casal clonado em laboratório.
- Compartilhar a idéia de que, duas vidas juntas, tendem a somar forças, e que a partir do momento que começarem a se colidirem ou se anularem é melhor cada um procurar outro caminho;
- Em hipótese alguma sair em busca do entendimento do amor, pois quanto maior for o número de teorias e idéias que se consolidam a respeito destes mistérios, maior será o número de corações fragmentados, pois a razão neutraliza os impulsos apaixonados da emoção.

Os interessados em participar deste Cadastro devem comparecer ao exame de consciência mais próximo da sua essência, e preparar o espírito para um momento ilusório, mas que certamente iniciará uma série de mutações nos olhares, sorrisos e desejos daqueles que resistem e não conseguem fechar os olhos e vencer os obstáculos do primeiro sonho: Viver.